Inland Empire (ainda sem título em Português). EUA, Polônia, França, 2006. 172 min.
Direção: David Lynch.
Elenco: Harry Dean Stanton, Jeremy Irons, Julia Ormond, Justin Theroux, Laura Dern, Michael Paré, Naomi Watts, William H. Macy, Mary Steenburgen, Nastassja Kinski, Laura Harring.
Data de estréia: Sem data de estréia no Brasil. A primeira exibição nos EUA acontecerá no New York Film Festival, em 08 e 09 de outubro de 2006. O filme ainda não tem distribuidor nos EUA.
David Lynch recebeu recentemente o Leão de Ouro no Festival de Veneza pelo conjunto da sua obra. “Inland Empire” teve sua primeira première lá. Durante a conferência de imprensa, um jornalista, depois de ver o filme, perguntou, irônico: "Como é que tem passado estes dias, Mr. Lynch?" O jornalista deve ter pensado que, para fazer um filme desses, David Lynch não devia andar muito senhor de suas faculdades mentais. O diretor respondeu, rapidamente, que tem passado bem, e agradeceu. Em uma outra entrevista – fora do Festival – o cineasta confessa: "Uma vez fui consultar um psicanalista, um homem delicioso, e perguntei-lhe se a análise podia afetar a minha criatividade. Ele respondeu-me honestamente que isso podia acontecer. Então despedi-me, apertei-lhe a mão e deixei o consultório".
Esses “causos” já nos dão idéia do que esperar do mais novo rebento de Lynch: “Inland Empire”. Sabendo apenas a premissa básica do filme, David Lynch começou a rodá-lo sem roteiro algum. Ele escrevia cada cena apenas momentos antes de realizá-la. Levou 3 anos para fazer o filme, mesmo no formato DV. Aliás, este é o primeiro filme do diretor em Digital Vídeo. Ele declarou que não vai mais filmar em película; está entusiasmadíssimo com as novas tecnologias digitais.
O que pode-se afirmar sobre a intriga é o seguinte: a atriz casada Nikki (Laura Dern, que já trabalhou com Lynch em Coração Selvagem, de 1990, e Veludo Azul, de 1987) recebe um papel em um filme a ser dirigido por Kingsley (Jeremy Irons). Ela descobre, em seguida, que esse filme é o remake de uma outra fita, inacabada, pois os atores protagonistas tinham sido assassinados durante o trabalho. O par romântico de Nikki chama-se Devon (Justin Theroux, o azarado cineasta em Cidade dos Sonhos, de 2002). A personagem de Nikki é Sue, a de Devon é Billy. Os dois atores, na “vida real”, acabam indo para a cama um com o outro. Então, começam a chamar um ao outro pelos nomes de seus personagens no filme. Daí em diante, é impossível saber se Nikki é na verdade Nikki ou Sue...
O nome “Inland Empire” faz referência a uma região no sul da Califórnia que reúne as cidades mais antigas do lugar. A maior parte do filme foi rodada na Polônia, com atores locais. Alguma coisa também foi filmada em Los Angeles, mas é impossível determinar o quanto foi feito na região californiana de “Inland Empire”, pois Lynch nunca obteve as permissões necessárias para filmar em interiores e exteriores.
Esta é a continuidade das experiências temáticas e formais do diretor – onde se destacam os anteriores Cidade dos Sonhos e A Estrada Perdida (1996). Mas “Inland Empire” parece ser ainda mais radical, emulando o experimentalismo obsessivo de seu primeiro filme, Eraserhead (1977). Tudo indica que o filme mais recente do cineasta de Homem-Elefante (1983) é uma coleção não-roteirizada de imagens e fatos bizarros e de um surrealismo alucinatório. Por exemplo: a atriz Naomi Watts (de Cidade dos Sonhos) dá voz a um personagem com corpo humano e cabeça de coelho. Reconhecemos também, na sinopse, a discussão metalingüística sobre o universo do cinema, particularmente o de Hollywood, também presente em Cidade dos Sonhos.
Direção: David Lynch.
Elenco: Harry Dean Stanton, Jeremy Irons, Julia Ormond, Justin Theroux, Laura Dern, Michael Paré, Naomi Watts, William H. Macy, Mary Steenburgen, Nastassja Kinski, Laura Harring.
Data de estréia: Sem data de estréia no Brasil. A primeira exibição nos EUA acontecerá no New York Film Festival, em 08 e 09 de outubro de 2006. O filme ainda não tem distribuidor nos EUA.
David Lynch recebeu recentemente o Leão de Ouro no Festival de Veneza pelo conjunto da sua obra. “Inland Empire” teve sua primeira première lá. Durante a conferência de imprensa, um jornalista, depois de ver o filme, perguntou, irônico: "Como é que tem passado estes dias, Mr. Lynch?" O jornalista deve ter pensado que, para fazer um filme desses, David Lynch não devia andar muito senhor de suas faculdades mentais. O diretor respondeu, rapidamente, que tem passado bem, e agradeceu. Em uma outra entrevista – fora do Festival – o cineasta confessa: "Uma vez fui consultar um psicanalista, um homem delicioso, e perguntei-lhe se a análise podia afetar a minha criatividade. Ele respondeu-me honestamente que isso podia acontecer. Então despedi-me, apertei-lhe a mão e deixei o consultório".
Esses “causos” já nos dão idéia do que esperar do mais novo rebento de Lynch: “Inland Empire”. Sabendo apenas a premissa básica do filme, David Lynch começou a rodá-lo sem roteiro algum. Ele escrevia cada cena apenas momentos antes de realizá-la. Levou 3 anos para fazer o filme, mesmo no formato DV. Aliás, este é o primeiro filme do diretor em Digital Vídeo. Ele declarou que não vai mais filmar em película; está entusiasmadíssimo com as novas tecnologias digitais.
O que pode-se afirmar sobre a intriga é o seguinte: a atriz casada Nikki (Laura Dern, que já trabalhou com Lynch em Coração Selvagem, de 1990, e Veludo Azul, de 1987) recebe um papel em um filme a ser dirigido por Kingsley (Jeremy Irons). Ela descobre, em seguida, que esse filme é o remake de uma outra fita, inacabada, pois os atores protagonistas tinham sido assassinados durante o trabalho. O par romântico de Nikki chama-se Devon (Justin Theroux, o azarado cineasta em Cidade dos Sonhos, de 2002). A personagem de Nikki é Sue, a de Devon é Billy. Os dois atores, na “vida real”, acabam indo para a cama um com o outro. Então, começam a chamar um ao outro pelos nomes de seus personagens no filme. Daí em diante, é impossível saber se Nikki é na verdade Nikki ou Sue...
O nome “Inland Empire” faz referência a uma região no sul da Califórnia que reúne as cidades mais antigas do lugar. A maior parte do filme foi rodada na Polônia, com atores locais. Alguma coisa também foi filmada em Los Angeles, mas é impossível determinar o quanto foi feito na região californiana de “Inland Empire”, pois Lynch nunca obteve as permissões necessárias para filmar em interiores e exteriores.
Esta é a continuidade das experiências temáticas e formais do diretor – onde se destacam os anteriores Cidade dos Sonhos e A Estrada Perdida (1996). Mas “Inland Empire” parece ser ainda mais radical, emulando o experimentalismo obsessivo de seu primeiro filme, Eraserhead (1977). Tudo indica que o filme mais recente do cineasta de Homem-Elefante (1983) é uma coleção não-roteirizada de imagens e fatos bizarros e de um surrealismo alucinatório. Por exemplo: a atriz Naomi Watts (de Cidade dos Sonhos) dá voz a um personagem com corpo humano e cabeça de coelho. Reconhecemos também, na sinopse, a discussão metalingüística sobre o universo do cinema, particularmente o de Hollywood, também presente em Cidade dos Sonhos.
O título “Inland Empire” não se refere apenas à região californiana, mas também ao inconsciente. Tal qual em A Estrada Perdida e Cidade dos Sonhos, o filme mostra a fragmentação e desintegração da psique do protagonista, num processo que leva a convulsivos deslocamentos no espaço e no tempo. David Lynch afirma:
“The big self is mondo stable. But the small self — we’re blowing about like dry leaves in the wind.” Tradução: “O grande eu (supomos que ele esteja se referindo ao Consciente) tem a solidez e a estabilidade do mundo. Mas o pequeno eu (o Inconsciente) – nós vagamos à deriva como folhas secas ao vento.”
O New York Times chamou o filme de “uma visão de pesadelo da fábrica dos sonhos”. O jornal cita uma cena em que o personagem, perfurado no intestino com uma chave de fenda, corre pela Hollywood Boulevard, arrastando atrás de si uma trilha sanguinolenta.
Numa entrevista de 2005, Lynch disse:
“I’ve never worked on a project in this way before. I don’t know exactly how this thing will finally unfold... This film is very different because I don’t have a script. I write the thing scene by scene and much of it is shot and I don’t have much of a clue where it will end. It’s a risk, but I have this feeling that because all things are unified, this idea over here in that room will somehow relate to that idea over there in the pink room.” Tradução: “Eu nunca trabalhei em um projeto assim antes. Não sei exatamente como isso vai sair... Este filme é bem diferente porque eu não tenho um “script”. Eu escrevo a coisa cena a cena, muita coisa é filmada, e eu não sei aonde vai dar. É um risco, mas eu tenho a sensação de que, já que todas as coisas estão unidas, uma idéia aqui nesta sala vai de alguma maneira se relacionar àquela outra idéia na sala cor de rosa (sic).”
É esperar para ver.
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