Segue abaixo um trecho da entrevista que o diretor James Cameron deu à revista Variety, publicada on-line no dia 10 de abril. Tirem suas conclusões. Para mim, Cameron tem o senso de oportunidade de um Georges Méliès, mas com o senso artístico de um... sei lá, pensem no paradigma de um “tapado” metido a artista.
JAMES CAMERON ATACA EM 3-D
O timoneiro de “Avatar” revela a arte e a ciência do estéreo
Por David S. Cohen
A mais nova produção do diretor James Cameron, “Avatar”, precisa ser colocada como um dos mais antecipados projetos de filme da memória recente. Sendo seu primeiro filme narrativo desde “Titanic” (1997), o maior recorde de bilheteria de todos os tempos, “Avatar” será a realização do antigo sonho de Cameron em fundir o 3-D digital em estéreo com uma história épica de tela grande. David S. Cohen, da “Variety”, conduziu esta entrevista por e-mail com Cameron; é a mais extensiva exploração do 3-D já feita pelo diretor, no entanto, ele ainda mantém qualquer informação mais específica sobre “Avatar” em completo segredo.
Você já trabalhou com o 3-D antes e tem sido o evangelista dessa tecnologia. Temos ouvido várias pessoas na indústria falarem da importância de proporcionar nas salas de exibição uma experiência que vá além do que as pessoas possam ter em casa. Vemos que as platéias têm gostado do 3-D, e que ele tem se tornado o carro-chefe na adoção de sistemas de cinema digital nas salas de exibição. Mas, falando estritamente como um contador de histórias e como um diretor, o que é que o 3-D acrescenta ao lado criativo de um projeto?
Eu acredito que Godard tenha dito muito bem, tempos atrás. Cinema não é verdade 24 vezes por segundo, é mentira 24 vezes por segundo. Atores fingem ser pessoas que eles não são, em situações e cenários que são completamente ilusórios. O dia como noite, o seco como molhado, Vancouver como Nova Iorque, flocos de isopor como neve. O edifício é uma parede fina de cenário, a luz do sol é néon, e o barulho do tráfego é providenciado pelos engenheiros de som. É tudo ilusão, mas o prêmio vai para aqueles que tornarem a fantasia o mais real, o mais visceral, o mais envolvente possível. A sensação de verossimilhança é vastamente engrandecida pela ilusão estereoscópica. Particularmente nos tipos de filmes que têm sido minha especialidade, a experiência da fantasia é mais bem servida por um senso de detalhe e de realidade em textura que apóiem a narrativa a cada momento. As personagens, os diálogos, o desenho de produção, a fotografia e os efeitos visuais devem todos combinar esforços para dar a ilusão de que o que você está vendo está realmente acontecendo, não importa o quão improvável a situação possa ser se você parar para pensar nela – como um ciborgue viajando de volta no tempo para matar uma garçonete e mudar a história, por exemplo. Quando você vê uma cena em 3-D, o senso de realidade é sobrecarregado. O córtex visual é persuadido, em um nível subliminar mas penetrante, de que o que se vê é real. Todos os filmes que eu fiz previamente poderiam absolutamente ter sido beneficiados com o 3-D. Então, criativamente, eu vejo o 3-D como uma natural extensão do meu artesanato cinematográfico.
Um filme em 3-D imerge você na cena, com um senso físico de presença e de participação grandemente intensificados. Acredito que um estudo funcional da atividade cerebral mostrará que uma maior quantidade de neurônios estarão ativamente engajados em processar um filme em 3-D do que o mesmo filme em 2-D. Quando a maioria das pessoas pensa em filmes de 3-D, elas pensam primeiro em tomadas como truques de prestidigitação: objetos ou personagens voando, flutuando ou apontando na direção da audiência. Na verdade, em um bom filme estéreo, essas tomadas deveriam ser mais a exceção do que a regra. Assistir a um filme em estéreo é olhar para uma realidade alternativa através de uma janela. É intuitivo para a indústria do filme que esta qualidade imergente é perfeita para a ação, fantasia ou animação. O que é menos óbvio é que o intensificado senso de presença e realismo funciona em TODOS os tipos de cenas, mesmo nos momentos mais íntimos e dramáticos. O Que não quer dizer que TODOS os filmes devam ser feitos em 3-D, porque o retorno financeiro pode não cobrir os custos em muitos casos, mas certamente não deveria haver qualquer razão de criatividade pela qual um filme não poderia ser filmado em 3-D e se beneficiar disso.
Quando eu comecei a jornada de desenvolver câmeras de 3-D com Vincent Pace no ano 2000, nós estávamos procurando uma alternativa às massivas câmeras baseadas em película que eu usara no passado. Dois anos depois, enquanto estávamos mergulhados no desenvolvimento e produção da tecnologia em estéreo, eu tive uma epifania: os projetores digitais que estavam sendo propostos para substituir a película de 35mm poderiam acondicionar perfeitamente o 3-D, graças à suas altas taxas de quadros por segundo (“frame rates”). Eles poderiam realmente exibir o 3-D ao projetar as imagens dos olhos esquerdo e direito seqüencialmente, a uma velocidade maluca de “frame rates”, que nós perceberemos como simultâneas. Então, eu imaginei que isso poderia significar que toda uma nova era de 3-D seria agora possível, e que os nossos humildes esforços em 3-D chegariam ao mercado de carona com o cinema digital, o qual estava sendo visto como iminente e inevitável.
É irônico que, meia década depois, o cinema digital esteja acontecendo por ter sido catalizado pelo 3-D. O digital está trazendo o 3-D para o mercado. E isto porque as platéias estão assistindo a algo de que gostam, e estão demonstrando interesse em pagar mais por isso. O novo 3-D, a Renascença em estéreo, não apenas resolve os velhos problemas da má projeção, vista cansada, etc, mas está sendo usado em filmes de primeira classe que fazem parte das listas de filmes que as pessoas querem ver. Há muitas mudanças em relação ao que aconteceu com a febre do 3-D nos anos 50. O 3-D também é uma oportunidade para reescrever as regras, para aumentar os preços dos ingressos por uma razão tangível, graças a um valor agregado que possa ser demonstrável.
Rápida definição de termos: eu prefiro dizer estéreo ao invés de 3-D, pois costumo lidar com muitos artistas de CG (computação gráfica) que estão acostumados a usar o termo “3-D” como um conceito de arte em CG. Então, eu uso estéreo, uma forma abreviada de estereoscópico, para que não haja confusão. No entanto, quando eu lido com o público, eu digo 3-D, pois eles sabem o que o termo significa neste contexto: que eles vão colocar aqueles óculos e ver alguma coisa bem legal.
Existe algum mito a respeito do 3-D que você gostaria de desmentir?
Eu atacarei os mitos um por um nas respostas das questões abaixo.
Os trailers e os comerciais de TV são importantes para o marketing, e o vídeo caseiro é um meio vital de redistribuição; no entanto, ainda não existe TV em 3-D e não se pode contar que os trailers sejam sempre vistos em 3-D. Como você lida com isso, enquanto diretor de filmes?
Todos os filmes são feitos para servirem a muitos mestres. Todo diretor sabe que seu filme será visto por mais pessoas em DVD ou na TV do que nos cinemas. Isso muda o modo como a gente dirige? Não muito. Antes de mais nada, e mais importante que tudo, o filme deve ser bom. Deve ser eficiente, seja concebido em 2-D ou 3-D. Como resultado, se um filme em 3-D for exibido em 2-D, não importando o tamanho da tela, ele ainda deverá ter resultado. O 3-D deve ser pensado sempre como um intensificador para um trabalho cuja razão de ser deve estar vestida em sua história, seus personagens, seu estilo, etc.
Em todo caso, com o número de salas de exibição atualmente disponíveis na América do Norte, e no cenário internacional daqui a alguns anos, será necessário lançar em 3-D e 2-D ao mesmo tempo. Assim, o filme precisa ser totalmente competitivo também como um título em 2-D. Antes de decidir me envolver em uma grande produção em 3-D, eu tive que resolver comigo mesmo e me satisfazer com a idéia de que o 3-D não degradaria de maneira alguma a experiência da visão em 2-D. Poderia eu filmar do mesmo jeito? Estariam comprometidas a posição da câmera ou a iluminação? Poderia eu fazer uma montagem veloz? Etc. Somente quando eu fiz testes o suficiente com o 3-D para tentar responder a essas questões é que eu fiquei disposto a seguir em frente.
Quanto ao 3-D em casa: a única limitação em se ter o estéreo em casa é o número de títulos disponíveis. Quando há mais produto, as companhias de consumo eletrônico produzirão monitores e reprodutores. A tecnologia existe e está a pleno vapor. A Samsumg já distribuiu 2 milhões de TVs de plasma que podem decodificar uma excelente imagem em estéreo. Apenas não existe ainda nenhum reprodutor de mídias com imagens em estéreo neste momento. Eles podem estar um pouco à frente na corrida da eletrônica, mas isso apenas indica o quanto seria fácil para as companhias de eletrônicos embarcar na nova onda. Devemos nos lembrar de que o bom 3-D requer uma relação mais intrínseca entre a audiência e a tela. A não ser que você se sente a uma distância menor do que dois metros de um aparelho de TV de 50 polegadas, coisa que apenas alguns nerds (como eu) farão em suas salas de estar, você não sentirá o mesmo efeito do 3-D que poderia ser sentido numa sala de cinema, não importa o quanto a resolução da imagem seja a mesma. Assim, poderá haver uma maior distinção entre ver um filme de 3-D em casa e ver um filme de 2-D. O que é bom. Pois o 3-D então se tornará uma tecnologia que ajudará a preservar a saúde da indústria da exibição coletiva, numa época em que ela está ameaçada.
Você acha que é possível fazer um filme totalmente dependente da tecnologia em 3-D, tendo em vista o contexto econômico da indústria cinematográfica hoje em dia? Se for possível, como evitar as dificuldades financeiras?
Eu não acho que o aspecto econômico do 3-D esteja claro ainda, e não estará pelos próximos anos. Há muito que depende do número das salas de exibição, e (fundamentalmente) mais importante ainda, tudo depende da quantidade de cineastas que vão querer se aproveitar desse novo espaço, pois o sucesso da renascença em 3-D deverá se realizar a contento das partes envolvidas. Acredito que seja um erro, sob quaisquer circunstâncias, fazer um filme que seja dependente do 3-D para o seu sucesso, seja este estético ou comercial. O filme não deve ser divulgado em primeiro lugar como uma experiência em 3-D. O filme deve ser vendido segundo os seus méritos (elenco, história, imagética, etc), e o consumidor deve ser informado de que ele pode adquirir a experiência em 2-D ou, por alguns dólares a mais, em 3-D. A coisa deve funcionar como um pedido na Starbucks. Um monte de opções. Se a nova mídia da última década nos ensinou alguma coisa, é que as pessoas gostam de opções, e elas gostam de ter controle.
JAMES CAMERON ATACA EM 3-D
O timoneiro de “Avatar” revela a arte e a ciência do estéreo
Por David S. Cohen
A mais nova produção do diretor James Cameron, “Avatar”, precisa ser colocada como um dos mais antecipados projetos de filme da memória recente. Sendo seu primeiro filme narrativo desde “Titanic” (1997), o maior recorde de bilheteria de todos os tempos, “Avatar” será a realização do antigo sonho de Cameron em fundir o 3-D digital em estéreo com uma história épica de tela grande. David S. Cohen, da “Variety”, conduziu esta entrevista por e-mail com Cameron; é a mais extensiva exploração do 3-D já feita pelo diretor, no entanto, ele ainda mantém qualquer informação mais específica sobre “Avatar” em completo segredo.
Você já trabalhou com o 3-D antes e tem sido o evangelista dessa tecnologia. Temos ouvido várias pessoas na indústria falarem da importância de proporcionar nas salas de exibição uma experiência que vá além do que as pessoas possam ter em casa. Vemos que as platéias têm gostado do 3-D, e que ele tem se tornado o carro-chefe na adoção de sistemas de cinema digital nas salas de exibição. Mas, falando estritamente como um contador de histórias e como um diretor, o que é que o 3-D acrescenta ao lado criativo de um projeto?
Eu acredito que Godard tenha dito muito bem, tempos atrás. Cinema não é verdade 24 vezes por segundo, é mentira 24 vezes por segundo. Atores fingem ser pessoas que eles não são, em situações e cenários que são completamente ilusórios. O dia como noite, o seco como molhado, Vancouver como Nova Iorque, flocos de isopor como neve. O edifício é uma parede fina de cenário, a luz do sol é néon, e o barulho do tráfego é providenciado pelos engenheiros de som. É tudo ilusão, mas o prêmio vai para aqueles que tornarem a fantasia o mais real, o mais visceral, o mais envolvente possível. A sensação de verossimilhança é vastamente engrandecida pela ilusão estereoscópica. Particularmente nos tipos de filmes que têm sido minha especialidade, a experiência da fantasia é mais bem servida por um senso de detalhe e de realidade em textura que apóiem a narrativa a cada momento. As personagens, os diálogos, o desenho de produção, a fotografia e os efeitos visuais devem todos combinar esforços para dar a ilusão de que o que você está vendo está realmente acontecendo, não importa o quão improvável a situação possa ser se você parar para pensar nela – como um ciborgue viajando de volta no tempo para matar uma garçonete e mudar a história, por exemplo. Quando você vê uma cena em 3-D, o senso de realidade é sobrecarregado. O córtex visual é persuadido, em um nível subliminar mas penetrante, de que o que se vê é real. Todos os filmes que eu fiz previamente poderiam absolutamente ter sido beneficiados com o 3-D. Então, criativamente, eu vejo o 3-D como uma natural extensão do meu artesanato cinematográfico.
Um filme em 3-D imerge você na cena, com um senso físico de presença e de participação grandemente intensificados. Acredito que um estudo funcional da atividade cerebral mostrará que uma maior quantidade de neurônios estarão ativamente engajados em processar um filme em 3-D do que o mesmo filme em 2-D. Quando a maioria das pessoas pensa em filmes de 3-D, elas pensam primeiro em tomadas como truques de prestidigitação: objetos ou personagens voando, flutuando ou apontando na direção da audiência. Na verdade, em um bom filme estéreo, essas tomadas deveriam ser mais a exceção do que a regra. Assistir a um filme em estéreo é olhar para uma realidade alternativa através de uma janela. É intuitivo para a indústria do filme que esta qualidade imergente é perfeita para a ação, fantasia ou animação. O que é menos óbvio é que o intensificado senso de presença e realismo funciona em TODOS os tipos de cenas, mesmo nos momentos mais íntimos e dramáticos. O Que não quer dizer que TODOS os filmes devam ser feitos em 3-D, porque o retorno financeiro pode não cobrir os custos em muitos casos, mas certamente não deveria haver qualquer razão de criatividade pela qual um filme não poderia ser filmado em 3-D e se beneficiar disso.
Quando eu comecei a jornada de desenvolver câmeras de 3-D com Vincent Pace no ano 2000, nós estávamos procurando uma alternativa às massivas câmeras baseadas em película que eu usara no passado. Dois anos depois, enquanto estávamos mergulhados no desenvolvimento e produção da tecnologia em estéreo, eu tive uma epifania: os projetores digitais que estavam sendo propostos para substituir a película de 35mm poderiam acondicionar perfeitamente o 3-D, graças à suas altas taxas de quadros por segundo (“frame rates”). Eles poderiam realmente exibir o 3-D ao projetar as imagens dos olhos esquerdo e direito seqüencialmente, a uma velocidade maluca de “frame rates”, que nós perceberemos como simultâneas. Então, eu imaginei que isso poderia significar que toda uma nova era de 3-D seria agora possível, e que os nossos humildes esforços em 3-D chegariam ao mercado de carona com o cinema digital, o qual estava sendo visto como iminente e inevitável.
É irônico que, meia década depois, o cinema digital esteja acontecendo por ter sido catalizado pelo 3-D. O digital está trazendo o 3-D para o mercado. E isto porque as platéias estão assistindo a algo de que gostam, e estão demonstrando interesse em pagar mais por isso. O novo 3-D, a Renascença em estéreo, não apenas resolve os velhos problemas da má projeção, vista cansada, etc, mas está sendo usado em filmes de primeira classe que fazem parte das listas de filmes que as pessoas querem ver. Há muitas mudanças em relação ao que aconteceu com a febre do 3-D nos anos 50. O 3-D também é uma oportunidade para reescrever as regras, para aumentar os preços dos ingressos por uma razão tangível, graças a um valor agregado que possa ser demonstrável.
Rápida definição de termos: eu prefiro dizer estéreo ao invés de 3-D, pois costumo lidar com muitos artistas de CG (computação gráfica) que estão acostumados a usar o termo “3-D” como um conceito de arte em CG. Então, eu uso estéreo, uma forma abreviada de estereoscópico, para que não haja confusão. No entanto, quando eu lido com o público, eu digo 3-D, pois eles sabem o que o termo significa neste contexto: que eles vão colocar aqueles óculos e ver alguma coisa bem legal.
Existe algum mito a respeito do 3-D que você gostaria de desmentir?
Eu atacarei os mitos um por um nas respostas das questões abaixo.
Os trailers e os comerciais de TV são importantes para o marketing, e o vídeo caseiro é um meio vital de redistribuição; no entanto, ainda não existe TV em 3-D e não se pode contar que os trailers sejam sempre vistos em 3-D. Como você lida com isso, enquanto diretor de filmes?
Todos os filmes são feitos para servirem a muitos mestres. Todo diretor sabe que seu filme será visto por mais pessoas em DVD ou na TV do que nos cinemas. Isso muda o modo como a gente dirige? Não muito. Antes de mais nada, e mais importante que tudo, o filme deve ser bom. Deve ser eficiente, seja concebido em 2-D ou 3-D. Como resultado, se um filme em 3-D for exibido em 2-D, não importando o tamanho da tela, ele ainda deverá ter resultado. O 3-D deve ser pensado sempre como um intensificador para um trabalho cuja razão de ser deve estar vestida em sua história, seus personagens, seu estilo, etc.
Em todo caso, com o número de salas de exibição atualmente disponíveis na América do Norte, e no cenário internacional daqui a alguns anos, será necessário lançar em 3-D e 2-D ao mesmo tempo. Assim, o filme precisa ser totalmente competitivo também como um título em 2-D. Antes de decidir me envolver em uma grande produção em 3-D, eu tive que resolver comigo mesmo e me satisfazer com a idéia de que o 3-D não degradaria de maneira alguma a experiência da visão em 2-D. Poderia eu filmar do mesmo jeito? Estariam comprometidas a posição da câmera ou a iluminação? Poderia eu fazer uma montagem veloz? Etc. Somente quando eu fiz testes o suficiente com o 3-D para tentar responder a essas questões é que eu fiquei disposto a seguir em frente.
Quanto ao 3-D em casa: a única limitação em se ter o estéreo em casa é o número de títulos disponíveis. Quando há mais produto, as companhias de consumo eletrônico produzirão monitores e reprodutores. A tecnologia existe e está a pleno vapor. A Samsumg já distribuiu 2 milhões de TVs de plasma que podem decodificar uma excelente imagem em estéreo. Apenas não existe ainda nenhum reprodutor de mídias com imagens em estéreo neste momento. Eles podem estar um pouco à frente na corrida da eletrônica, mas isso apenas indica o quanto seria fácil para as companhias de eletrônicos embarcar na nova onda. Devemos nos lembrar de que o bom 3-D requer uma relação mais intrínseca entre a audiência e a tela. A não ser que você se sente a uma distância menor do que dois metros de um aparelho de TV de 50 polegadas, coisa que apenas alguns nerds (como eu) farão em suas salas de estar, você não sentirá o mesmo efeito do 3-D que poderia ser sentido numa sala de cinema, não importa o quanto a resolução da imagem seja a mesma. Assim, poderá haver uma maior distinção entre ver um filme de 3-D em casa e ver um filme de 2-D. O que é bom. Pois o 3-D então se tornará uma tecnologia que ajudará a preservar a saúde da indústria da exibição coletiva, numa época em que ela está ameaçada.
Você acha que é possível fazer um filme totalmente dependente da tecnologia em 3-D, tendo em vista o contexto econômico da indústria cinematográfica hoje em dia? Se for possível, como evitar as dificuldades financeiras?
Eu não acho que o aspecto econômico do 3-D esteja claro ainda, e não estará pelos próximos anos. Há muito que depende do número das salas de exibição, e (fundamentalmente) mais importante ainda, tudo depende da quantidade de cineastas que vão querer se aproveitar desse novo espaço, pois o sucesso da renascença em 3-D deverá se realizar a contento das partes envolvidas. Acredito que seja um erro, sob quaisquer circunstâncias, fazer um filme que seja dependente do 3-D para o seu sucesso, seja este estético ou comercial. O filme não deve ser divulgado em primeiro lugar como uma experiência em 3-D. O filme deve ser vendido segundo os seus méritos (elenco, história, imagética, etc), e o consumidor deve ser informado de que ele pode adquirir a experiência em 2-D ou, por alguns dólares a mais, em 3-D. A coisa deve funcionar como um pedido na Starbucks. Um monte de opções. Se a nova mídia da última década nos ensinou alguma coisa, é que as pessoas gostam de opções, e elas gostam de ter controle.
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