O TCM passou hoje um ótimo episódio de Alfred Hitchcock Presents, desta vez dirigido pelo próprio “mestre do suspense”. A escrita cinematográfica dele é incrível. É um estilo único, facilmente reconhecível em certos momentos-chave da exibição. A história é a do Sr. Herbert Carpenter, um fleumático “gentleman” britânico, que está escavando o chão do porão de sua casa “para instalar uma adega de vinhos”. Na verdade, ele pretende matar a esposa – a Senhora Hermione Carpenter – e enterrá-la ali. Ambos estão planejando uma longa viagem aos EUA (a negócios de Herbert), mas a esposa quer que eles estejam de volta antes do natal (daí o título “Back for Christmas”) – pois ela dará um presente surpresa para o marido, conforme confessa em segredo às amigas. Na véspera da viagem, o Sr. Carpenter realiza o seu intento homicida e parte em definitivo para a América, onde se instala profissionalmente e passa a escrever cartas em nome da mulher para os amigos e parentes, explicando a decisão de ficar no Novo Mundo.
Um belo dia (antes do natal), junto da correspondência cotidiana, o Sr. Carpenter recebe um telegrama, destinado à sua esposa, avisando do início de um serviço de construção e decoração a ser prestado na velha casa da Inglaterra, requerido por Hermione. Abre tranqüilamente o envelope e o que descobre deixa-o tórrido: o serviço era a construção de uma adega de vinhos no porão, para a qual seria escavado um buraco no chão mais profundo do que a cova rasa fabricada pelo assassino. O Sr. Herbert descobre, da pior maneira, por que a esposa queria tanto que eles voltassem para o natal. Como sempre, a ironia é a chave do fecho de ouro da narrativa. E a direção segura de Hitchcock se faz expressiva particularmente no momento em que Herbert está a escavar o buraco retangular no porão, posicionado em uma das cabeceiras, enquanto a esposa, na outra ponta, lhe fala da inutilidade de ele se preocupar em escavar com medidas tão precisas e exageradas.
A câmera, então, fixa um primeiro plano no rosto preocupado de Herbert, no qual logo adivinhamos segundas intenções. Ele mede com o olhar o buraco, ostensivamente. A câmera, então, num movimento subjetivo, traça uma panorâmica do buraco, de uma ponta à outra, onde encontra os pés de Hermione. Porém, o olhar perscrutador da câmera (e do próprio Sr. Carpenter) não para aí; sobe pelas pernas da mulher até encontrar a sua cabeça que fala sem parar. É neste momento, através deste movimento de câmera, ligado ao primeiro plano inicial do rosto obcecado do homem, que percebemos a verdade: que aquele buraco não é para acomodar vinhos, e sim o cadáver da mulher – que o marido pretende matar. Eis mais um perfeito exemplo da arte de Alfred Hitchcock: expressar pensamentos através de meios exclusivamente cinematográficos. Ao longo do episódio, o uso significativo da profundidade de campo e a insistência de primeiros planos no rosto preocupado do Sr. Herbert também são marcas indeléveis do maior diretor de todos os tempos.
Um belo dia (antes do natal), junto da correspondência cotidiana, o Sr. Carpenter recebe um telegrama, destinado à sua esposa, avisando do início de um serviço de construção e decoração a ser prestado na velha casa da Inglaterra, requerido por Hermione. Abre tranqüilamente o envelope e o que descobre deixa-o tórrido: o serviço era a construção de uma adega de vinhos no porão, para a qual seria escavado um buraco no chão mais profundo do que a cova rasa fabricada pelo assassino. O Sr. Herbert descobre, da pior maneira, por que a esposa queria tanto que eles voltassem para o natal. Como sempre, a ironia é a chave do fecho de ouro da narrativa. E a direção segura de Hitchcock se faz expressiva particularmente no momento em que Herbert está a escavar o buraco retangular no porão, posicionado em uma das cabeceiras, enquanto a esposa, na outra ponta, lhe fala da inutilidade de ele se preocupar em escavar com medidas tão precisas e exageradas.
A câmera, então, fixa um primeiro plano no rosto preocupado de Herbert, no qual logo adivinhamos segundas intenções. Ele mede com o olhar o buraco, ostensivamente. A câmera, então, num movimento subjetivo, traça uma panorâmica do buraco, de uma ponta à outra, onde encontra os pés de Hermione. Porém, o olhar perscrutador da câmera (e do próprio Sr. Carpenter) não para aí; sobe pelas pernas da mulher até encontrar a sua cabeça que fala sem parar. É neste momento, através deste movimento de câmera, ligado ao primeiro plano inicial do rosto obcecado do homem, que percebemos a verdade: que aquele buraco não é para acomodar vinhos, e sim o cadáver da mulher – que o marido pretende matar. Eis mais um perfeito exemplo da arte de Alfred Hitchcock: expressar pensamentos através de meios exclusivamente cinematográficos. Ao longo do episódio, o uso significativo da profundidade de campo e a insistência de primeiros planos no rosto preocupado do Sr. Herbert também são marcas indeléveis do maior diretor de todos os tempos.
5 comentários:
André,
Tudo bem?
Eles estão exibindo os episódios dublados?
Você já viu/leu um livro em que Hitchcock indica seus contos de suspense favoritos?
Já acessou a Moviemobz.com?
Agora temos um blog. Visite: www.mundomobz.blogspot.com
Um abraço.
Caro André!
As séries televisivas do Hitchcock têm momentos muito interessantes. Quero comprar os pacotes de episódios em DVD. Aqui em Portugal, já foram editadas as primeiras três temporadas.
Gostei muito do que escreveste. Quando vir de novo este «Back For Christmas», vou-me recordar do teu comentário. Abraços!
Meu Deus, não sabia que o Manoel de Oliveira lia seu blog... pergunta ele qual é o segredo da vida eterna! hhahah
Quanto aos episódios do Hitch, estou perdendo tudo até agora... humpf!
www.cineart2.blogspot.com
Pois é, pessoal! O mercado de séries em DVD aqui no Brasil ainda nos deve o lançamento muita coisa boa (e antiga, principalmente)... Enquanto isso, só nos resta (opções bem restritas) o download da Internet ou (poucos) canais de TV paga...
Grande e inesgotável Hitch!
E excelente blog.
Saudações
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