quarta-feira, outubro 22, 2008

O Último Tiroteio


Filme exibido na 32ª Mostra de Cinema de são Paulo.

Descobrir certos filmes e cineastas do passado – aqueles não tão conhecidos do público mais geral, mas altamente valorizados pelos cinéfilos mais eruditos – leva a agradáveis surpresas, daquelas que fazem parte tão peculiar da experiência do cinema. O negócio é garimpar. E ficar atento. Hoje, é o caso de Kihachi Okamoto (1924-2005), que dirigiu quase 40 filmes, transitou por diversos gêneros (foi um cineasta essencialmente de gênero) e promoveu misturas entre eles. O Último Tiroteio (“Ankokugai No Taiketsu”, Japão, 1960) é uma fita adorável para quem gosta da estética dos anos 60, ou seja, aquela coisa meio “Nouvelle Vague”, meio Cinema Novo, meio psicodelia, meio tropicalismo... (cada “meio” forma um quarto, como se vê). Tudo resumido no cinema meio “vintage” de um Quentin Tarantino (ainda que meio frívolo).

A história é a de um investigador de polícia (Saburo Fujioka, interpretado pelo clássico Toshiro Mifune) insubordinado, impulsivo e "esquentadinho", que está - além do mais - sob suspeita de corrupção. Assim, ele é transferido para a cidade de Kojin, assolada por uma brutal guerra de gangues mafiosas, o clã Kozuka e o clã Oka. Durante um tiroteio, um (ex) gângster chamado Tetsuo Maruyama (dos Kozuka) é salvo por Fujioka e os dois se tornam meio que amigos. Mais tarde, o detetive descobre que a esposa dele - morta tempos atrás - provavelmente tinha sido assassinada pela gangue Oka, e decide investigar. Mas ele descobre também que o seu amigo Tetsuo está buscando vingança pelo ocorrido e pretende levá-la a cabo mesmo que tenha de entrar em conflito com o policial. O "último tiroteio" do título será uma cena clássica.

O filme é um policial – bem de gênero mesmo – feito à base de crimes, mistérios, traições, reviravoltas e redenções. Com o grande Toshiro Mifune no papel central (como um investigador de polícia indisciplinado e impulsivo). Mas há ótimos elementos de comédia (apenas uma certa ironia romântica, nada muito burlesco) e até, quem sabe, de musical (a imagem um tanto recorrente dos quatro assassinos profissionais fazendo as vezes de conjunto musical de bar é incrível). É um filme “estiloso”; nada muito profundo, universal, sublime, etc. Apenas uma ótima diversão – para que mais? E uma diversão inspiradora, porque feita de modo competente. É uma arte fútil como um desfile de moda, repleta de gratuidades estéticas. Mas competente no seu fazer e no entretenimento almejado pelo gênero. Está de bom tamanho.

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