Se Noite dos Mortos Vivos é um filme subversivo, Despertar dos Mortos (1978) é um filme de guerrilha... É nervoso! Muito mais carregado de conteúdo sócio-político altamente polêmico manifesto numa forma satírica bem corrosiva. O “despertar” leva às últimas conseqüências o caráter apocalíptico que é a marca registrada genial das histórias de zumbis de George Romero. O filme abre com as derradeiras – e totalmente caóticas – transmissões televisivas. É uma situação que todos nós conhecemos: aqueles supostos “especialistas” debatendo o problema sem que se chegue a qualquer consenso, particularmente no que concerne às soluções. É importante lembrar que, no primeiro filme, as redes comerciais de TV e de rádio insistiam que a população permanecesse na audiência para receber novas informações e orientações. No começo deste, os profissionais encarregados das transmissões discutem nervosamente se continuam ou não a manter na tela os endereços de abrigos comunitários, pois já se sabe que neles a situação já foi pro saco mesmo... Em “Night of the Living Dead”, a TV orientava os cidadãos a não saírem de casa em hipótese alguma; em “Dawn of the Dead”, a mensagem é de que ninguém deve ficar em casa... O caos é definitivo.
Paralelamente, testemunhamos uma invasão da polícia a um prédio habitado por pessoas do “andar de baixo”: negros, hispânicos e pobres em geral. Tal invasão não ocorre sem uma resistência armada dos habitantes mais “malandros”... Assim, a primeira batalha no filme não é entre os mortos e os vivos... As pessoas não querem deixar os seus lares, algumas ainda abraçam parentes transformados em zumbis (uma atitude, obviamente, letal). Um dos policiais se encontra num estado totalmente histérico, atirando e matando quem quer que veja pela frente, zumbi ou não. Outros executam sumariamente – mas com grande pesar – mortos-vivos que estavam sendo mantidos presos no porão por seus entes queridos. Ligado a essa cena, há um padre que diz uma frase bíblica que dá a dimensão da coisa toda: “When there’s no more room in Hell, the dead will walk the Earth” (“Quando não houver mais lugar no inferno, os mortos caminharão sobre a Terra”). Toda a seqüência é estonteante, é um horror que está longe de ser aquele terror gostoso e catártico das fitas de fantasia; o horror aqui é bem real, a situação está muito mais próxima da realidade de todos os dias dos telejornais... Novamente, os zumbis são, para Romero, apenas uma desculpa para falar de outras coisas...
E veja que é apenas o começo de um longo filme (142 minutos). Então, uma jornalista, seu namorado piloto e dois policiais embarcam em um helicóptero, procurando algum lugar melhor para “viver”. Com dificuldades para reabastecer a aeronave, o grupo desce sobre um shopping center e descobre que o local pode proporcionar uma subsistência segura e até confortável por um bom tempo. Instalam-se ali. Porém, eles precisam eliminar os zumbis do local e bloquear as entradas para impedir que outros venham. Temos aqui (e também mais para a frente, quando os mortos retomarem o shopping) os melhores exemplos da arte cinematográfica de Romero: diversos planos sucessivos mostrando os mortos-vivos caminhando pelos corredores, subindo e descendo desengonçadamente as escadas rolantes, esbarrando nas prateleiras das lojas, agarrando de qualquer jeito alguns produtos, amontoando-se desesperadamente e batendo as mãos contra as portas transparentes de outras lojas (fechadas), tudo isso ao som ambiente com aquelas melodias “de shopping”. Alguns planos dos zumbis se intercalam com planos mostrando os manequins das lojas. Isso é mais do que irônico, é profundamente sarcástico! É uma sátira – repito – nervosa à sociedade de consumo capitalista...
Esses planos recebem muito destaque no filme, até no final. Isto é: George Romero quis deixar bem evidente sua mensagem. Cenas equivalentes ocorrem em Terra dos Mortos (quando estes invadem o condomínio fechado que é o último refúgio dos vivos). Engraçado também é ver os quatro sobreviventes que ocupam o shopping center realizando como que sonhos de criança: saqueando à vontade as lojas e os bancos e vivendo naquele ambiente totalmente fechado e isolado como se estivessem no paraíso, parece que esquecidos de toda a catástrofe no mundo exterior... E ainda especulam os motivos de os zumbis quererem ficar dentro do shopping: parece que os mortos-vivos gostam de fazer algo, ou ficarem próximos de algo que na vida anterior deles era importante, algo de que eles gostavam e que definia suas existências... obviamente, nesse diálogos há muito do discurso do próprio Romero. Aqui também caberia um comentário social.
Paralelamente, testemunhamos uma invasão da polícia a um prédio habitado por pessoas do “andar de baixo”: negros, hispânicos e pobres em geral. Tal invasão não ocorre sem uma resistência armada dos habitantes mais “malandros”... Assim, a primeira batalha no filme não é entre os mortos e os vivos... As pessoas não querem deixar os seus lares, algumas ainda abraçam parentes transformados em zumbis (uma atitude, obviamente, letal). Um dos policiais se encontra num estado totalmente histérico, atirando e matando quem quer que veja pela frente, zumbi ou não. Outros executam sumariamente – mas com grande pesar – mortos-vivos que estavam sendo mantidos presos no porão por seus entes queridos. Ligado a essa cena, há um padre que diz uma frase bíblica que dá a dimensão da coisa toda: “When there’s no more room in Hell, the dead will walk the Earth” (“Quando não houver mais lugar no inferno, os mortos caminharão sobre a Terra”). Toda a seqüência é estonteante, é um horror que está longe de ser aquele terror gostoso e catártico das fitas de fantasia; o horror aqui é bem real, a situação está muito mais próxima da realidade de todos os dias dos telejornais... Novamente, os zumbis são, para Romero, apenas uma desculpa para falar de outras coisas...
E veja que é apenas o começo de um longo filme (142 minutos). Então, uma jornalista, seu namorado piloto e dois policiais embarcam em um helicóptero, procurando algum lugar melhor para “viver”. Com dificuldades para reabastecer a aeronave, o grupo desce sobre um shopping center e descobre que o local pode proporcionar uma subsistência segura e até confortável por um bom tempo. Instalam-se ali. Porém, eles precisam eliminar os zumbis do local e bloquear as entradas para impedir que outros venham. Temos aqui (e também mais para a frente, quando os mortos retomarem o shopping) os melhores exemplos da arte cinematográfica de Romero: diversos planos sucessivos mostrando os mortos-vivos caminhando pelos corredores, subindo e descendo desengonçadamente as escadas rolantes, esbarrando nas prateleiras das lojas, agarrando de qualquer jeito alguns produtos, amontoando-se desesperadamente e batendo as mãos contra as portas transparentes de outras lojas (fechadas), tudo isso ao som ambiente com aquelas melodias “de shopping”. Alguns planos dos zumbis se intercalam com planos mostrando os manequins das lojas. Isso é mais do que irônico, é profundamente sarcástico! É uma sátira – repito – nervosa à sociedade de consumo capitalista...
Esses planos recebem muito destaque no filme, até no final. Isto é: George Romero quis deixar bem evidente sua mensagem. Cenas equivalentes ocorrem em Terra dos Mortos (quando estes invadem o condomínio fechado que é o último refúgio dos vivos). Engraçado também é ver os quatro sobreviventes que ocupam o shopping center realizando como que sonhos de criança: saqueando à vontade as lojas e os bancos e vivendo naquele ambiente totalmente fechado e isolado como se estivessem no paraíso, parece que esquecidos de toda a catástrofe no mundo exterior... E ainda especulam os motivos de os zumbis quererem ficar dentro do shopping: parece que os mortos-vivos gostam de fazer algo, ou ficarem próximos de algo que na vida anterior deles era importante, algo de que eles gostavam e que definia suas existências... obviamente, nesse diálogos há muito do discurso do próprio Romero. Aqui também caberia um comentário social.
Se o mote de “Night” é o racismo, o mote de “Dawn” é o consumismo. Outra cena rica em ironia é a que mostra os “rednecks” (caipiras) do interior dos EUA caçando zumbis como se fosse um esporte de fim-de-semana; todo mundo junto festejando, comendo churrasco, tomando cerveja e brincando de tiro-ao-alvo com algum morto-vivo que eventualmente aparecesse no horizonte... A produção de Dawn of the Dead é de Dario Argento, mestre italiano do suspense e do horror, que também assina a trilha sonora e a montagem para os cinemas italianos, na qual parece ter deixado um pouco de lado o caráter satírico da edição de Romero (informação da Wikipédia). Originalmente, o final planejado pelo diretor era mais pessimista (assim ligando-se ao primeiro filme): os dois únicos sobreviventes deveriam se suicidar, ao invés de escaparem no helicóptero. Curiosa essa mudança de rumo. De qualquer maneira, o próprio George Romero declarou que o seu filme preferido é o terceiro da série: Dia dos Mortos (1985).
Um comentário:
Amigo Andros. Tomei a liberdade de lhe indicar na corrente literária que está percorrendo o mundo blogueiro.
Dê uma passada em meu blog e veja como funciona.
Grande abraço,
Jamile.
www.tudovintageounao.blogspot.com
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