domingo, setembro 10, 2006

Metáfora: Fotografia e Montagem


Mais um post sobre metáforas. Acredito piamente, como já disse, que a conotação é o que, muitas vezes, dá o sublime para uma obra de arte.

Roma, Cidade Aberta (“Roma, Città Aperta”, Itália, 1945, dir.: Roberto Rosselini) apresenta uma bela simbologia, particularmente em uma cena. Tem-se o grupo de resistência à ocupação nazista reunido secretamente em um restaurante. É um momento de vacilo e tensão, os rebeldes não estão muito esperançosos. Então, dois soldados alemães trazem para o dono do estabelecimento dois carneiros vivos. O dono reclama, pois ali não é matadouro, e manda os militares levarem os animais para o pátio dos fundos. Voltamos às discussões dos rebeldes, quando, de repente, ouve-se um tiro de revólver, vindo do lado de fora. Os personagens se levantam, abrem a janela e testemunham os soldados eliminando os carneiros com tiros na nuca. Lamentam por eles.

Após um corte seco, é mostrado a nós o Cristo na cruz, no alto do altar de uma igreja. A câmera, então, faz um movimento para baixo e encontra o padre rezando a missa, o mesmo padre que será executado no final do filme.

Agora, vejamos o percurso retroativo das metáforas, encadeadas e evidentes, em cada plano e na junção entre eles. O padre é a vítima que se entrega num ato de sacrifício e compaixão, tal como o Cristo que o filme nos mostra na cruz; esse Cristo é o “cordeiro de Deus”, tal como os cordeiros executados pelos dois nazistas; por fim, esses cordeiros correspondem aos “heróis da resistência” ali no restaurante, que também serão imolados em favor da justiça. É um ótimo exemplo dos ideais cristãos presentes no Neo-Realismo italiano.

Pode-se criticar o excesso de clareza, a banalidade e a pieguice dessas conotações. De fato, a simbologia estética deve procurar ser mais sutil. Ainda assim, o exemplo citado tem valor por seu didatismo.

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