M. Night Shyamalan é uma mistura entre Stephen King e Paulo Coelho. Ou seja, uma literatura média para interesses médios. Shyamalan está para Spielberg ou para Hitchcock assim como esses escritores “modernos” (incluindo-se aí também caras como Dan Brown e Khaled Hosseini) estão para os grandes mestres do passado. Ao se elogiar – ou criticar – os filmes do cineasta indiano, é preciso guardar tais proporções. Seus filmes dão um caldo muito ralo, excetuando-se talvez A Vila (2004). Esse problema não creio que se deva a interesses “comerciais” que dominariam os filmes, mas a uma limitação das idéias e do talento do próprio diretor mesmo. Shyamalan é um daqueles artistas-artesãos que constroem sua vida, fama e obra em cima dos mesmos cacoetes, repetindo-os à exaustão em quaisquer circunstâncias, por mais diversificadas que sejam e por mais que peçam soluções estéticas mais pertinentes. As variações em cima de um mesmo tema jamais podem ser tão restritas.
Fim dos Tempos (“The Happening”, EUA, 2008) é um filme que não pode ser levado a sério. Juro que eu tentei, mas não dá. Não há nada ali que convença. Sejam as situações mostradas neste filme “catástrofe”, sejam as interpretações dos atores (principalmente a de Mark Wahlberg), seja a trilha sonora, seja a fotografia, seja – mais particularmente – a banalidade do discurso “ecológico” propagado sem a menor fabulação artística no final. Muitas vezes a produção dos discípulos é a degenerescência da obra dos mestres. Por isso, repito o que disse a respeito de A Dama na Água (2006): é bom parar de comparar Shyamalan com cineastas de projeto estético e ideológico mais densos – a não ser que seja para mostrar a cansada decadência típica dos epígonos. Fim dos Tempos é um filme cansativo. Os elementos de autoria (na forma ou no conteúdo) que os filmes de Shyamalan podem nos trazer são muito escassos e pobres para que possamos falar com gosto em uma filmografia.
Continua sendo irritante (e cada vez mais) neste último filme o semi-virtuosismo da câmera e dos efeitos sonoros que (tentam) provocar sustozinhos ridículos, sem qualquer propósito dramático, sem qualquer significado ou implicação. É um cineminha primário, elementar; como eu disse, equivale à literatura média – ou medíocre – do “best-seller”. O pior é que não dá para recomendar que Shyamalan passe a fazer adaptações de Stephen King, visto o histórico de grandes diretores que construíram filmes de verdade, baseados na obra do “mestre do terror psicológico”: basta citar Stanley Kubrick e John Carpenter. Mas com certeza Shyamalan será “o cara” para levar a “obra” de Paulo Coelho para o cinema. Agora, não sei se terei paciência para ver (que Deus nos ajude!) o próximo filme do diretor. Talvez em DVD, num dia em que não tiver absolutamente mais nada para fazer. Quanto aos momentos “dramáticos”, a estupidez aqui rivaliza com a de Olga (Brasil, 2004, dir.: Jayme Monjardim).
Se Fim dos Tempos fosse um filme B, uma história “trash-cult” de “terrir”, poderia merecer algum respeito. Mas o pior é que esta produção “audaciosa” se leva a sério (!). Não é um filme de catástrofe, mas uma catástrofe de filme (com o perdão do trocadilho infame). Enfim, é tanta bobagem cinematográfica que nem sei se vale a pena (se fará alguma diferença) falar do talvez único ponto positivo do filme – que está mais para uma potencialidade frustrada do que para uma realização potente: a insistência paranóica da câmera em filmar o invisível, a ameaça etérea e mortal que se coloca entre a lente da filmadora (na função do nosso olhar) e os objetos concretos e reais do mundo – particularmente a natureza, animada aqui de uma vontade assustadora. Os personagens, assim como o próprio filme, lutam para enxergar e reconhecer a emanação maléfica que “vaza” das coisas. Mas, antes que se fale de um cinema espiritual, de terror psicológico-paranóico, assista-se ao Possuídos (EUA, 2006) de William Friedkin e se terá mais uma prova do lugar que cabe a Shyamalan.
Fim dos Tempos (“The Happening”, EUA, 2008) é um filme que não pode ser levado a sério. Juro que eu tentei, mas não dá. Não há nada ali que convença. Sejam as situações mostradas neste filme “catástrofe”, sejam as interpretações dos atores (principalmente a de Mark Wahlberg), seja a trilha sonora, seja a fotografia, seja – mais particularmente – a banalidade do discurso “ecológico” propagado sem a menor fabulação artística no final. Muitas vezes a produção dos discípulos é a degenerescência da obra dos mestres. Por isso, repito o que disse a respeito de A Dama na Água (2006): é bom parar de comparar Shyamalan com cineastas de projeto estético e ideológico mais densos – a não ser que seja para mostrar a cansada decadência típica dos epígonos. Fim dos Tempos é um filme cansativo. Os elementos de autoria (na forma ou no conteúdo) que os filmes de Shyamalan podem nos trazer são muito escassos e pobres para que possamos falar com gosto em uma filmografia.
Continua sendo irritante (e cada vez mais) neste último filme o semi-virtuosismo da câmera e dos efeitos sonoros que (tentam) provocar sustozinhos ridículos, sem qualquer propósito dramático, sem qualquer significado ou implicação. É um cineminha primário, elementar; como eu disse, equivale à literatura média – ou medíocre – do “best-seller”. O pior é que não dá para recomendar que Shyamalan passe a fazer adaptações de Stephen King, visto o histórico de grandes diretores que construíram filmes de verdade, baseados na obra do “mestre do terror psicológico”: basta citar Stanley Kubrick e John Carpenter. Mas com certeza Shyamalan será “o cara” para levar a “obra” de Paulo Coelho para o cinema. Agora, não sei se terei paciência para ver (que Deus nos ajude!) o próximo filme do diretor. Talvez em DVD, num dia em que não tiver absolutamente mais nada para fazer. Quanto aos momentos “dramáticos”, a estupidez aqui rivaliza com a de Olga (Brasil, 2004, dir.: Jayme Monjardim).
Se Fim dos Tempos fosse um filme B, uma história “trash-cult” de “terrir”, poderia merecer algum respeito. Mas o pior é que esta produção “audaciosa” se leva a sério (!). Não é um filme de catástrofe, mas uma catástrofe de filme (com o perdão do trocadilho infame). Enfim, é tanta bobagem cinematográfica que nem sei se vale a pena (se fará alguma diferença) falar do talvez único ponto positivo do filme – que está mais para uma potencialidade frustrada do que para uma realização potente: a insistência paranóica da câmera em filmar o invisível, a ameaça etérea e mortal que se coloca entre a lente da filmadora (na função do nosso olhar) e os objetos concretos e reais do mundo – particularmente a natureza, animada aqui de uma vontade assustadora. Os personagens, assim como o próprio filme, lutam para enxergar e reconhecer a emanação maléfica que “vaza” das coisas. Mas, antes que se fale de um cinema espiritual, de terror psicológico-paranóico, assista-se ao Possuídos (EUA, 2006) de William Friedkin e se terá mais uma prova do lugar que cabe a Shyamalan.
7 comentários:
O filme é repleto de problemas mesmo, mas consegui entrar no clima proposto e achei ao menos "ok". Possuídos realmente é infinitamente superior.
Ciao!
A falta de profundidade vem se mostrando como o grande problema de Shyamalan, na minha opinião. A sinceridade na abordagem de "Sinais" dá lugar, aqui, a um tipo de filme vago que quer dizer algo, mas que não consegue articular muita coisa. Se é picaretagem ou falta de forma, aí já é outra discussão.
Acho que o interessante é não pensar os filmes, e só vê-los pelo o que eles são, com uma abordagem nas entrelinhas talvez.
Acho Fim dos Tempos o pior de Shyamalan, mas ainda gosto de seu cinema.
André,
não acho que "Fim dos tempos" seja essa catástrofe toda não, rsrs. Além da premissa instigante, tem cenas memoráveis, que mostram a força e a vitalidade da criação do Shyamalan (por exemplo, a cena dos suícidos com a arma que vai ficando no asfalto é muito boa). Não é meu Shyamalan preferido, está certo, mas conseguiu me prender na cadeira, segurar minha atenção e ainda me dar alguns sustos. Não seria isso já suficiente para tirá-lo do fundo do poço onde a crítica o está colocando.
Abração
Bem, as opiniões são mesmo variadas a respeito deste filme. A crítica se dividiu. Acho que só o tempo mesmo é que vai determinar os rumos da recepção de Shyamalan.
As cenas dos suicídios possuem mesmo força e vitalidade, pena que a maioria dos outros elementos do filme não segue essa mesma qualidade. A obra fica desigual, desequilibrada, desconjuntada...
Achei esse filme muito ruim, mas não deixo de ainda ser fã desse diretor. Por mais que ele dificulte a minha imparcialidade. Mas, com o tempo acho que hipóteses sobre algo tão inexplicável quanto as atuações, diálogos, roteiro e o próprio diretor surgiram.
Ab.
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