Eu prefiro muito, mas muito mais, ver um filme definitivamente odioso, isto é, um filme que seja forte o suficiente para provocar o ódio em mim, do que um filmeco fraco que, quando muito, provoca ligeira comichão subcutânea. Um filme fraco, seja simpático ou antipático, não traz inspiração para escrever uma crítica (ou resenha, ou o que quer que seja) nos moldes do que eu gosto de fazer. A graça do cinema – e de qualquer outra arte – é a experiência arrebatadora que ele pode proporcionar; é claro que a experiência não precisa ser tão arrebatadora assim, mas o caso é que alguns filmes parecem não trazer experiência alguma, simplesmente não causam qualquer efeito subjetivo no expectador, não fazem o menor transporte espiritual que seja. São filmes esquecíveis. Eis A Poderosa (“Geórgia Rule”, EUA, 2007, dir.: Garry Marshall).
Esta produção, do mesmo diretor de comédias folhetinescas como Uma Linda Mulher (“Pretty Woman, 1990), Noiva em Fuga (“Runaway Bride”, 1999) e O Diário da Princesa (“The Princess Diaries”, 2001), vale mais a pena ser conhecida pela ridícula polêmica em seus bastidores, orquestrada pela estrela bad girl Lindsay Lohan, que protagoniza o filme. A “gostosa” aqui recebeu uma carta de advertência – mais tarde divulgada na imprensa – do diretor do estúdio (James G. Robinson, Morgan Creek Productions), reclamando da sua contuta “descortês, irresponsável e anti-profissional”, dizendo ainda que a atitude da jovem atriz era a de uma “criança mimada” que “colocava em risco a qualidade do filme” (cá entre nós, muitas outras coisas colocam “em risco” a “qualidade” deste filme; o próprio filme é o maior perigo para si mesmo). Enfim, Lohan foi ameaçada de processo judicial se continuasse a atrasar a produção (agradecimentos ao IMDB).
Na frente das câmeras, o que acontece é mais ou menos o seguinte: Rachel (Lohan) é uma problem child recém saída da high school que é levada por sua mãe disfuncional e alcoólatra, Lilly (Felicity Huffman, o transformista de Transamérica), para passar umas “férias” na casa da avó ultra-disciplinadora, Geórgia (Jane Fonda, que está cada vez mais parecida fisicamente com o pai), numa cidadezinha mórmon do interior dos EUA. Poderia sair um filme muito bom disso, um grande drama feminino envolvendo três gerações, mais ou menos como Acontece nas melhores famílias (“It runs in the family”, EUA, 2003, dir.: Fred Schepisi), que não é nenhuma obra-prima, mas é simpático e minimamente memorável: temos nele os conflitos de três gerações masculinas – Kirk, Michael e Cameron Douglas. Mas não é isso o que acontece na família de Geórgia. A narrativa descamba em piadas totalmente sem graça e mal colocadas, enquanto que o aspecto dramático é de uma frivolidade digna de “novo-rico”. É preciso misturar humor e drama de maneira muito, mas muito mais cuidadosa – e isso não é fácil. Uma das críticas compiladas pelo site rottentomatoes afirma, na mosca, que em Georgia Rule, a comédia é sem graça e o drama é engraçado.
A coisa toda piora quando surge o plot do incesto. Aí fica tudo muito confuso e inverossímil. Seria mais verossímil se esse tema fosse trabalhado com mais dignidade, a partir de personagens e situações construídos com mais dignidade; dignidade narrativa, literária. Repito: da maneira como saiu, o filme é ou uma piada de mau gosto, ou um drama frívolo e volúvel. Mas o mais detestável mesmo, tanto porque é o que mais salta aos olhos – literalmente – é a figura de Lindsay Lohan. É difícil de engolir a atitude poser dela, pelo menos sendo ela dona daquela voz aguda e ríspida (que, expressando a personalidade “extrovertida” da personagem, fica extremamente irritante de se ouvir por 113 minutos) e daquele corpinho raquítico (apesar dos seios grandes – viva a mulher americana! – e do rosto bonito mas envelhecido demais para uma personagem de 17 anos). De qualquer maneira, a personagem casa adequadamente com a atriz, a julgar pelas notícias dos bastidores.
A personagem de Lohan possui, visivelmente, distúrbios psicológicos graves, mas o filme não faz mais do que mimá-la (por isso eu disse que este filme faz mais mal a si mesmo do que o comportamento “spoiled child” de Lindsay Lohan no set – assim não adianta o chefão do estúdio reclamar...). Parece que o filme passa a mão na cabeça dela e diz: “pobre menina rica!...” O pior é que, em (apenas) dois rápidos momentos, o roteiro quis dar a Rachel um caráter de menina atrevida-porque-é-brilhante: quando ela própria diz à avó que só estava lá porque terminara a high school antecipadamente e a mãe não aquentava ficar com ela em casa, e quando ela cita Ezra Pound (!!!). Mas, quando se vê o filme inteiro, a gente pensa: “Ah! Convenhamos!...” Não dá pra engolir. Enfim, é melhor eu parar de reclamar, senão começarei a entrar nos méritos do meu tipo de musa cinematográfica, que está muito, mas muito mais, para Natalie Portman (de corpo e alma) do que para Lindsay Lohan.
Esta produção, do mesmo diretor de comédias folhetinescas como Uma Linda Mulher (“Pretty Woman, 1990), Noiva em Fuga (“Runaway Bride”, 1999) e O Diário da Princesa (“The Princess Diaries”, 2001), vale mais a pena ser conhecida pela ridícula polêmica em seus bastidores, orquestrada pela estrela bad girl Lindsay Lohan, que protagoniza o filme. A “gostosa” aqui recebeu uma carta de advertência – mais tarde divulgada na imprensa – do diretor do estúdio (James G. Robinson, Morgan Creek Productions), reclamando da sua contuta “descortês, irresponsável e anti-profissional”, dizendo ainda que a atitude da jovem atriz era a de uma “criança mimada” que “colocava em risco a qualidade do filme” (cá entre nós, muitas outras coisas colocam “em risco” a “qualidade” deste filme; o próprio filme é o maior perigo para si mesmo). Enfim, Lohan foi ameaçada de processo judicial se continuasse a atrasar a produção (agradecimentos ao IMDB).
Na frente das câmeras, o que acontece é mais ou menos o seguinte: Rachel (Lohan) é uma problem child recém saída da high school que é levada por sua mãe disfuncional e alcoólatra, Lilly (Felicity Huffman, o transformista de Transamérica), para passar umas “férias” na casa da avó ultra-disciplinadora, Geórgia (Jane Fonda, que está cada vez mais parecida fisicamente com o pai), numa cidadezinha mórmon do interior dos EUA. Poderia sair um filme muito bom disso, um grande drama feminino envolvendo três gerações, mais ou menos como Acontece nas melhores famílias (“It runs in the family”, EUA, 2003, dir.: Fred Schepisi), que não é nenhuma obra-prima, mas é simpático e minimamente memorável: temos nele os conflitos de três gerações masculinas – Kirk, Michael e Cameron Douglas. Mas não é isso o que acontece na família de Geórgia. A narrativa descamba em piadas totalmente sem graça e mal colocadas, enquanto que o aspecto dramático é de uma frivolidade digna de “novo-rico”. É preciso misturar humor e drama de maneira muito, mas muito mais cuidadosa – e isso não é fácil. Uma das críticas compiladas pelo site rottentomatoes afirma, na mosca, que em Georgia Rule, a comédia é sem graça e o drama é engraçado.
A coisa toda piora quando surge o plot do incesto. Aí fica tudo muito confuso e inverossímil. Seria mais verossímil se esse tema fosse trabalhado com mais dignidade, a partir de personagens e situações construídos com mais dignidade; dignidade narrativa, literária. Repito: da maneira como saiu, o filme é ou uma piada de mau gosto, ou um drama frívolo e volúvel. Mas o mais detestável mesmo, tanto porque é o que mais salta aos olhos – literalmente – é a figura de Lindsay Lohan. É difícil de engolir a atitude poser dela, pelo menos sendo ela dona daquela voz aguda e ríspida (que, expressando a personalidade “extrovertida” da personagem, fica extremamente irritante de se ouvir por 113 minutos) e daquele corpinho raquítico (apesar dos seios grandes – viva a mulher americana! – e do rosto bonito mas envelhecido demais para uma personagem de 17 anos). De qualquer maneira, a personagem casa adequadamente com a atriz, a julgar pelas notícias dos bastidores.
A personagem de Lohan possui, visivelmente, distúrbios psicológicos graves, mas o filme não faz mais do que mimá-la (por isso eu disse que este filme faz mais mal a si mesmo do que o comportamento “spoiled child” de Lindsay Lohan no set – assim não adianta o chefão do estúdio reclamar...). Parece que o filme passa a mão na cabeça dela e diz: “pobre menina rica!...” O pior é que, em (apenas) dois rápidos momentos, o roteiro quis dar a Rachel um caráter de menina atrevida-porque-é-brilhante: quando ela própria diz à avó que só estava lá porque terminara a high school antecipadamente e a mãe não aquentava ficar com ela em casa, e quando ela cita Ezra Pound (!!!). Mas, quando se vê o filme inteiro, a gente pensa: “Ah! Convenhamos!...” Não dá pra engolir. Enfim, é melhor eu parar de reclamar, senão começarei a entrar nos méritos do meu tipo de musa cinematográfica, que está muito, mas muito mais, para Natalie Portman (de corpo e alma) do que para Lindsay Lohan.
Acho que até me empolguei escrevendo este texto, mas, de qualquer modo, A Poderosa é um daqueles filmes que, daqui a seis meses, eu terei esquecido o título, em um ano eu já não me lembrarei quase nada do enredo, e ao cabo de dois anos a existência deste filme terá se extinguido completamente da minha cabeça e da minha experiência.
Um comentário:
Oi, grato pela visita ao Balaio. Verei o seu com atenção; qualquer blogue sobre cinema me interessa. Vou olhar, inclusive, as postagens antigas. Um abraço.
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