Disparemos a reflexão sobre o filme novo de Jason Reitman com uma única palavra-chave: descartável. Eis a qualidade e o valor dos objetos, pessoas e acontecimentos mostrados. Bagagens, empregos, amantes: tudo pode (e deve, em algum momento) ser jogado fora num átimo, sem hesitação. As “palestras motivacionais” dadas pelo personagem de George Clooney (cada vez mais um novo Cary Grant) seguem, não por acaso, essa filosofia – que é a filosofia do mundo “corporativo”, a filosofia do nosso tempo.
E o pior – pelo menos aqui – não são as implicações ecológicas da cultura do descartável. O pior é pensarmos que essa cultura, em sua base, defende uma idéia de desapego: tanto material quanto emocional. Mas que não se pense naquele desapego “zen” da contracultura; os novíssimos “yuppies” – ou “kidults”, de acordo com terminologia mais recente – herdaram a idéia de “liberdade” da mais triste forma: em tempos de (mais uma) mega-crise internacional do capitalismo, a crença na “liberdade” torna-se a única forma possível de sobrevivência.
Sim. Porque o maior descartador de todos é o próprio sistema econômico mundial. Desse modo, para vivermos com corpo e mente sãos, devemos estar o tempo todo preparados para o golpe: preparados para sermos chutados da empresa onde trabalhamos e preparados também para sermos chutados por nossos namorados ou namoradas, noivos, irmãos, o que for. Daí vemos o “prospecto” entregue pelos “demitidores” profissionais aos infelizes que recebem a má notícia: as perspecitvas de “recolocação”, a necessidade de se correr atrás dos próprios sonhos, etc.
O que é tudo, na verdade, conversa para boi dormir – conforme George Clooney não deixa de confessar, com muito cinismo. O discurso padronizado – e sem qualquer significação real – que habita o universo corporativo é uma dimensão na qual o filme investe bastante. “Investir”: sem querer, acabo usando as mesmas metáforas do “economiquês” que perfazem a arte da retórica capitalista. Num mundo em que todas as dimensões da nossa visão e da nossa experiência são pautadas pelo econômico / monetário / financeiro, parecerá muito natural a qualquer espectador o diálogo em que George Clooney
desafia a sua jovem rival a “vender-lhe” a idéia do casamento. Percebe-se? Não se trata mais de argumentar, mas de vender mesmo... Aristóteles foi destronado por Washington Olivetto. É como eu disse outro dia, numa postagem aqui: hoje em dia, parece que o economista assumiu o discurso e a função do filósofo, e o publicitário ficou com as vestes do artista. Mas o pior é a postura petulante do executivo, principalmente dentre os mais jovens: eu já trabalhei em banco e cansei de ver pessoas iguaizinhas à personagem de Anna Kendrick.
Em uma palavra: nojentinha. Mas, no fundo ela também é uma vítima da máquina e Jason Reitman (diretor de Juno e de Obrigado Por Fumar) não perderá a chance de fazer a humanidade dela aflorar... Para George Clooney, a coisa já será um pouco mais difícil: quando ele finalmente aprender a lição e decidir tornar-se uma pessoa menos descartadora – e menos descartável –, a vida não lhe dará a recompensa fácil que nós esperamos e que tanto os livros de auto-ajuda quanto Hollywood apregoam. Fazer o quê? É a vida...
E o pior – pelo menos aqui – não são as implicações ecológicas da cultura do descartável. O pior é pensarmos que essa cultura, em sua base, defende uma idéia de desapego: tanto material quanto emocional. Mas que não se pense naquele desapego “zen” da contracultura; os novíssimos “yuppies” – ou “kidults”, de acordo com terminologia mais recente – herdaram a idéia de “liberdade” da mais triste forma: em tempos de (mais uma) mega-crise internacional do capitalismo, a crença na “liberdade” torna-se a única forma possível de sobrevivência.
Sim. Porque o maior descartador de todos é o próprio sistema econômico mundial. Desse modo, para vivermos com corpo e mente sãos, devemos estar o tempo todo preparados para o golpe: preparados para sermos chutados da empresa onde trabalhamos e preparados também para sermos chutados por nossos namorados ou namoradas, noivos, irmãos, o que for. Daí vemos o “prospecto” entregue pelos “demitidores” profissionais aos infelizes que recebem a má notícia: as perspecitvas de “recolocação”, a necessidade de se correr atrás dos próprios sonhos, etc.
O que é tudo, na verdade, conversa para boi dormir – conforme George Clooney não deixa de confessar, com muito cinismo. O discurso padronizado – e sem qualquer significação real – que habita o universo corporativo é uma dimensão na qual o filme investe bastante. “Investir”: sem querer, acabo usando as mesmas metáforas do “economiquês” que perfazem a arte da retórica capitalista. Num mundo em que todas as dimensões da nossa visão e da nossa experiência são pautadas pelo econômico / monetário / financeiro, parecerá muito natural a qualquer espectador o diálogo em que George Clooney
desafia a sua jovem rival a “vender-lhe” a idéia do casamento. Percebe-se? Não se trata mais de argumentar, mas de vender mesmo... Aristóteles foi destronado por Washington Olivetto. É como eu disse outro dia, numa postagem aqui: hoje em dia, parece que o economista assumiu o discurso e a função do filósofo, e o publicitário ficou com as vestes do artista. Mas o pior é a postura petulante do executivo, principalmente dentre os mais jovens: eu já trabalhei em banco e cansei de ver pessoas iguaizinhas à personagem de Anna Kendrick.
Em uma palavra: nojentinha. Mas, no fundo ela também é uma vítima da máquina e Jason Reitman (diretor de Juno e de Obrigado Por Fumar) não perderá a chance de fazer a humanidade dela aflorar... Para George Clooney, a coisa já será um pouco mais difícil: quando ele finalmente aprender a lição e decidir tornar-se uma pessoa menos descartadora – e menos descartável –, a vida não lhe dará a recompensa fácil que nós esperamos e que tanto os livros de auto-ajuda quanto Hollywood apregoam. Fazer o quê? É a vida...
4 comentários:
Como sempre Hollywood tenta criar um mito, ou reviver alguém do passado.
George Clooney, inexpressivo como sempre, navegando por um roteiro confuso que não chega a nenhum lugar, pois deve estar vivendo sem escalas...
Com péssimas parcerias, as duas atrizes atuantes neste filme também inexpressivas e "chatas", sequer bonitas.
Até entendo que por falta de um ídolo queiram reviver os grandes da ÉPOCA DE OURO DO CINEMA, mas comparar George Clooney a um Cary Grant seria uma blasfêmia.Isso me faz delirar de indignação.
Cary Grant , ator de uma extensa filmografia, único em seu estilo, jamais poderia ser imitado.
Mesmo porque TALENTO é algo que não se imita.
Os grandes daquela época, Gary Cooper, Ronald Colman, Errol Flynn,Paul Newman,Robert Taylor, Tyrone Power, Peter O'Toole,Steve Macqueen, Burton,Brando, enfim...
Não há ninguém nos dias de hoje que se assemelhe a qualquer um deles, inesquecíveis e grandes em seus trabalhos.
Aos saudosos resta rever os trabalhos doa antigos e não perder tempo com filmes como este, que nada tem de romance. Não emplaca e não sabe a que veio.
Desculpe, mas esta é minha opinião.
O que amei neste filme é a sinceridade. Até mesmo a estrutura, que de início parece previsível, acaba nos surpreendendo. O filme é amargo, realista e extremamente honesto.
Não se preocupe, siby13! Sua opinião está devidamente registrada. Quando eu disse que Clooney está cada vez mais um Grant, isso teve mais a ver com a aparente tentativa da indústria de "reviver" galãs do passado (como você muito bem lembrou) do que com qualquer análise qualitativa da figura ou da atuação do próprio Clooney, acredite...
Isso aí, galera! Valeu e até a próxima!
Poderia ser um ótimo filme não tivesse um diretor que se autosabote e uma produção besta de happy redention end.
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