Em 06 de abril de 1968, estréia nos Estados Unidos 2001 – Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick. Não preciso ficar aqui mostrando as qualidades deste filme, à guisa de introdução. Basta lembrar as profundas e – até então – “inéditas” questões filosóficas que esta obra-prima leva para os âmbitos da ficção científica. Questões sócio-filosófico-culturais da modernidade e pós-modernidade, como, por exemplo: o “lance” nietzcheano do homem e do super-homem; a “morte” dos deuses (a consolidação final da sociedade secularizada). Na verdade, tem-se aqui a colocação do homem como o deus de si mesmo, viajando ao fundo do espaço desconhecido para encontrar apenas a si mesmo, renascendo como super-homem graças a essa “odisséia”. Tal é o resultado evolutivo ao qual o ser humano chegou graças (paradoxalmente) à ajuda dos velhos deuses e religiões (que deverão ser necessariamente superados em determinado estágio, restando deles não mais do que uma memória afetiva). Também há o fato de que esses velhos “deuses” constituiriam-se, em verdade, de visitantes alienígenas inteligentes (eram os deuses astronautas?).
Tudo isso é o que nos mostra o filme de Kubrick, explícita ou simbolicamente. Contudo, não cabe a ele a primazia do ineditismo ao tratar dessas mesmíssimas questões usando os meios audiovisuais. Em 22 de setembro de 1967, é exibido na TV dos EUA um episódio da mítica série Jornada nas Estrelas (“Star Trek”) chamado Lamento por Adonis (“Who Mourns for Adonis?”), escrito por Gilbert Ralston (sua única participação na série) e dirigido por Marc Daniels (que encenou 15 episódios). Nele, a tripulação da nave Enterprise descobre um planeta novo e é capturada pelo único habitante do lugar, que é ninguém menos do que o velho deus grego Apolo (Febo para os romanos). O deus sente-se feliz e orgulhoso pelo fato de os seus pupilos humanos lograrem singrar as distâncias do espaço e chegarem até ele; mas, por outro lado, exige do Capitão Kirk e cia. a mesma e velha devoção e submissão que os antigos helenos lhe dedicavam.
Tudo isso é o que nos mostra o filme de Kubrick, explícita ou simbolicamente. Contudo, não cabe a ele a primazia do ineditismo ao tratar dessas mesmíssimas questões usando os meios audiovisuais. Em 22 de setembro de 1967, é exibido na TV dos EUA um episódio da mítica série Jornada nas Estrelas (“Star Trek”) chamado Lamento por Adonis (“Who Mourns for Adonis?”), escrito por Gilbert Ralston (sua única participação na série) e dirigido por Marc Daniels (que encenou 15 episódios). Nele, a tripulação da nave Enterprise descobre um planeta novo e é capturada pelo único habitante do lugar, que é ninguém menos do que o velho deus grego Apolo (Febo para os romanos). O deus sente-se feliz e orgulhoso pelo fato de os seus pupilos humanos lograrem singrar as distâncias do espaço e chegarem até ele; mas, por outro lado, exige do Capitão Kirk e cia. a mesma e velha devoção e submissão que os antigos helenos lhe dedicavam.
Logicamente, aí é que começarão os desentendimentos. Para resumir a história, Kirk, Spock e cia. argumentam que a humanidade já superou as velhas formas de religiões politeístas (Kirk diz até mesmo que um só deus basta) e suas práticas primitivas. Sem conseguir convencer Apolo, eles descobrem um jeito de destruir a tecnologia instalada no templo ali mesmo, que servia de base para que o deus os mantivesse cativos (tal tecnologia funcionava como catalizador e amplificador dos super poderes biológicos do “deus” – o qual pertence, obviamente, a uma antiga raça alienígena). Uma vez livres, os astronautas partem em meio às lágrimas de Apolo, o qual revela ser o último dos deuses a permanecer neste plano de existência, à espera dos homens – os outros “deuses” todos já tinham partido fazia tempo, descrentes da fé da humanidade. Gritando ao seu pai Zeus, a Atena, dentre outros, dizendo que no final das contas eles tinham razão, Apolo desaparece entre lágrimas copiosas e um discurso emocionado e ressentido.
No final, o Dr. McCoy (médico da nave) lamenta que tenha sido necessário fazer o eles fizeram, uma vez que a cultura grega antiga é a base da “nossa” civilização; ao que o Capitão Kirk responde que ficava imaginando o tanto que eles poderiam ter conquistado se tivessem decidido permanecer nos “braços” de Apolo... Para quem achar esse episódio meio bobo, saiba que, com poucas modificações dramatúrgicas, ele seria ousado até para os parâmetros da TV de hoje. Agora, imagine ele ser o que é sendo exibido nos lares norte-americanos de 1967. Compare-se com 2001 – Uma Odisséia no Espaço e veja-se quantas incríveis semelhanças (ainda que, na estrutura, a fita de Kubrick seja bem mais erudita e “adulta”). “Star Trek” é como aquelas versões que o rock and roll ou a música eletrônica fazem das composições de Beethoven. O engraçado é também pensar que a NASA vinha conduzindo as missões “Apollo” desde 1961 – em 1969, a “Apollo 11” levaria o homem à Lua. Suave seja o caminho estelar de Gene Roddenberry...
2 comentários:
"2001" é insuperável quanto ao gênero. Deu vida, ares e movimento ao cinema e ao gênero.
Ciao!
Realmente!
"Star Trek" fez a mesma coisa, só que na TV...
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