Vida longa às idéias malucas em cinema! Ben Stiller, como diretor e roteirista, parece estar se especializando em “mocking movies” (filmes de tiração de sarro). Trovão Tropical (“Tropic Thunder”, EUA, 2008), que satiriza o universo de Hollywood e o star system, é a evolução de Zoolander (2001), que ridicularizava o “metier” dos super models. O roteiro, escrito também por Justin Theroux – que interpretou o cineasta cheio de problemas em Cidade dos Sonhos (2002, David Lynch) –, trata de um grupo de super-astros de Hollywood envolvidos nas filmagens do “mais caro” filme de guerra já feito. Todas as diferentes idiossincrasias típicas das celebridades estão detalhadamente representadas. O melhor de tudo é ver Robert Downey Jr. representando um homem negro, com a devida (e incrível) maquiagem e todos os estereótipos (junto de Homem de Ferro, este ano é a hora e vez de Downey Jr.).
Mas o filme está longe de girar ao seu redor. O elenco de estrelas é surpreendente, algumas fazendo apenas pequenas pontas (como já tinha acontecido em Zoolander), em alguns casos difíceis de reconhecer: o próprio Stiller, Jack Black, Mathew McConaughey, Nick Nolte, Tom Cruise, Tobey Maguire... O filme desconstrói todos os códigos dramáticos de filmes de guerra e das grandes produções da indústria como um todo: reconhecem-se facilmente cenas que se fazem de paródia de Platoon (1986, Oliver Stone) e Apocalipse Now (1979, Francis Ford Coppola). O primeiro terço da projeção é particularmente hilário nesse sentido. Mas e quanto ao resto? Bem, Trovão Tropical não é uma sátira desmoralizadora; está mais para uma daquelas homenagens auto-irônicas e metalingüísticas que a indústria faz de si mesma. Os espectadores de espírito mais crítico e iconoclasta poderão não gostar, mas não há nada de errado em tais brincadeiras mais ou menos ingênuas.
O mais interessante é que este filme brinca com as sucessivas camadas narrativas que escalonam a distância entre a realidade e a ficção em gradações bem sutis, não deixando de haver perturbadoras misturas. São atores (os reais) que interpretam atores (os personagens “primários”) que interpretam personagens (personagens “secundários”) que, por sua vez, baseiam-se em pessoas “reais” (em relação à primeira camada da fabulação, no universo dos personagens primários). Toda essa confusão aparece numa fala dita por Downey Jr., numa cena dramática – mas com intenções irônicas e metalingüísticas, sub-repticiamente –: “Eu sou um cara representando um cara que se disfarça de outro cara”. O primeiro desses três “caras” citados é o próprio Downey (maneira sutil de quebrar a quarta parede).
O mais curioso é os personagens-atores descobrirem que o filme que estavam rodando se transformara em realidade e que, a partir desse momento, eles terão de virar soldados de verdade se quiserem salvar a própria pele. A ficção sobre uma realidade que vira ficção que vira realidade que é, no fundo, ficção. A fita que eles estavam rodando, “Tropic Thunder”, era baseada em fatos “reais”. A mesma proposta já havia sido realizada, no contexto da ficção científica e, mais particularmente, no da série clássica Star Trek, no ótimo longa Heróis Fora de Órbita (“Galaxy Quest”, EUA, 1999, dir.: Dean Parisot). Além das várias camadas narrativas, tem-se a comédia que vira drama que é, no fundo, comédia. O filme de Stiller brinca também com as fórmulas e os tiques do cinema dramático, cinema de arte, cinema independente ou cult.
Os “mocking trailers” de outros filmes dos personagens-atores, que aparecem logo no começo, logo após que são exibidos os trailers reais da sala de exibição e antes de aparecerem os créditos do filme em questão, chegam quase a confundir o espectador, mas são também divertidíssimos, especialmente o do “filme de arte” estrelado por Robert Downey Jr. (creditado como Kirk Lazarus) e Tobey Maguire (como ele mesmo). Também foi feito um mockumentary (documentário falso, satírico), chamado Rain of Madness, sobre a produção de “Tropic Thunder” (não o filme que vemos no cinema, mas o filme que os personagens-atores tentam realizar). Esperemos que saia junto dos extras do DVD. Tudo isso mostra que ainda há muito a ser feito na linha iniciada por This Is Spinal Tap (EUA, 1984, Rob Reiner), o qual discuti aqui em junho.
Trovão Tropical também é um daqueles filmes que nos dão vontade de fazer filmes (filmes que despertam vocações). Sentimos nele a alegria, o entusiasmo de filmar, de fazer cinema. Mesmo tratando de uma grande e milionária produção, percebe-se que o filme é profundamente vivenciado – ainda que de maneiras bem diferentes – pelos atores e por outros artistas / profissionais empenhados. Vivenciado de uma maneira séria, mas ao mesmo tempo brincalhona, é uma paixão quase juvenil que vislumbramos em alguns momentos. Meninos que brincam e brigam ao redor de um grande e caro brinquedo – e brigam também por ele. O que nos lembra a famosa frase do jovem Orson Welles, ao chegar em Hollywood: “Este é o maior trenzinho elétrico que um garoto já teve!”.
Mas o filme está longe de girar ao seu redor. O elenco de estrelas é surpreendente, algumas fazendo apenas pequenas pontas (como já tinha acontecido em Zoolander), em alguns casos difíceis de reconhecer: o próprio Stiller, Jack Black, Mathew McConaughey, Nick Nolte, Tom Cruise, Tobey Maguire... O filme desconstrói todos os códigos dramáticos de filmes de guerra e das grandes produções da indústria como um todo: reconhecem-se facilmente cenas que se fazem de paródia de Platoon (1986, Oliver Stone) e Apocalipse Now (1979, Francis Ford Coppola). O primeiro terço da projeção é particularmente hilário nesse sentido. Mas e quanto ao resto? Bem, Trovão Tropical não é uma sátira desmoralizadora; está mais para uma daquelas homenagens auto-irônicas e metalingüísticas que a indústria faz de si mesma. Os espectadores de espírito mais crítico e iconoclasta poderão não gostar, mas não há nada de errado em tais brincadeiras mais ou menos ingênuas.
O mais interessante é que este filme brinca com as sucessivas camadas narrativas que escalonam a distância entre a realidade e a ficção em gradações bem sutis, não deixando de haver perturbadoras misturas. São atores (os reais) que interpretam atores (os personagens “primários”) que interpretam personagens (personagens “secundários”) que, por sua vez, baseiam-se em pessoas “reais” (em relação à primeira camada da fabulação, no universo dos personagens primários). Toda essa confusão aparece numa fala dita por Downey Jr., numa cena dramática – mas com intenções irônicas e metalingüísticas, sub-repticiamente –: “Eu sou um cara representando um cara que se disfarça de outro cara”. O primeiro desses três “caras” citados é o próprio Downey (maneira sutil de quebrar a quarta parede).
O mais curioso é os personagens-atores descobrirem que o filme que estavam rodando se transformara em realidade e que, a partir desse momento, eles terão de virar soldados de verdade se quiserem salvar a própria pele. A ficção sobre uma realidade que vira ficção que vira realidade que é, no fundo, ficção. A fita que eles estavam rodando, “Tropic Thunder”, era baseada em fatos “reais”. A mesma proposta já havia sido realizada, no contexto da ficção científica e, mais particularmente, no da série clássica Star Trek, no ótimo longa Heróis Fora de Órbita (“Galaxy Quest”, EUA, 1999, dir.: Dean Parisot). Além das várias camadas narrativas, tem-se a comédia que vira drama que é, no fundo, comédia. O filme de Stiller brinca também com as fórmulas e os tiques do cinema dramático, cinema de arte, cinema independente ou cult.
Os “mocking trailers” de outros filmes dos personagens-atores, que aparecem logo no começo, logo após que são exibidos os trailers reais da sala de exibição e antes de aparecerem os créditos do filme em questão, chegam quase a confundir o espectador, mas são também divertidíssimos, especialmente o do “filme de arte” estrelado por Robert Downey Jr. (creditado como Kirk Lazarus) e Tobey Maguire (como ele mesmo). Também foi feito um mockumentary (documentário falso, satírico), chamado Rain of Madness, sobre a produção de “Tropic Thunder” (não o filme que vemos no cinema, mas o filme que os personagens-atores tentam realizar). Esperemos que saia junto dos extras do DVD. Tudo isso mostra que ainda há muito a ser feito na linha iniciada por This Is Spinal Tap (EUA, 1984, Rob Reiner), o qual discuti aqui em junho.
Trovão Tropical também é um daqueles filmes que nos dão vontade de fazer filmes (filmes que despertam vocações). Sentimos nele a alegria, o entusiasmo de filmar, de fazer cinema. Mesmo tratando de uma grande e milionária produção, percebe-se que o filme é profundamente vivenciado – ainda que de maneiras bem diferentes – pelos atores e por outros artistas / profissionais empenhados. Vivenciado de uma maneira séria, mas ao mesmo tempo brincalhona, é uma paixão quase juvenil que vislumbramos em alguns momentos. Meninos que brincam e brigam ao redor de um grande e caro brinquedo – e brigam também por ele. O que nos lembra a famosa frase do jovem Orson Welles, ao chegar em Hollywood: “Este é o maior trenzinho elétrico que um garoto já teve!”.
3 comentários:
Hehehe, parece ser um filme engraçado. Nao sou fã de comedias, mas ate fiquei curioso de conferir essa obra.
abraços.
Isso é que é forma de fazer rir atirando para todos os lados!
O filme é bem engraçado mesmo! Pode apostar...
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