A maior conquista de The Walking Dead é, paradoxalmente, não tentar “inovar” o velho e bom gênero dos filmes de zumbis. A brincadeira, muito bem-vinda, parece ser levar para o formato das séries de TV a história que George Romero – o grão-mestre – vem contando ao longo de 6 filmes de cinema (até agora). E isso é realmente entusiasmante – se for bem feito, é claro. Nada como a boa e velha narrativa seriada, da qual a TV norte-americana é mestre, para fazer o espectador viver o apocalipse dos mortos-vivos com as devidas doses de ansiedade e angústia. Se os produtores de The Walking Dead conseguirem fazer nada menos do que foi a recém-concluída Lost, os cinéfilos (no sentido amplo do termo, do qual não deverá ser excluído o velho aparelho televisor) terão muito a agradecer.
Não que a série de J. J. Abrams seja absolutamente impecável; mas, tendo em vista as vicissitudes trazidas pelo meio (a serialização numa TV comercial), o saldo é bem positivo. Assim, premio Lost como uma obra-prima contemporânea (quem discordar, pode xingar à vontade). Quanto a The Walking Dead, que estreou ontem na Fox, a primeira temporada compõe-se de 6 episódios, com a segunda já encomendada. O roteiro e direção ficam a cargo de Frank Darabont, que tem boa experiência em terror: escreveu os roteiros de A Hora do Pesadelo 3 (1987), A Bolha Assassina (1988), A Mosca 2 (1989) e Frankenstein de Mary Shelley (1994); dirigiu episódios da série televisiva Tales From The Cript (1990-1992); escreveu e dirigiu Um Sonho de Liberdade (1994), À Espera de Um Milagre (1999) e O Nevoeiro (2007), todos adaptados de livros de Stephen King.
Com tudo isso, do que já vimos no primeiro episódio da sua nova empreitada, a mise en scène é bem cinematográfica e o roteiro já vai semeando diversos elementos, bastante distintos (alguns bem dramáticos), os quais já deduzimos que entrarão em conflito dentro de algum ponto da série. Os ganchos foram todos muito bem plantados. Acompanhamos a história do policial Rick Grimes (Andrew Lincoln), que vive um casamento em crise. Abatido por um tiro durante uma chamada, ele fica algum tempo (longo, pelo que inferimos) em coma. Quando acorda, vê-se sozinho. O juízo final dos mortos-vivos já havia começado. Tendo de se virar por conta própria, Grimes parte em busca da esposa e do filho, que acredita estarem vivos.
Pelo caminho, vai encontrando outros sobreviventes, como um homem que, junto do seu filho pequeno, reluta em dar o coup de grâce na esposa, transformada em zumbi. Este pequeno drama familiar está bem ao tom e ao gosto dos filmes de Romero, fazendo-nos lembrar também o surpreendente A Estrada (“The Road”, EUA, 2009, dir.: John Hillcoat, sobre o romance de Cormac McCarthy – autor de “Onde Os Fracos Não Têm Vez”); sem contar que a história de um homem em busca da família num mundo pós-apocalíptico traz logo à memória A Guerra dos Mundos de Spielberg. Como se vê, Darabont buscou arvorar-se em troncos largos e muito bem plantados. De resto, se o começo de The Walking Dead lembra o de Extermínio (o despertar, no hospital, para o caos), cabe a consideração de que Frank Darabont parece menos disposto a brincadeiras e estrepolias do que Danny Boyle.
Não vimos, aqui, nenhum zumbi “atleta” (ainda bem). Darabont parece levar muito a sério o seu gênero; apesar de a série basear-se em graphic novels (histórias em quadrinhos), o diretor-roteirista parece estar pouco se lixando para a cultura “pop”. Ponto para ele. O conceito “biológico” dos zumbis de Walking Dead é aquele clássico de George A. Romero: ou seja, mortos-vivos incorrigivelmente “songos-mongos”. A pegada dramática da série também nos parece inspirada pelo criador da Noite dos Mortos-Vivos (1968). Resta a curiosidade de saber se Darabont aproveitará algo das alegorias sócio-políticas irreverentes e subversivas que Romero destila em todas as suas fitas. Pago para ver. Enfim, esqueça Danny Boyle e esqueça, mais ainda, Zack Snyder (o do “remake” de Dawn of the Dead de Romero, traduzido por “Madrugada dos Mortos”). Frank Darabont não perde tempo e morde logo as raízes. Muito bem.
Não que a série de J. J. Abrams seja absolutamente impecável; mas, tendo em vista as vicissitudes trazidas pelo meio (a serialização numa TV comercial), o saldo é bem positivo. Assim, premio Lost como uma obra-prima contemporânea (quem discordar, pode xingar à vontade). Quanto a The Walking Dead, que estreou ontem na Fox, a primeira temporada compõe-se de 6 episódios, com a segunda já encomendada. O roteiro e direção ficam a cargo de Frank Darabont, que tem boa experiência em terror: escreveu os roteiros de A Hora do Pesadelo 3 (1987), A Bolha Assassina (1988), A Mosca 2 (1989) e Frankenstein de Mary Shelley (1994); dirigiu episódios da série televisiva Tales From The Cript (1990-1992); escreveu e dirigiu Um Sonho de Liberdade (1994), À Espera de Um Milagre (1999) e O Nevoeiro (2007), todos adaptados de livros de Stephen King.
Com tudo isso, do que já vimos no primeiro episódio da sua nova empreitada, a mise en scène é bem cinematográfica e o roteiro já vai semeando diversos elementos, bastante distintos (alguns bem dramáticos), os quais já deduzimos que entrarão em conflito dentro de algum ponto da série. Os ganchos foram todos muito bem plantados. Acompanhamos a história do policial Rick Grimes (Andrew Lincoln), que vive um casamento em crise. Abatido por um tiro durante uma chamada, ele fica algum tempo (longo, pelo que inferimos) em coma. Quando acorda, vê-se sozinho. O juízo final dos mortos-vivos já havia começado. Tendo de se virar por conta própria, Grimes parte em busca da esposa e do filho, que acredita estarem vivos.
Pelo caminho, vai encontrando outros sobreviventes, como um homem que, junto do seu filho pequeno, reluta em dar o coup de grâce na esposa, transformada em zumbi. Este pequeno drama familiar está bem ao tom e ao gosto dos filmes de Romero, fazendo-nos lembrar também o surpreendente A Estrada (“The Road”, EUA, 2009, dir.: John Hillcoat, sobre o romance de Cormac McCarthy – autor de “Onde Os Fracos Não Têm Vez”); sem contar que a história de um homem em busca da família num mundo pós-apocalíptico traz logo à memória A Guerra dos Mundos de Spielberg. Como se vê, Darabont buscou arvorar-se em troncos largos e muito bem plantados. De resto, se o começo de The Walking Dead lembra o de Extermínio (o despertar, no hospital, para o caos), cabe a consideração de que Frank Darabont parece menos disposto a brincadeiras e estrepolias do que Danny Boyle.
Não vimos, aqui, nenhum zumbi “atleta” (ainda bem). Darabont parece levar muito a sério o seu gênero; apesar de a série basear-se em graphic novels (histórias em quadrinhos), o diretor-roteirista parece estar pouco se lixando para a cultura “pop”. Ponto para ele. O conceito “biológico” dos zumbis de Walking Dead é aquele clássico de George A. Romero: ou seja, mortos-vivos incorrigivelmente “songos-mongos”. A pegada dramática da série também nos parece inspirada pelo criador da Noite dos Mortos-Vivos (1968). Resta a curiosidade de saber se Darabont aproveitará algo das alegorias sócio-políticas irreverentes e subversivas que Romero destila em todas as suas fitas. Pago para ver. Enfim, esqueça Danny Boyle e esqueça, mais ainda, Zack Snyder (o do “remake” de Dawn of the Dead de Romero, traduzido por “Madrugada dos Mortos”). Frank Darabont não perde tempo e morde logo as raízes. Muito bem.
2 comentários:
Ficou a dever aos quadrinhos.
(Sei que é uma opinião clichê, mas é como entendo a verdade).
Beleza!
Tenho curiosidade mesmo em ler os quadrinhos, mas a grana anda curta pra trazê-los de fora (e baixar gibi pela internet é algo hediondo a qualquer mínimo apreciador da "9a arte"...)
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