quarta-feira, julho 09, 2008

Alfred Hitchcock Presents


O TCM começou a exibir, já faz quase uns dois meses, creio eu, a clássica série Alfred Hitchcock Presents. O empreendimento durou sete temporadas, entre 1955 e 1962. São pequenas histórias – em média 20 minutos cada uma – de crime e suspense psicológico, bem ao gosto do “mestre do suspense”. Para quem gosta dos filmes de Hitchcock, já viu todos eles e quer mais, assista a esta série. É quase como uma “Além da Imaginação” sem o lado sobrenatural. Contudo, não são apenas os roteiros que interessam. A forma cinematográfica dos episódios é cuidadosamente elaborada: não são dirigidos pelo próprio cineasta, mas sentimos o “olhar” dele em todos os momentos. A expressividade aqui fica bem de acordo com os (rígidos) princípios estéticos do mestre: expressar uma idéia numa forma exclusivamente cinematográfica.

Assim, a série é rica em primeiros planos significativos, em profundidade de campo, em movimentos de câmera sugestivos, etc. Sem contar que as “técnicas” do “understatement” (o implícito ao modo inglês – muitas vezes irônico) e do “mcguffin” (um objeto ou acontecimento misterioso que é apenas pretexto para que a trama discuta outros assuntos) também se fazem presentes aqui. Agora, algo que é particularmente saboroso são as introduções e os encerramentos dos episódios, apresentados pelo próprio Alfred, num cenário de estúdio com objetos que fazem parte da história em questão. Altamente sarcástico, Hitchcock apresenta os “causos”, faz comentários de humor negro, “conversa” com o espectador. Influenciada pelos filmes, esta série influenciou um filme do cineasta: Psicose (1960), filmado com a mesma equipe e no modo operacional do seriado de TV. Aí embaixo vão as sinopses de alguns episódios dos mais interessantes que já vi.

Don’t Come Back Alive (23 de outubro de 1955)
Um casal encontra-se em graves problemas financeiros. O marido, Frank, acaba de conseguir um emprego, mas ainda demorará algum tempo para sanar as dívidas mais urgentes. Então, ele tem uma idéia e a propõe à esposa: que ela “desapareça” por sete anos – tempo suficiente para que a companhia de seguros a dê como morta. Ao cabo desse tempo, Frank recolherá o seguro de vida dela, ambos se reencontrarão e sanarão suas dívidas. A mulher, Mildred, em princípio fica relutante, mas aceita. O começo do processo é difícil, a distância e o segredo faz os dois sofrerem. Além do mais, o agente da companhia seguradora crê com todas as forças que Frank matou a esposa para dar o golpe no seguro. Assim, ele promove uma dura investigação durante todos os sete anos. No começo, o agente acha que Frank enterrara a esposa no canteiro de flores, remexido recentemente. Então, ele escava todo o lugar, mas não encontra nada. Mesmo assim, não desiste.

Do outro lado, ao longo dos sete anos, Mildred vai se acostumando à sua nova vida, aprendendo a apreciá-la e até descobre um novo amor. Finalmente, no final deste tempo todo, Frank está se preparando para ir ao escritório da companhia pegar o cheque de trinta mil dólares, quando aparece à sua porta Mildred. Frank a repreende, pois se alguém a ver, o plano todo vai por água abaixo. Mildred afirma que quer sair do esquema e abandonar o marido. Agora, ela vive uma nova e mais interessante vida. Possesso de indignação, Frank mata a esposa, enterra-a apressadamente no mesmo canteiro de flores e sai para o banco. Nisto, aparece o agente da corretora, que parabeniza Frank por tê-lo “vencido”, mas se surpreende com o mal estado do canteiro de flores. Em mostras de amizade, ele se oferece a arrumá-lo, já pegando na pá e começando a escavar, acompanhado pelo olhar hirto de Frank...

Into Thin Air (30 de outubro de 1955)
Uma jovem – Diana Winthrop – e a sua mãe chegam a Paris. A velha senhora começa a se sentir mal. Elas se hospedam em um hotel e a filha chama um médico. O doutor examina a Sra. Winthrop e pede que a filha vá buscar um certo remédio com a esposa dele, a uma certa distância dali. Quando retorna, a Srta. Winthrop descobre que funcionário algum do hotel a conhece ou se lembra dela, tampouco de sua mãe. Não há quaisquer registros, provas ou testemunhas de que as duas mulheres estavam hospedadas ali. A mãe desapareceu e, naturalmente, o médico também. A jovem passa a ser dissuadida por todos, inclusive pela polícia, de sua busca e de sua “paranóia”. Depois de várias peripécias, a Srta. Winthrop descobre que foi empreendida toda uma operação para remover a sua mãe e qualquer sinal de sua passagem por ali, pois a velha estava infectada com peste bubônica, e a última coisa que as autoridades queriam era que a notícia se espalhasse. Esta história foi citada pelo próprio Hitchcock nas famosas entrevistas que deu para François Truffaut. Temos aqui a clássica situação hitchcockiana do indivíduo pego nas redes de uma sigilosa conspiração (ou acusação), da qual ele não sabe coisa alguma, nem coisa alguma sobre o seu próprio destino.

A Bullet for Baldwin (01 de janeiro de 1956)
Numa sexta-feira, um escriturário é demitido pelo patrão e atira nele, matando-o. Na segunda, ao voltar para o escritório, o assassino encontra o patrão vivo e atuante, sem fazer qualquer referência ao ocorrido, nem ao fato de tê-lo demitido. O pobre empregado fica terrivelmente intrigado e volta a trabalhar normalmente. Na verdade, o sub-chefe descobrira o corpo assassinado do patrão e decidira escondê-lo, colocando no lugar um sósia, pois a empresa estava para fechar um grande contrato. Assim que os papéis são assinados, o sub-chefe demite o infeliz do escriturário, que o mata a tiro de revólver, da mesma maneira como assassinara o primeiro. Outro tema hitchcockiano, com destaque para a ironia.

Um comentário:

nando disse...

Opa, importante mencionar que os 3 episódios comentados não foram dirigidos pelo próprio Hitchc. O primeiro é do Robert Stevenson, o segundo do Don Medford, e o terceiro eu não sei porque não tenho. Bom... tô comentando de novo porque você está falando sobre meu grande mestre. Continue assim.