Geralmente, eu não gosto muito de usar a primeira pessoa ao falar de um filme. Não por obedecer ao fetiche ilusório da chamada “objetividade”, mas por acreditar na Fenomenologia, para a qual a consciência de algo ocorre independentemente de um “ego” dito “subjetivo”. No entanto, agora não vai ter outro jeito. Não dá para me libertar de mim mesmo, da construção de um “eu” e de um “mim” ao longo de uma história de vida, para falar de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (“Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull”, EUA, 2008, dir.: Steven Spielberg). Este filme, para mim, é como “A Busca do Tempo Perdido”. Bem, não tão perdido assim. Minha infância foi muito bem aproveitada, muito graças a um conjunto de calça e jaqueta marrons que tinha no meu armário, e mais graças ainda a um velho chapéu também marrom, herdado de meu avô. E era com tal figurino que eu saía pelos terrenos baldios do bairro, explorando terras e povos desconhecidos, enfrentando mil e um perigos e inimigos, enquanto já ia pensando em como eu estudaria pra valer por todo o caminho da vida escolar até me tornar arqueólogo.
Enfim, não me tornei arqueólogo. Mas virei professor... E professor de Literatura, assim como o Prof. Henry Jones (o pai, vivido por Sean Connery em A Última Cruzada). Há uns três anos atrás ganhei de amigos que me conhecem muito bem (e há bastante tempo) a caixa com os DVD’s da então trilogia Indiana Jones. Desde então, re-assisto aos três filmes a cada seis meses, mais ou menos. Para me lembrar de quem eu sou, de quem fui, de como comecei a gostar de Cinema. É toda uma renovação espiritual que se processa em meu interior, ao (re)ver certos filmes. Filmes como os de Indiana Jones, a série Star Wars ou a série Super-Homem estão na gênese do meu amor pela Sétima Arte, na gênese do meu próprio EGO na medida em que este se fundamenta em mitos, modelos, heróis que encarnam valores e condutas determinadas. Assim, talvez inconscientemente, parte dos meus interesses intelectuais, acadêmicos e também os espirituais vêm de figuras como o corajoso e erudito Dr. Jones, ou como o corajoso e perseverante Luke Skywalker.
Somente um espírito estupidamente esnobe (e no fundo, pouco esclarecido), mesquinho, sem qualquer sensibilidade humana, tampouco interesse pelas coisas humanas, fará caso negativo de tais mitologias. Isso eu digo sem desconsiderar os “problemas” da “indústria cultural”. Cinema de Hollywood é “alienado”? Pode ser, mas há que considerar os efeitos particulares e positivos que provocou em mim quando criança e em sabe-se lá quantos milhões de crianças mais. E daí que Indiana Jones é colonialista e imperialista? E daí que ele faça pose de antropólogo, mas é o primeiro a saquear as relíquias de povos “primitivos” e levá-las para os museus do Primeiro Mundo? (Sobre este último filme, é interessante pensar na recente notícia das constantes e infrutíferas disputas judiciais que o Peru promove contra os EUA para reaver artefatos retirados de sítios arqueológicos no país, no começo do século XX). Tudo isso, é claro, será importante sob um certo ponto da análise; mas sob outro, ajustemos nossas lentes...
Enfim, falemos sobre o filme de fato. É impressionante o Classicismo de Spielberg e Lucas (criador do personagem). Indiana Jones se liga ao romance de aventuras do século XIX (como “As Minas do Rei Salomão”, de R. Haggard) e aos antigos seriados cinematográficos. O Reino da Caveira de Cristal é mais desse erudito mesmo. Será que há espaço hoje em dia para um herói que, além de se virar em mil peripécias corporais e violentas, ainda é um “scholar”, um “lente” – como se dizia no tempo do onça, acadêmico erudito, pesquisador e sobretudo professor? A pergunta que o jovem personagem de Shia LaBeoulf faz ao de Harrison Ford, em uma determinada cena, é a pergunta que toda criança e adolescente contemporâneo há de fazer: “Tem certeza que você é mesmo um professor?” Temo muito que as novas gerações não apreciem tanto o mito do Dr. Jones. Mas nunca se sabe... O fato é que este filme parece ser o canto de cisne de uma era, de uma cultura. Digam-me que cineasta da indústria, nas novas gerações, possui a “erudição”, a bagagem cultural, histórica e artística de Steven Spielberg e George Lucas?
Roland Emmerich? Michael Bay? Hahahahaha... Ou melhor: snif, snif... Quem mais? Gore Verbinski? O único valor de Piratas do Caribe está em Johnny Depp. Uwe Boll? Piadinha... Mesmo James Cameron, que já é “tiozão”, é um tosco. Enfim, há talvez (por ora) uma única esperança para o cinema de fantasia: Peter Jackson. Com a trilogia O Senhor dos Anéis e com o audacioso remake de King Kong (“intelectualizado” demais para o gosto contemporâneo), ele demonstrou ser o mais legítimo herdeiro de Spielberg-Lucas. Um outro nome que talvez valha a pena prestar também atenção é o de Guillermo Del Toro (pensando em O Labirinto do Fauno e no fato de que ele foi anunciado como diretor para O Hobbit). Enfim, o poder do cinema: uma das imagens mais impressionantes de minha infância cinematográfica é a do final de Os Caçadores da Arca Perdida, quando aquele pequeno bobbycat carrega o caixote lacrado com a arca da aliança pelo corredor obscuro de um gigantesco galpão, que vai se revelando aos poucos, conforma a câmera se afasta. Então, ele some numa esquina com outro corredor, e nós ficamos com milhares e milhares de caixotes como aquele, descansando como que pela eternidade naquele depósito.
Veja o começo de A Caveira de Cristal e procure entender o como eu me senti semana passada.
Enfim, não me tornei arqueólogo. Mas virei professor... E professor de Literatura, assim como o Prof. Henry Jones (o pai, vivido por Sean Connery em A Última Cruzada). Há uns três anos atrás ganhei de amigos que me conhecem muito bem (e há bastante tempo) a caixa com os DVD’s da então trilogia Indiana Jones. Desde então, re-assisto aos três filmes a cada seis meses, mais ou menos. Para me lembrar de quem eu sou, de quem fui, de como comecei a gostar de Cinema. É toda uma renovação espiritual que se processa em meu interior, ao (re)ver certos filmes. Filmes como os de Indiana Jones, a série Star Wars ou a série Super-Homem estão na gênese do meu amor pela Sétima Arte, na gênese do meu próprio EGO na medida em que este se fundamenta em mitos, modelos, heróis que encarnam valores e condutas determinadas. Assim, talvez inconscientemente, parte dos meus interesses intelectuais, acadêmicos e também os espirituais vêm de figuras como o corajoso e erudito Dr. Jones, ou como o corajoso e perseverante Luke Skywalker.
Somente um espírito estupidamente esnobe (e no fundo, pouco esclarecido), mesquinho, sem qualquer sensibilidade humana, tampouco interesse pelas coisas humanas, fará caso negativo de tais mitologias. Isso eu digo sem desconsiderar os “problemas” da “indústria cultural”. Cinema de Hollywood é “alienado”? Pode ser, mas há que considerar os efeitos particulares e positivos que provocou em mim quando criança e em sabe-se lá quantos milhões de crianças mais. E daí que Indiana Jones é colonialista e imperialista? E daí que ele faça pose de antropólogo, mas é o primeiro a saquear as relíquias de povos “primitivos” e levá-las para os museus do Primeiro Mundo? (Sobre este último filme, é interessante pensar na recente notícia das constantes e infrutíferas disputas judiciais que o Peru promove contra os EUA para reaver artefatos retirados de sítios arqueológicos no país, no começo do século XX). Tudo isso, é claro, será importante sob um certo ponto da análise; mas sob outro, ajustemos nossas lentes...
Enfim, falemos sobre o filme de fato. É impressionante o Classicismo de Spielberg e Lucas (criador do personagem). Indiana Jones se liga ao romance de aventuras do século XIX (como “As Minas do Rei Salomão”, de R. Haggard) e aos antigos seriados cinematográficos. O Reino da Caveira de Cristal é mais desse erudito mesmo. Será que há espaço hoje em dia para um herói que, além de se virar em mil peripécias corporais e violentas, ainda é um “scholar”, um “lente” – como se dizia no tempo do onça, acadêmico erudito, pesquisador e sobretudo professor? A pergunta que o jovem personagem de Shia LaBeoulf faz ao de Harrison Ford, em uma determinada cena, é a pergunta que toda criança e adolescente contemporâneo há de fazer: “Tem certeza que você é mesmo um professor?” Temo muito que as novas gerações não apreciem tanto o mito do Dr. Jones. Mas nunca se sabe... O fato é que este filme parece ser o canto de cisne de uma era, de uma cultura. Digam-me que cineasta da indústria, nas novas gerações, possui a “erudição”, a bagagem cultural, histórica e artística de Steven Spielberg e George Lucas?
Roland Emmerich? Michael Bay? Hahahahaha... Ou melhor: snif, snif... Quem mais? Gore Verbinski? O único valor de Piratas do Caribe está em Johnny Depp. Uwe Boll? Piadinha... Mesmo James Cameron, que já é “tiozão”, é um tosco. Enfim, há talvez (por ora) uma única esperança para o cinema de fantasia: Peter Jackson. Com a trilogia O Senhor dos Anéis e com o audacioso remake de King Kong (“intelectualizado” demais para o gosto contemporâneo), ele demonstrou ser o mais legítimo herdeiro de Spielberg-Lucas. Um outro nome que talvez valha a pena prestar também atenção é o de Guillermo Del Toro (pensando em O Labirinto do Fauno e no fato de que ele foi anunciado como diretor para O Hobbit). Enfim, o poder do cinema: uma das imagens mais impressionantes de minha infância cinematográfica é a do final de Os Caçadores da Arca Perdida, quando aquele pequeno bobbycat carrega o caixote lacrado com a arca da aliança pelo corredor obscuro de um gigantesco galpão, que vai se revelando aos poucos, conforma a câmera se afasta. Então, ele some numa esquina com outro corredor, e nós ficamos com milhares e milhares de caixotes como aquele, descansando como que pela eternidade naquele depósito.
Veja o começo de A Caveira de Cristal e procure entender o como eu me senti semana passada.