sábado, julho 21, 2007

Transformers


Transformers é diversão na certa. Precisa de mais? A nova produção de Michael Bay é, essencialmente, um filme infantil. É claro que nós, adultos intelectualizados, não gostamos de nos entregar a prazeres meramente infantis. Precisamos manter o poder e a rigidez sisuda de nossa consciência iluminista sempre no controle. Não podemos nos alienar; devemos ser sempre esclarecidos. Assim, podemos até tolerar – pessoalmente – filmes para crianças, contanto que tenham também conteúdos “adultos” (é o que têm feito os desenhos animados do tipo “Shrek”); desse modo, o filho se diverte, e o pai que o leva ao cinema também se diverte. Mas quem foi que disse que é um crime o adulto se entregar a uma fita simplesmente infantil, e divertir-se mesmo assim – ou melhor – a criança dentro dele que se diverte? Correndo o risco de parecer tão piegas quanto Steven Spielberg e – mais ainda – Michael Bay, eu digo que aquela criança que há dentro de todos nós precisa receber uns agrados e atenção de vez em quando. Isso é lugar-comum em fábulas cinematográficas e também está de acordo com a psicologia analítica. O tom com que algumas pessoas “inteligentes” desprezam as coisas infantis e “bobas” revela por si só um outro problema...

Em todo caso, Transformers é um caso curioso. O filme se baseia em uma famosa linha de brinquedos dos anos 80, que deu origem a desenhos animados e a histórias em quadrinhos. Já entregando a minha geração, eu me diverti muito com os robôs que se transformam em veículos, eu também tive roupa de cama dos Autobots e dos seus inimigos, os Decepticons (para falar a verdade, ainda tenho). Em princípio, os estúdios queriam adaptar para a tela grande os G. I. Joes (outra ainda mais famosa linha de brinquedos que teve diversas ramificações), que no Brasil da década de 80 eram conhecidos como Comandos em Ação. Mas, com a invasão dos EUA ao Iraque, esse projeto foi (prudentemente) deixado de lado. Então, a bola passou para Optimus Prime, Megatron, e companhia. O produtor Tom deSanto (X-Men e X-Men 2) explica o que interessou a ele:

I think it's going to be something the audience has never seen before. In all the years of movie-making, I don't think the image of a truck transforming into a 20-foot tall robot has ever been captured on screen. I also want to make a film that's a homage to 1980s movies and gets back to the sense of wonder that Hollywood has lost over the years. It will have those Spielberg-ian moments where you have the push-in on the wide-eyed kid and you feel like you're 10 years old even if you're 35.

Eu acho que vai ser algo que o público nunca viu antes. Em todos estes anos fazendo filmes, eu não creio que a imagem de um caminhão se transformando num robô de 20 pés de altura (mais ou menos 6 metros) tenha sido capturada na tela antes. Eu também quero fazer um filme que homenageie as produções dos anos 80 e restitua o sensação de maravilha que Hollywood tem perdido ao longo dos anos. O filme terá aqueles momentos “spielberguianos” em que o olhar da criança é destacado e estimulado, e você sentirá que tem 10 anos de idade, ao invés de 35.

Transformers, de fato, faz jus à meta do produtor. Mas não é a única produção relativamente atual que traz de volta aquela “maravilha” – nem é a que faz isso melhor. Steven Spielberg também foi escalado como produtor, e foi quem teve a idéia de convocar Michael Bay (Bad Boys I e II, A Rocha, Armageddom, Pearl Harbor, A Ilha) para dirigir. Porém, o diretor de Pearl Harbor não era lá muito fã dos robôs automotivos, achava a idéia de um filme baseado em brinquedos muito boba. Então, o grande e sutil Spielberg o convenceu do contrário, argumentando que se tratava de um filme sobre “um garoto e seu carro”. No final das contas, a mão do diretor de ET, o Extraterreste acabou pesando muito no resultado final da obra. Podemos até afirmar que Transformers tem dois diretores. De Spielberg, o filme tem o foco centrado na criança (na verdade, o protagonista é um adolescente) e na sua amizade com um carro “vivo” que vai além das palavras – alguém se lembrou de ET? Também a ele podemos atribuir as engraçadas e interessantes cenas dos robôs gigantes (os Autobots, que são os mocinhos) interferindo desastradamente no cenário e na vida cotidiana de um subúrbio familiar norte-americano: é bem legal ver os enormes robôs, verdadeiros Golems, tentando se esconder no quintal da casa de Sam, para evitar que os pais dele os descubram. Também prefiro atribuir a Spielberg uma outra qualidade: o humor sarcástico – emulando Homens de Preto (também produzido por ele) – encarnado pela figura do ótimo John Turturro, que faz um agente ultra-ultra secreto. Outras cenas também investem num humor bem interessante.

4 comentários:

Lorde David disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lorde David disse...

Eu torço de coração para que um dia seja feito o filme dos Comandos em Ação. Era o meu desenho favorito. E adorava os bonequinhos da Hasbro. Um abraço.

Anônimo disse...

Também acho que "Transformers" é um filme pra divertir, e diverte bastante mesmo! E também acho que a mão do Spielberg está presente em várias cenas, o que só contribui para o ganho do filme. Abraço!

Bernardo Krivochein disse...

Sobre um trecho do texto:

"Assim, podemos até tolerar – pessoalmente – filmes para crianças, contanto que tenham também conteúdos “adultos” (é o que têm feito os desenhos animados do tipo “Shrek”); desse modo, o filho se diverte, e o pai que o leva ao cinema também se diverte. Mas quem foi que disse que é um crime o adulto se entregar a uma fita simplesmente infantil, e divertir-se mesmo assim – ou melhor – a criança dentro dele que se diverte?"

Não diria que é um crime, mas é algo que sou particularmente contra. Ter um desenho animado como "Shrek" - que eu acho nefasto - repleto de referências pop a uma cultura de celebridades (e, de tão instantâneas, chegam aos cinemas já mofadas, i.e. o casal Justin Timberlake e Cameron Diaz que dublam príncipe e princesa no filme já haviam há muito tempo se separado - ou seja, a morte da "piadinha interna") é que nem passar a vender Papinha de Bebê da Nestlé com 15% a mais de teor alcóolico só porque o marmanjo decidiu que também é mercado consumidor do referido produto.

Da mesma maneira que a impressão de gravitas a produtos infantis e pré-adolescentes é nefasta. Já passei a noite inteira gritando com nerds que elogiavam a maturidade de "Batman Begins", tentando lembrar-lhes que, fundamentalmente, o filme se tratava de um homem fantasiado de morcego, abanando a capa pela noite (é praticamente o thriller gay português "O Fantasma"!) É impossível levar tal conceito a sério. Mas as estripulias se justificam porque Bruce Wayne é uma Paris Hilton, com dinheiro até o cu - ou seja, o nerd é um provinciano, no final da equação.

Se a gente parar para pensar, Michael Bay dirigiu "Comandos em Ação" e fez um mash-up com "Transformers". Só não é mais bacana do que o dia que os Flintstones e os Jetsons se encontraram no Natal.