terça-feira, setembro 22, 2009

Up - Altas Aventuras


Depois da obra de arte que é Ratatouille (2007) e da obra-prima que é Wall.E (2008), dois filmes que dificilmente aceitarão a alcunha de “infantis”, a Pixar decide voltar a navegar por águas mais conhecidas e seguras com este Up (2009). É claro que continua sendo mantida a alta qualidade que faz com que o estúdio (agora pertencente à Disney) supere seu concorrente mais direto, a Dreamworks. Up é melhor do que a Era do Gelo 3 (desta mesma safra de 2009) – mesmo sendo a nova produção de Carlos Saldanha também muito boa.

O diferencial é que a equipe da Pixar parece dar mais linha à criatividade e à experimentação vanguardistas – excetuando-se, naturalmente, os gênios individuais e relativamente independentes de gente como Tim Burton (A Noiva Cadáver, 2005) e Henry Selick (Coraline, 2009); o grande clássico de ambos ainda é O Estranho Mundo de Jack (“The Nightmare Before Christmas”, 1993). Próximo do universo “gótico” desses dois artistas está o curta que abre a exibição de Up, intitulado Parcialmente Nublado (“Partly Cloudy”).

A Pixar ganhou notoriedade e soube mantê-la ao longo dos anos graças a curta-metragens de animação computadorizada premiados como Luxo Jr. (1986) e Gery’s Game (1998). Arrisco-me a dizer que este Parcialmente Nublado tornar-se-á antológico também. Desde Red’s Dream (outro curta, este de 1987), passando por Knick Knack (curta, 1989), Procurando Nemo (2003), Carros (2006) e os já citados Ratatouille e Wall.E, o estúdio parece ter escolhido como personagens favoritos os párias, ou seres que por alguma razão tornam-se excluídos, renegados, esquecidos, exilados.

Parcialmente Nublado e Up não são diferentes, e é desse romantismo que a Pixar tira sua força muito particular, em histórias corajosamente melancólicas. Em comparação, o cinismo do Shrek da Dreamworks não soa mais do que uma piada de mau gosto. Fazer filmes que funcionem ao mesmo tempo para crianças e para adultos não é bolar personagens e histórias ambíguos que agradem à ingenuidade daquelas e à malícia destes (especialidade da Dreamworks), mas procurar o ponto central na alma dos indivíduos que permanecerá sempre o mesmo em todas as idades.

Esse ponto jamais poderá ser categorizado como infantil ou adulto, embora as crianças e os velhos são os que têm as melhores condições de reconhecê-lo e cultivá-lo. Esse ponto não é a mistura entre o infantil e o adulto, é algo que os transcende. Perpassa toda a nossa vida, ajuda a amarrá-la e dar-lhe significado, mas não deriva dela, ainda que se manifeste nela. Esse ponto é a poesia. Nada mais do que a poesia. E a poesia não pode ser explicada, por mais que a gente tente. Ela deve ser vivenciada. E uma das maneiras para tanto é ver animações como Wall.E ou Up.

4 comentários:

Pedro Henrique Gomes disse...

Maravilhoso. Melhor que o do robozinho.

Wally disse...

A Pixar atingiu um nível em que realmente as animações não podem ser caracterizadas como infantis. São obras imensamente sentimentais, sensíveis e comoventes. Obras maduras, densas e poderosas. Up é uma maravilha.

Ivan disse...

Apesar das ousadias, como colocar um idoso no papel principal, acho Up - Altas Aventuras uma opção conservadora da Pixar. O filme não tem a visão e o impulso crítico de Wall- E, por exemplo. Optou-se por uma história mais intimista e a força de Up está, realmente, no poético.

De qualquer forma, é mais um belo filme!

André Renato disse...

UP não é uma obra-prima, mas tá valendo (e muito)...