quinta-feira, janeiro 10, 2008

Lista

André Bazin

Eu não gosto de fazer listas. Normalmente, não me acho apto para eleger “os melhores de...” Ainda preciso ver muitos filmes. Mas, se for o caso de listas bem subjetivas e despropositais, aí até pode ser. Um dia eu elejo os meus 5 ou 10 filmes preferidos de todos os tempos. Também já me peguei pensando nos 10 filmes essenciais para quem quer saber o que é a Sétima Arte (segundo, é lógico, a minha – parca – experiência e minhas idéias estéticas); gosto desse negócio de apresentar coisas boas às outras pessoas e discutir com elas. Mas o que me traz aqui hoje é a idéia de uma lista um tanto diferente. E esta será a primeira lista que publico no Sombras Elétricas em mais de um ano de sua existência. Tratam-se dos 5 livros de cinema mais legais que já passaram por minhas mãos.

Ler a respeito da arte cinematográfica tem um gosto todo diferente: sempre dá um gás incrível na minha vontade de ver e conhecer filmes, cineastas e cinematografias. Tá, sou meio cdf mesmo, mas não dá pra desprezar (muito pelo contrário) a bagagem que o estudo traz. E eu acredito que já adquiri a maturidade suficiente para estudar sem virar um bitolado academicista (embora a tentação seja forte às vezes, provocando algumas atitudes desequilibradas, desculpem-me). Teoria, estética, análise e crítica de filmes, história, estudos monográficos de tendências e da obra de realizadores, essas são as áreas que me interessam. Mais particularmente, aprecio muito as associações entre cinema e filosofia, cinema e psicologia, cinema e outras artes (principalmente literatura).

Ainda preciso conhecer e ler muitas, mas muitas obras fundamentais da literatura cinematográfica, mas dentre o que eu já vi e recomendo estão:

1. Hitchcock / Truffaut: entrevistas. São Paulo, Companhia das Letras, 2004.
A melhor aula de cinema que já tive até agora. O maior gênio da sétima arte dialogando com um dos seus mais apaixonados espectadores, “cria” daquele que é o mais apaixonado: André Bazin. Absolutamente esclarecedor, mesmo para quem não conhece a obra do “mestre do suspense”.

2. O Cinema Ou O Homem Imaginário, de Edgar Morin. Lisboa, Moraes Editores, 1970.
O subtítulo diz: “ensaio de antropologia” e o livro inteiro costura-se na dialética entre o Cinema, a Sociedade e a Psicologia. E ainda é um ensaio – a minha forma predileta de um texto dissertativo – escrito com muita leveza e arte. Morin é, sem dúvida nenhuma, um daqueles magníficos – e raros – ensaístas poetas.

3. A Linguagem Cinematográfica, de Marcel Martin. Belo Horizonte, Itatiaia, 1963.
O primeiro livro de cinema que eu peguei para ler nesta vida. E, até hoje, ainda o considero uma das melhores – senão a melhor – cartilha de introdução à estética básica da sétima arte e aos elementos essenciais da “linguagem” audiovisual. Já coloquei, neste blog, uma postagem em homenagem a esta obra (assim como à obra de Edgar Morin). Quer se alfabetizar? Leia este livro. Se para você um bom filme é uma fotografia bonitinha, uma montagem dinâmica, alguns efeitos especiais e (ou) uma boa história, leia este livro. Você descobrirá um novo mundo.

4. Esculpir O Tempo, de Andrei Tarkovski. São Paulo, Martins Fontes, 2002.
Retrato do artista quando cineasta. O realizador de “Solaris” é um dos meus diretores prediletos e esta obra – tão sensível quanto os seus filmes – mistura autobiografia e ensaio estético / filosófico, no qual o mestre russo explica e analisa sua própria filmografia e a do Cinema como um todo. Para quem é fã, é uma leitura fundamental (mas, infelizmente, para algumas pessoas é difícil engolir os filmes de Tarkovski, o que até se explica – mas num outro momento).

5. O Cinema Tem Alma?, de Henri Agel. Belo Horizonte, Itatiaia, 1963.
Também foi uma das primeiras leituras fílmicas que eu fiz, há alguns anos – já estou precisando reler. Agel põe a postos toda a fenomenologia filosófica na análise da experiência cinematográfica (método que tem como base André Bazin). Considero-o elemento fundamental na formação do meu ponto de vista sobre Cinema. Esse livro me lembra do que, no fundo, nunca podemos nos esquecer ao ver um filme e pensar sobre ele.

É isso aí – por ora. Com o passar dos anos, a lista aí em cima poderá ser modificada ou alterada. Faz parte. Outras obras que também me marcaram e que recomendo: “História do Cinema Mundial”, de Georges Sadoul; “O Discurso Cinematográfico: a opacidade e a transparência”, de Ismail Xavier; “As Principais Teorias do Cinema”, de Dudley Andrew (também uma ótima cartilha de introdução). Agora, um apelo. Alguém da editora Brasiliense, por favor e pelo bem da cultura em nosso país, REEDITEM (ou pelo menos reimprimam) O Cinema (“Qu`est-ce que le cinema?”), de André Bazin, obra cuja importância é ridículo eu ficar aqui explicando para tentar convencer donos de editora. A última fornada, esgotadíssima, é de 1990. Já procurei em tudo quanto é sebo e livreiro de São Paulo (e, através da Internet, de todo o Brasil) e não se acha esse livro. Nem em bibliotecas. Há anos. Já ganhou para mim o título de livro mais raro que eu já ousei procurar. A biblioteca da USP tem um (!) exemplar, mas não é circulante e eu não vou e não gosto de “xerocar” livros (e depois ainda se diz que isso é crime... safados!) – tampouco tenho tempo ou paciência para ficar dentro da biblioteca lendo o livro inteiro. Pelo amor de Deus, alguém me arrume esse livro! Pago qualquer coisa menor que o preço da edição francesa (por volta de 90 reais – acho que ainda vou acabar comprando mesmo assim).

Hasta!

Um comentário:

romulo de almeida portella disse...

GOstei muito das referências, e intenções, de quem gosta desse negócio de apresentar coisas boas às outras pessoas e discutir com elas.
Ainda lerei as outras postagens.