Filme exibido na 30ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Eu não deveria falar nada sobre este filme. É difícil explicar o seu valor sem incorrer em vários “spoilers” – isso se eu pretender fazer uma crítica nos moldes jornalísticos, ou seja, uma orientação que ajudará o espectador a decidir se verá ou não o filme. Agora, se for o caso de escrever aqui uma análise, então eu me armarei de todo o instrumental dissecatório próprio à tarefa. Não obstante, uma “análise” também destruiria sensivelmente a experiência do filme.
Assim sendo, a melhor recomendação que eu faço é: assista ao filme! Deixe-se envolver por seus ambientes – que o diretor, apresentando de corpo presente a sua exibição ontem (22/10) no Cine Bombril, chamou de “quiet places” –; seus personagens e suas histórias – o realizador disse que o filme é bem pessoal. Enfim, viva o filme, pois isso é o que ele tem de melhor a oferecer. Mais do que reflexões (compostas, por exemplo, por intertítulos – à maneira dos filmes mudos – com citações filosóficas recitadas pela voz do protagonista) ou emoções (em algumas cenas-chave, especialmente no final), o filme traz e propõe uma vivência, uma experiência – tal qual a dos personagens – íntima, forte, reveladora e transformadora.
O peso da experiência singular (no caso, um trauma, uma tragédia) pode nos paralisar, mas finalmente acabará por nos transformar. É o que acontece com os personagens do filme, especialmente com o protagonista. E o aspecto sensível da experiência já está destacado no título: “A Sensação de Ver”, que será explicado no final da exibição. A situação imperativa que se coloca aos personagens não é a do “aprender a ver” (tema já banal em narrativas psicológicas e filosóficas), mas sim a do lidar com o impacto causado pela imagem vista; processar na mente e no coração todo o peso de uma determinada visão chocante é um trabalho dos mais árduos, porém, não é ingrato – o aprendizado e a transformação que decorrerão daí são incalculáveis para o indivíduo. O filme se pauta pelo “Why?” (“Por que?”) e conclui que, para certas coisas, não devemos “bitolar” nos porquês, o melhor é simplesmente vivenciá-las de maneira bem estóica e deixá-las passar.
A tragédia testemunhada visualmente pelo protagonista é o estopim e o centro da discussão, que se estende a outras pessoas com quem ele e a vítima da tal tragédia têm contato.
Bem, já estou falando muito sobre o filme. Agora já era! Falarei ainda mais, mas sempre tomando o cuidado para não estragar a experiência do filme (apesar de que, se você ler este texto inteiro, uma parcela dessa experiência já vai “pro saco” de qualquer jeito; o ideal é assistir ao filme sem nunca ter lido ou ouvido falar coisa alguma sobre ele, ignorando completamente a sua existência, tal como eu fiz ontem).
A Sensação de Ver (“The Sensation of Sight”, EUA, 2006) está na mostra competitiva de novos diretores, dentro da 30ª Mostra de São Paulo. É o longa-metragem de estréia de Aaron J. Wiederspahn (autor também do roteiro), que já cantou em bandas de rock obscuras. O elenco é encabeçado pelo veterano David Strathairn (indicado ao “Oscar” de melhor ator por Boa Noite, e Boa Sorte, de George Clooney), Ian Somerhalder (o “Boone”, do famoso seriado de TV Lost), Daniel Gillies (Spiderman 2) e Scott Wilson (C.S.I.).
A produtora deste filme – Either / Or’s, fundada pelo próprio Aaron J. Wiederspahn e por Buzz McLaughlin (produtor de “A Sensação de Ver”) – tem como missão “criar filmes que desafiem, provoquem, e alimentem a audiência oferecendo histórias de esperança, redenção e cura”, conforme consta na página da “Either / Or’s” na Internet. Buzz McLaughlin explica: “Nós procuramos produzir filmes que coloquem as pessoas no mundo real, pessoas que estão lutando ou em problemas: essas histórias centradas em personagens tomarão um protagonista em uma jornada para um lugar de cura e esperança definitivas. Nós não buscamos necessariamente produzir filmes que façam as pessoas se sentirem bem, queremos antes contar histórias que lidam com as duras realidades da vida”. A Sensação de Ver encaixa-se bem dentro dessas propostas. É muito comum, nas mostras e festivais de cinema, tornarem-se mais queridinhos os filmes mais sócio-políticos, ou politizados (caso de O Crocodilo, de Nanni Moretti; de The Wind that Shakes the Barley, de Ken Loach; de Babel, de Alejandro González Iñarritu; de Caminho para Guantánamo, de Michael Winterbottom e Mat Whitecross; etc). Só pra ser do contra: meu voto vai para filmes “pequeniloqüentes” como A Sensação de Ver.
Eu não deveria falar nada sobre este filme. É difícil explicar o seu valor sem incorrer em vários “spoilers” – isso se eu pretender fazer uma crítica nos moldes jornalísticos, ou seja, uma orientação que ajudará o espectador a decidir se verá ou não o filme. Agora, se for o caso de escrever aqui uma análise, então eu me armarei de todo o instrumental dissecatório próprio à tarefa. Não obstante, uma “análise” também destruiria sensivelmente a experiência do filme.
Assim sendo, a melhor recomendação que eu faço é: assista ao filme! Deixe-se envolver por seus ambientes – que o diretor, apresentando de corpo presente a sua exibição ontem (22/10) no Cine Bombril, chamou de “quiet places” –; seus personagens e suas histórias – o realizador disse que o filme é bem pessoal. Enfim, viva o filme, pois isso é o que ele tem de melhor a oferecer. Mais do que reflexões (compostas, por exemplo, por intertítulos – à maneira dos filmes mudos – com citações filosóficas recitadas pela voz do protagonista) ou emoções (em algumas cenas-chave, especialmente no final), o filme traz e propõe uma vivência, uma experiência – tal qual a dos personagens – íntima, forte, reveladora e transformadora.
O peso da experiência singular (no caso, um trauma, uma tragédia) pode nos paralisar, mas finalmente acabará por nos transformar. É o que acontece com os personagens do filme, especialmente com o protagonista. E o aspecto sensível da experiência já está destacado no título: “A Sensação de Ver”, que será explicado no final da exibição. A situação imperativa que se coloca aos personagens não é a do “aprender a ver” (tema já banal em narrativas psicológicas e filosóficas), mas sim a do lidar com o impacto causado pela imagem vista; processar na mente e no coração todo o peso de uma determinada visão chocante é um trabalho dos mais árduos, porém, não é ingrato – o aprendizado e a transformação que decorrerão daí são incalculáveis para o indivíduo. O filme se pauta pelo “Why?” (“Por que?”) e conclui que, para certas coisas, não devemos “bitolar” nos porquês, o melhor é simplesmente vivenciá-las de maneira bem estóica e deixá-las passar.
A tragédia testemunhada visualmente pelo protagonista é o estopim e o centro da discussão, que se estende a outras pessoas com quem ele e a vítima da tal tragédia têm contato.
Bem, já estou falando muito sobre o filme. Agora já era! Falarei ainda mais, mas sempre tomando o cuidado para não estragar a experiência do filme (apesar de que, se você ler este texto inteiro, uma parcela dessa experiência já vai “pro saco” de qualquer jeito; o ideal é assistir ao filme sem nunca ter lido ou ouvido falar coisa alguma sobre ele, ignorando completamente a sua existência, tal como eu fiz ontem).
A Sensação de Ver (“The Sensation of Sight”, EUA, 2006) está na mostra competitiva de novos diretores, dentro da 30ª Mostra de São Paulo. É o longa-metragem de estréia de Aaron J. Wiederspahn (autor também do roteiro), que já cantou em bandas de rock obscuras. O elenco é encabeçado pelo veterano David Strathairn (indicado ao “Oscar” de melhor ator por Boa Noite, e Boa Sorte, de George Clooney), Ian Somerhalder (o “Boone”, do famoso seriado de TV Lost), Daniel Gillies (Spiderman 2) e Scott Wilson (C.S.I.).
A produtora deste filme – Either / Or’s, fundada pelo próprio Aaron J. Wiederspahn e por Buzz McLaughlin (produtor de “A Sensação de Ver”) – tem como missão “criar filmes que desafiem, provoquem, e alimentem a audiência oferecendo histórias de esperança, redenção e cura”, conforme consta na página da “Either / Or’s” na Internet. Buzz McLaughlin explica: “Nós procuramos produzir filmes que coloquem as pessoas no mundo real, pessoas que estão lutando ou em problemas: essas histórias centradas em personagens tomarão um protagonista em uma jornada para um lugar de cura e esperança definitivas. Nós não buscamos necessariamente produzir filmes que façam as pessoas se sentirem bem, queremos antes contar histórias que lidam com as duras realidades da vida”. A Sensação de Ver encaixa-se bem dentro dessas propostas. É muito comum, nas mostras e festivais de cinema, tornarem-se mais queridinhos os filmes mais sócio-políticos, ou politizados (caso de O Crocodilo, de Nanni Moretti; de The Wind that Shakes the Barley, de Ken Loach; de Babel, de Alejandro González Iñarritu; de Caminho para Guantánamo, de Michael Winterbottom e Mat Whitecross; etc). Só pra ser do contra: meu voto vai para filmes “pequeniloqüentes” como A Sensação de Ver.
(continua no post abaixo)
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