sábado, julho 26, 2008

Batman - O Cavaleiro das Trevas


“Why so serious?”

Há alguma coisa neste Batman – O Cavaleiro das Trevas (“The Dark Knight”, EUA, 2008, dir.: Christopher Nolan) que desvia dos códigos tradicionais dos filmes de super-heróis. Talvez muita coisa, e muita coisa óbvia. Já é bem grande a distância entre as duas releituras que Christopher Nolan fez do “homem-morcego” (incluindo o Batman Begins, de 2005) e as duas já clássicas versões de Tim Burton (respectivamente: Batman – 1989; e Batman Returns – 1992). Por mais interessante que sejam as produções de Burton, há algo nelas que já envelheceu, talvez o caráter romântico, de fábula (até mesmo infantil – marca registrada do diretor). Enfim, o Batman de Burton está mais para o super-herói tradicional, apesar da atmosfera “byroniana” dos filmes.

Já o homem-morcego de Nolan prioriza o ultra-realismo (quase um naturalismo) que parece caracterizar o gosto contemporâneo. O lusco-fusco ético e moral deste “Cavaleiro das Trevas”, as questões psicológicas e sobretudo sociais que são apresentadas e discutidas fazem o filme parecer mais um drama, um “thriller”, do que uma aventura de mocinho e bandido. Este Batman está mais para Jason Bourne do que para James Bond. O título original The Dark Knight é mais do que adequado. É claro que no final do filme sobrecarrega-se um pouco a dose de condescendência, mas afinal de contas não deixa de se tratar de uma película de Hollywood com censura de 12 anos de idade.

Nos filmes de Burton, há algo (muito talvez) de circense – o que não é mau. O magnífico Coringa de Jack Nicholson puxa mais para o clássico Coringa de César Romero, da clássica – e burlesca – série de TV. Já este “Joker” de Heath Ledger é produto dos psicopatas de filmes policiais ou de terror contemporâneos. O próprio fato de a sua maquiagem ser maquiagem mesmo, e de o seu sorriso largo ter sido representado através daquelas cicatrizes bizarras já revela bastante sobre a proposta “adulta” deste filme. De resto, esta Gothan City não é de jeito nenhum aquela cidadela caricata de contos de fada macabros do ultra-romantismo (tal como ela aparece em Burton).

A “cidade gótica” de Nolan não é nada mais nada menos do que a “polis” contemporânea: absolutamente esquizofrênica. Não é uma comunidade de verdade, mas um aglomerado no qual as partes não compõem um todo coeso e coerente. Chame-se isso de decadência, mas talvez seja apenas o resultado da industrialização e da cultura do consumo. Quem vive em São Paulo ou no Rio de Janeiro entende muito bem isso. Aliás, nossas cidades é que são “Gothans” de verdade... Corroída pela violência, pela indiferença, pelo cansaço, pela ansiedade, pela corrupção, pelo egoísmo, pela hipocrisia, Gothan City é a civilização encarnada muito bem pelos seus personagens: o promotor Harvey “Duas Caras” Dent, o psicótico anarquista Coringa e o cavaleiro andante Batman.

São facetas aparentemente contraditórias, mas que se completam. Se Christopher Nolan decidir abandonar a franquia, um diretor com certeza interessante para assumi-la seria David Fincher. Enfim, é difícil estabelecer paralelos entre este “Batman” e outros filmes de super-heróis uniformizados e mascarados. Este fruto se encaixa na árvore genética de outros tipos de fitas, com outras propostas. E é um filme que funciona muito fluentemente, também graças ao incrível elenco de apoio: Heath Ledger, Aaron Eckhart, Michael Caine, Morgan Freeman, Gary Oldman... Só esses atores todos já valem a diversão. E que continuem deixando o infeliz do Robin de fora, por favor.

8 comentários:

Carol. disse...

Gothan de Tim Burton foi, desde pequena, minha cidade favorita. Sinceramente, não me pergunte por quê. E, mesmo entendendo a razão de uma Gothan tão diferente, senti falta.
Agora o Coringa... ah, o Coringa. Sem dúvida meu personagem favorito. E duas formas diferentes de um mesmo personagem que foram bem sucedidas! Confesso ter medo dos dois... ahahaha palhaços, por menos psicopatas que pareçam, me assustam!
E realmente, a nova trama abrange aspectos sociais muito além do possível em um filme de herói e bandido. E a questão do 'tipo heróico' de Batman acaba sendo muito bem retratada.
Enfim, torna-se possível sempre perceber, de uma forma ou de outra, o perfeito retrato do lado humano que carrega a humanidade nas risadas e delírios de um Coringa.
Sim, André, sem Robin!! Também não sou lá muito fã dele... hahahaha

beijos.

Anônimo disse...

Ótima resenha André! O filme é realmente uma quebra ao tradicionar e injeta nova força e ousadia ao gênero. Adorei cada segundo. E ainda tem Ledger...soberbo!

Ciao!

Romulo Perrone disse...

gostei!

André Renato disse...

Pena que Ledger não poderá voltar pra uma próxima... Mas esta nova franquia ainda tem o que dar!

Davi Araújo disse...

Evoé, André!

Gostei da tua linha de análise. Também escrevi sobre o filme no meu blog. Dá uma olhada.

Abreijos textuais
Aleph Davis

Amenar Neto disse...

Acredito que, quando eu digo que vi 3 vezes no cinema, não precisa de comentários.

Anos-luz de Batman Begins. Isso é o filme do Batman que há anos espero. Esse é um dos poucos longas que merece está com a sala lotada. A perfeita interação entre Qualidade e Quantidade.

Oscar para Ledger.

Amenar Neto disse...

Morra Robin!

Vinhote Que Rusga disse...

Eu acho justamente que um baita desafio recompensador seria reimaginar o Robin nessa nova linha. Não que ele não seja, historicamente, um personagem queima-filme (para as obras em que apareceu e para a própria imagem do morcegão), mas faz parte do universo e merece uma chance.

Eu espero que ele apareça, seja carismático e morra. Não só porque seria um excelente mecanismo dramático, mas porque o personagem tem um certo karma a ser pago no meio audiovisual.