“No sueltes la soga que me ata a tu alma” (Não solte a corda que me prende à sua alma). A frase aparece pichada num muro por cuja frente passará o jovem protagonista de Tetro (Benny), bem no começo da história, e serve de mote a esta pepita cuidadosamente lapidada e polida com as devidas idiossincrasias audiovisuais de Francis Ford Coppola. Tetro é um pequeno poema, uma ária cantada com lirismo franco sobre a força poderosa de atração e repulsão que é a família – sem os voos épicos de O Poderoso Chefão; mas, ainda assim, com algumas cenas de um gosto operístico bem caro ao cronista da saga dos Corleone.
Não obstante, a história dos irmãos Benny e Angie Tetrocini não é trágica, no final das contas. O filme é belo e termina com uma afirmação dos laços familiares – conforme a epígrafe do muro pichado já vai antecipando. Afirmação madura e desencantada, que seja bem dito. Mas afirmação. A força gravitacional do sangue se abate sobre o indivíduo como uma maldição. Michael Corleone sucumbe a ela; Angie “Tetro” não. O personagem é um outcast encantador e a interpretação de Vincent Gallo é inspiradora. O caçula de Don Vito entende que é necessário abandonar o seu próprio destino para “salvar” a família, entregando-se de corpo e alma a ela.
Entende errado, como vemos ao longo dos três capítulos da clássica trilogia. Por sua vez, ao mesmo tempo maduro e rebelde, Tetro sabe que precisa abandonar o “ninho” e voar para longe do alcance do pai dominador. Corta os laços com a família toda, abandonando também (com a quebra de uma promessa) o irmão caçula, que o procurará mais tarde e – no final da história – ambos acabarão por resolver as questões do clã para o bem e a verdade (ainda que esta seja bastante dolorosa), sem abrir mão de suas próprias individualidades.
A recomendação que Angie dá a um catatônico Benny (“Don’t look into the light”) serve de metáfora para o olhar de Medusa desta instituição chamada família. O irônico – mas o mais belo deste filme – é que torna-se necessário um parente, liberto do feitiço do sangue, para livrar outro, através do amor que só o sangue mesmo é capaz de produzir. Se isso não é o sentido mais pleno da bonita palavra “fraternal”, eu não sei o que é. De resto, é com aquela sensibilidade do sangue quente (e bom) que Tetro vai encantando o espectador: os tipos que habitam La Boca em Buenos Aires, a trilha sonora portenha, a fotografia num preto e branco bastante contrastado.
Em relação a esta última, acrescente-se alguns belos enquadramentos com a câmera inclinada e em contra-plongée, e reconheceremos a mão classicizante de um Coppola, que só pode ir beber na fonte do cinema dos anos 40. No conjunto, Tetro é um daqueles filmes profundamente musicais; mas a sua musicalidade não está no som propriamente dito, e sim na totalidade dos elementos narrativos e estéticos conduzidos com mão de maestro por Francis Ford Coppola, que fazem com que a gente saia do cinema com vontade de... assobiar o filme! Pode isso?
Não obstante, a história dos irmãos Benny e Angie Tetrocini não é trágica, no final das contas. O filme é belo e termina com uma afirmação dos laços familiares – conforme a epígrafe do muro pichado já vai antecipando. Afirmação madura e desencantada, que seja bem dito. Mas afirmação. A força gravitacional do sangue se abate sobre o indivíduo como uma maldição. Michael Corleone sucumbe a ela; Angie “Tetro” não. O personagem é um outcast encantador e a interpretação de Vincent Gallo é inspiradora. O caçula de Don Vito entende que é necessário abandonar o seu próprio destino para “salvar” a família, entregando-se de corpo e alma a ela.
Entende errado, como vemos ao longo dos três capítulos da clássica trilogia. Por sua vez, ao mesmo tempo maduro e rebelde, Tetro sabe que precisa abandonar o “ninho” e voar para longe do alcance do pai dominador. Corta os laços com a família toda, abandonando também (com a quebra de uma promessa) o irmão caçula, que o procurará mais tarde e – no final da história – ambos acabarão por resolver as questões do clã para o bem e a verdade (ainda que esta seja bastante dolorosa), sem abrir mão de suas próprias individualidades.
A recomendação que Angie dá a um catatônico Benny (“Don’t look into the light”) serve de metáfora para o olhar de Medusa desta instituição chamada família. O irônico – mas o mais belo deste filme – é que torna-se necessário um parente, liberto do feitiço do sangue, para livrar outro, através do amor que só o sangue mesmo é capaz de produzir. Se isso não é o sentido mais pleno da bonita palavra “fraternal”, eu não sei o que é. De resto, é com aquela sensibilidade do sangue quente (e bom) que Tetro vai encantando o espectador: os tipos que habitam La Boca em Buenos Aires, a trilha sonora portenha, a fotografia num preto e branco bastante contrastado.
Em relação a esta última, acrescente-se alguns belos enquadramentos com a câmera inclinada e em contra-plongée, e reconheceremos a mão classicizante de um Coppola, que só pode ir beber na fonte do cinema dos anos 40. No conjunto, Tetro é um daqueles filmes profundamente musicais; mas a sua musicalidade não está no som propriamente dito, e sim na totalidade dos elementos narrativos e estéticos conduzidos com mão de maestro por Francis Ford Coppola, que fazem com que a gente saia do cinema com vontade de... assobiar o filme! Pode isso?
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