terça-feira, abril 01, 2008

Os Pioneiros: G. A. Smith

G. A. Smith e Laura Bayley em A Kiss in the Tunnel (1899)
Na história dos primeiros passos do Cinema, possui crédito considerável a Escola de Brighton (Inglaterra). Dela saíram dois realizadores-inventores que muito acrescentaram à linguagem cinematográfica: William Paul e G. A. Smith. Enquanto aquele emprega pela primeira vez, conscientemente, o “travelling” dramático, este se concentra em utilizar exaustivamente a filmagem em exteriores. Smith foi um dos primeiros (talvez até mesmo antes de Méliès) a utilizar no Cinema a sobreimpressão (duas imagens sobrepostas na mesma película, dando aquele famoso efeito fantasmagórico). Tirou patente e lucrou bastante com filmes “mágicos” realizados segundo esse processo.

Outra conquista de Smith que o coloca na vanguarda da nascente arte cinematográfica é a alternância entre planos de conjunto e primeiros planos numa mesma cena (buscando a visão total da coisa e do fenômeno mostrado: o micro e o macro). Esse estilo revolucionário é o princípio da decupagem. Smith cria, de certo modo, a primeira montagem no Cinema; enquanto que, para Georges Méliès, a unidade de lugar em que se passa a ação pede necessariamente a unidade de ponto de vista – como no Teatro. A nova técnica de Smith aparece sobretudo em Mary Jane’s Mishaps (“Os Infortúnios de Mary Jane”, 1903). Citando o historiador Georges Sadoul:

“Nesta fita, após jogar gasolina no forno e fazê-lo explodir, a empregada imprudente é lançada através da chaminé e os seus membros dispersos recaem sobre o telhado. A câmera de Smith segue a heroína nas suas deslocações e varia o ponto de vista segundo as necessidades dramáticas da ação.” História do Cinema Mundial

Smith não se interessou por tal técnica, pois ela já era largamente adotada em formas antigas de histórias em imagens desde o início do século XIX, como as lanternas mágicas. Eis a fonte de inspiração. O realismo aliado a técnicas de vanguarda, junto a temáticas de caráter social (mas sem grandes preocupações críticas), caracterizam o cinema inglês da primeira década do século XX. “Os Infortúnios de Mary Jane” é visivelmente uma farsa bem vulgar (como o teatro medieval): o gosto do público condicionava os assuntos desses filmes, que eram exibidos em feiras e quermesses populares.

Segue abaixo o filme em questão. Mary Jane é interpretada pela atriz Laura Bayley, esposa do diretor G. A. Smith e uma prolífica atriz dos primórdios do cinema inglês. Atenção para o chiste na lápide da infeliz Mary Jane: “rest in pieces” (descanse em pedaços), ao invés de “rest in peace” (descanse em paz), cuja pronúncia é no entanto a mesma.

3 comentários:

Gustavo disse...

Obrigado por este blog!
Excelentes textos!

Lorde David disse...

Muito bom o filmete e, principalmente, ótimo o trocadilho no final. Bem britânico em seu humor negro.

André Renato disse...

Valeu pela preferência, cineasta81! Volte sempre!

David: esses filminhos são uma pérola rara!