O capacete com furo de bala é apenas uma peça de figurino. O capacete com furo de bala não passa de um objeto de cena. Mas este objeto singular absorve em sua pele de aço todas as tensões. Não resiste por igual a todos os golpes: é vazado por um projétil. Mas continua lá, carregando da guerra a marca; ele mesmo apresentando-se como estigma. O capacete metálico é uma coisa que se coloca com a clareza e a força fotogênicas de sua materialidade. E ainda assim, encontra espaço dentro de si para forrar-se de símbolo.
O capacete de aço está lá para mostrar que algo vai errado, que algo fugiu da ordem; ou que algo jamais se enquadrou na ordem; ou ainda que algo deveria sair da ordem, urgentemente. O capacete furado sinaliza que o seu usuário é um fantasma, um zumbi. O soldado deveria ter morrido; é muito estranho alguém sobreviver a essa circunstância, não? Mas é de estranhezas que se alimenta o cinema de Samuel Fuller. É estranho o sargento Zack, profissional da guerra.
É estranho o menino sul-coreano que anda com orações a Buda pregadas nas costas. São estranhos o paramédico negro, o tenente “virgem” de guerras, o cabo aspirante a padre, o sargento nipo-americano (lembremos que este filme é de 1951 e trata da Guerra da Coréia), o jovem soldado irremediavelmente careca e o soldado incondicionalmente calado. É estranho essas pessoas acabarem se juntando em um grupo. E é estranho esse grupo abrigar-se num templo budista em pleno campo de batalha.
É mais estranho ainda o sorriso – quase irônico – da estátua gigante do Buda que testemunha a agonia e glória que só a guerra pode proporcionar. É estranhíssimo – quase burlesco – o inimigo capturado: homenzinho de ínfima estatura que ostenta a patente de major e um discurso provocativo de intensidade inversamente proporcional à sua compleição física: a segregação dos negros e o confinamento de nipo-americanos em campos de concentração durante a II Guerra são lâminas agudas que o militar comunista
– e o próprio Fuller, logicamente – usa para espetar seus oponentes. Os Estados Unidos da América são uma grande e óbvia contradição. O patriotismo de Fuller é como o de um Camões (pensando nos “Lusíadas”): a nação que se ama possui uma responsabilidade para com os seus membros. O errado, o estranho, o contraditório: o incansável sargento Zack do capacete furado a tiro é a encarnação de todas as incoerências. E o cinema virtuoso de Sam Fuller é o seu perpétuo veículo.
O capacete de aço está lá para mostrar que algo vai errado, que algo fugiu da ordem; ou que algo jamais se enquadrou na ordem; ou ainda que algo deveria sair da ordem, urgentemente. O capacete furado sinaliza que o seu usuário é um fantasma, um zumbi. O soldado deveria ter morrido; é muito estranho alguém sobreviver a essa circunstância, não? Mas é de estranhezas que se alimenta o cinema de Samuel Fuller. É estranho o sargento Zack, profissional da guerra.
É estranho o menino sul-coreano que anda com orações a Buda pregadas nas costas. São estranhos o paramédico negro, o tenente “virgem” de guerras, o cabo aspirante a padre, o sargento nipo-americano (lembremos que este filme é de 1951 e trata da Guerra da Coréia), o jovem soldado irremediavelmente careca e o soldado incondicionalmente calado. É estranho essas pessoas acabarem se juntando em um grupo. E é estranho esse grupo abrigar-se num templo budista em pleno campo de batalha.
É mais estranho ainda o sorriso – quase irônico – da estátua gigante do Buda que testemunha a agonia e glória que só a guerra pode proporcionar. É estranhíssimo – quase burlesco – o inimigo capturado: homenzinho de ínfima estatura que ostenta a patente de major e um discurso provocativo de intensidade inversamente proporcional à sua compleição física: a segregação dos negros e o confinamento de nipo-americanos em campos de concentração durante a II Guerra são lâminas agudas que o militar comunista
– e o próprio Fuller, logicamente – usa para espetar seus oponentes. Os Estados Unidos da América são uma grande e óbvia contradição. O patriotismo de Fuller é como o de um Camões (pensando nos “Lusíadas”): a nação que se ama possui uma responsabilidade para com os seus membros. O errado, o estranho, o contraditório: o incansável sargento Zack do capacete furado a tiro é a encarnação de todas as incoerências. E o cinema virtuoso de Sam Fuller é o seu perpétuo veículo.
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