Viva o SUS!
A julgar pela retórica de Michael Moore, devemos mais é nos orgulhar do nosso combalido Sistema Único de Saúde. É realmente incrível que o único país do hemisfério ocidental que não possua um sistema público de saúde (por pior que fosse) seja os EUA. De qualquer modo, Sicko (EUA, 2007) é mais uma fita típica do diretor. Sua visão de mundo e seus argumentos são, em alguns momentos, constrangedoramente ingênuos; mas em outros, são sadiamente ingênuos. Tudo tem dois lados, não? Não obstante, no meio de tudo, Moore consegue atingir umas “sacadas” retóricas de primeira linha, demonstrando um pensamento independente, pronto a criticar os excessos tanto de gregos quanto de troianos. É claro que há muitos dados e fatos apresentados em relação aos quais – se o expectador não pesquisá-los e conhecê-los independentemente – só nos sobra a mais pura crença.
Por isso, vamos apenas discutir aqui dois méritos cinematográficos de “Sicko”. No primeiro deles, temos Michael Moore entrevistando um francês que ganhara, por ocasião da recuperação de um câncer anos atrás, um longo período de licença no ensolarado sul daquele país. Quando o ex-doente menciona “sul da França”, o filme faz um corte e passa a mostrar panorâmicas da bela Riviera Francesa, ao som daquela típica melodia de acordeão na trilha sonora. Mas, menos de 5 segundos depois, ouvimos a voz de Moore perguntar: “Peraí, foram três meses de licença pagos pelo governo?”, junto com um som do arranhar de uma agulha de toca-discos a interromper a bucólica melodia. Mais um corte, e a cena volta à entrevista, feita no que parece ser o apartamento do entrevistado. O rapaz explica-se melhor e acaba por voltar ao ponto do discurso no qual havia sido interrompido. Então, um outro corte e finalmente o filme mostra e fala do sul da França e da vida do convalescente por lá.
Quer dizer, é como se o discurso audiovisual – realizado na montagem (visual e sonora) – acompanhasse intimamente o discurso verbal e, por que não?, o próprio fluxo das imagens conscientes das “personagens” envolvidas. Desse modo, qualquer interrupção, ruptura, retornos ou avanços que atravancam a “edição” linear do discurso verbal tivessem os seus paralelos no discurso audiovisual. Um segundo momento interessante de “Sicko” é a imagem do próprio Moore subindo as escadarias rumo à Casa Branca carregando um cesto de roupa suja, para pedir ao governo que “do his laundry” (esta cena tem um significado muito retórico, pois está relacionada a uma das entrevistas que o diretor faz no filme). Ambas as cenas, junto de várias outras, fazem o tom leve, bonachão e sarcástico que é a marca registrada de Michael Moore. Creio que estes elementos são o seu maior – e menos questionável – valor, também presentes em Farenheit 9/11 (2004) e Tiros em Columbine (2002).
A julgar pela retórica de Michael Moore, devemos mais é nos orgulhar do nosso combalido Sistema Único de Saúde. É realmente incrível que o único país do hemisfério ocidental que não possua um sistema público de saúde (por pior que fosse) seja os EUA. De qualquer modo, Sicko (EUA, 2007) é mais uma fita típica do diretor. Sua visão de mundo e seus argumentos são, em alguns momentos, constrangedoramente ingênuos; mas em outros, são sadiamente ingênuos. Tudo tem dois lados, não? Não obstante, no meio de tudo, Moore consegue atingir umas “sacadas” retóricas de primeira linha, demonstrando um pensamento independente, pronto a criticar os excessos tanto de gregos quanto de troianos. É claro que há muitos dados e fatos apresentados em relação aos quais – se o expectador não pesquisá-los e conhecê-los independentemente – só nos sobra a mais pura crença.
Por isso, vamos apenas discutir aqui dois méritos cinematográficos de “Sicko”. No primeiro deles, temos Michael Moore entrevistando um francês que ganhara, por ocasião da recuperação de um câncer anos atrás, um longo período de licença no ensolarado sul daquele país. Quando o ex-doente menciona “sul da França”, o filme faz um corte e passa a mostrar panorâmicas da bela Riviera Francesa, ao som daquela típica melodia de acordeão na trilha sonora. Mas, menos de 5 segundos depois, ouvimos a voz de Moore perguntar: “Peraí, foram três meses de licença pagos pelo governo?”, junto com um som do arranhar de uma agulha de toca-discos a interromper a bucólica melodia. Mais um corte, e a cena volta à entrevista, feita no que parece ser o apartamento do entrevistado. O rapaz explica-se melhor e acaba por voltar ao ponto do discurso no qual havia sido interrompido. Então, um outro corte e finalmente o filme mostra e fala do sul da França e da vida do convalescente por lá.
Quer dizer, é como se o discurso audiovisual – realizado na montagem (visual e sonora) – acompanhasse intimamente o discurso verbal e, por que não?, o próprio fluxo das imagens conscientes das “personagens” envolvidas. Desse modo, qualquer interrupção, ruptura, retornos ou avanços que atravancam a “edição” linear do discurso verbal tivessem os seus paralelos no discurso audiovisual. Um segundo momento interessante de “Sicko” é a imagem do próprio Moore subindo as escadarias rumo à Casa Branca carregando um cesto de roupa suja, para pedir ao governo que “do his laundry” (esta cena tem um significado muito retórico, pois está relacionada a uma das entrevistas que o diretor faz no filme). Ambas as cenas, junto de várias outras, fazem o tom leve, bonachão e sarcástico que é a marca registrada de Michael Moore. Creio que estes elementos são o seu maior – e menos questionável – valor, também presentes em Farenheit 9/11 (2004) e Tiros em Columbine (2002).
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