terça-feira, junho 30, 2009

Another hoax?

Esta história chegou às minhas mãos poucos dias atrás.

Um veterano da 2ª Guerra Mundial, chamado Ethan McBride, de nacionalidade norte-americana, decidiu em 1967 transformar suas peculiares experiências no conflito em um filme de Hollywood. Seu propósito era revelar ao mundo fatos decisivos que haviam permanecido no mais alto segredo. Assim, ele começou a escrever o argumento para um roteiro, para em seguida tentar vendê-lo a algum dos seus contatos na Cidade dos Sonhos. O texto dizia mais ou menos o seguinte.

Berlim, 1942. Um dos maiores orgulhos do Führer é o destacamento de forças especiais chamado A.E. (“Axis Empire” ou Império do Eixo). Nele se encontram as maiores mentes da ciência e da tecnologia do 3º Reich, que elaboram os mais avançados equipamentos, veículos e armas de guerra. Também fazem parte do A.E. os melhores e mais eficientes soldados, oficiais e espiões recrutados nas fileiras do Eixo. Tudo isso é comandado por um dos mais altos e secretos oficiais de Hitler, seu verdadeiro braço direito, descendente da antiga aristocracia alemã, o general Lord Vader.

Vader é uma figura que impõe e inspira medo por onde passa, mesmo dentre os mais altos escalões das forças nazistas. Ele usa durante o tempo todo uma armadura negra, de metal, couro e aparelhos elétrico-eletrônicos. Sua aproximação é caracterizada pelo som ofegante da respiração, feita através de tubos de oxigênio presos à sua armadura. Alguns dizem que essa armadura é a única coisa que o mantém vivo, pois Vader teria sofrido gravíssimas queimaduras pelo corpo todo durante a 1ª Guerra Mundial, na qual ele já era um promissor oficial das forças alemãs.

O A.E. está finalizando a construção da maior e mais mortífera arma de guerra, capaz de desequilibrar a balança do conflito definitivamente para o lado do Eixo. Esta arma, mantida ainda no mais alto segredo, é chamada de “Death Star” (Estrela da Morte). Trata-se de um mega e gigantesco porta-aviões, capaz de levar caças que lancem as temidas bombas H – que o 3º Reich acabara de desenvolver graças às mentes brilhantes do A.E. A Estrela da Morte, que tem autonomia para navegar por anos a fio em oceano aberto e passar por todos os continentes, também é capaz de lançar as bombas H na forma de mísseis balísticos de longa distância.

A única esperança dos Aliados e do mundo livre como um todo é uma organização ao mesmo tempo militar e civil, chamada Aliança Rebelde. Ela reúne militares (os melhores) de todos os países aliados, assim como membros da resistência francesa (e também a de outras nações subjugadas pelo nazismo), veteranos da Guerra Civil Espanhola, militantes comunistas, cientistas, inventores, espiões, judeus e todos aqueles que já sofreram com a insanidade de Hitler. Muitos de seus membros (mesmo os militares) o são em segredo, pois a S.S. nazista é particularmente impiedosa com os membros da Aliança Rebelde que são descobertos e capturados.

Num dado momento, ainda em 1942, a princesa de Mônaco, chamada Leia Organa (que trabalhava secretamente para a Aliança Rebelde, apesar da aparente neutralidade de seu país), recebe em mãos, através de um agente secreto, as plantas de construção da Estrela da Morte. Porém, antes de conseguir passá-las adiante, Leia é capturada por Vader, que a leva a bordo da própria Death Star e exige que lhe entregue o microfilme. Como Leia recusa, Vader ordena que o porta-aviões bombardeie impiedosamente o principado de Mônaco, destruindo-o quase que completamente.

Mantida em cativeiro a bordo, a princesa Leia, desesperada, consegue contatar dois espiões da Aliança Rebelde, infiltrados ali. Trata-se de uma dupla de homenzinhos burlescos, meio “nerds” e fanáticos por tecnologia e robótica, conhecidos apenas por seus codinomes: C-3PO e R2-D2. Leia passa para eles o microfilme e pede que o entreguem a Ben Kenobi, o único homem em quem ela confia naquele momento. Kenobi é uma espécie de monge, um dos últimos representantes da antiga Ordem Jedi, uma espécie de seita que surgiu da mistura entre algumas ordens de cavalaria, durante as Cruzadas.

Após o fim da Era Medieval, os Jedis se tornaram um grupo secreto meio religioso, meio filosófico, meio mercenário, unindo com incrível sincretismo princípios ocultistas, dogmas cristãos, espiritualidade islâmica, filosofias hinduístas e do extremo oriente. Acreditam acima de tudo no que chamam de a “força”, que corresponde em certa medida ao princípio do Tao (no Taoísmo chinês). No entanto, durante a 1ª Guerra Mundial, a maioria deles morreu ou desapareceu misteriosamente.

Obi Wan Kenobi é um dos últimos sobreviventes e vive como ermitão no norte do Saara (em território que pertence à Tunísia, mais especificamente nos arredores da cidade de
Tatouine – esta cidade é real!).
Tatouine - Tunisia
Tatouine - Tunisia
C-3PO e R2-D2 chegam à Tunísia, mas, atrapalhados, não conseguem localizar Kenobi. Acabam sendo ajudados por um jovem pastor de ascendência européia chamado Luke Skywalker, que vive perto de Tatouine com seus tios. Ele sonha em ir embora da África e se tornar um grande aviador como o seu pai, herói condecorado da 1ª Guerra Mundial. Luke sabe onde vive o velho “Ben” e leva os dois agentes até lá. Obi Wan, junto de Luke, vê a mensagem de Leia e o jovem se oferece para ajudar. Obi Wan conta que o pai dele era um grande piloto e cavaleiro Jedi, e que havia sido morto por Lord Vader. Mesmo assim, Luke não desiste.

Ao voltarem todos para a casa do jovem pastor, encontram-na incendiada e os tios assassinados. Obi Wan compreende que eles já estão sendo perseguidos por agentes de Vader e decide fugir dali o mais rápida e secretamente possível. Para tanto, vão até uma taverna de Tatouine (que é freqüentada majoritariamente por bandidos, vagabundos, fujões e aventureiros) e travam conhecimento com um contrabandista norte-americano chamado Han Solo. Solo é um ex-piloto da força aérea dos EUA, dono de um avião cargueiro de péssimas condições chamado Millenium Falcon (pelo qual, no entanto, o piloto cultiva grande afeto).

Solo é acompanhado do seu melhor amigo e grande assistente, conhecido apenas como Chewbaca. Este é um homenzarrão negro de 2,10 de altura, cabeludo e barbudo, que só fala o dialeto de sua própria tribo (situada na África Central); apenas Han Solo consegue se comunicar com ele. Depois de muita insistência por parte de Luke e Obi Wan, Solo aceita a “encomenda” de transportá-los para fora da África, convencido pela promessa de grande pagamento feita por Obi Wan (ainda mais que Han Solo está devendo dinheiro para um grande chefão da máfia siciliana chamado Jabba The Hutt).

Durante a viagem, Kenobi começa a treinar Luke Skywalker na arte e na filosofia do guerreiro Jedi, que envolve grande poder da mente e o manejo de um sabre de propriedades especiais chamado “sabre de luz” (sua lâmina é cravejada de pequenas esmeraldas que emitem um leve brilho esverdeado). O resto da história McBride nunca chegou a terminar, morrendo em circunstâncias não-esclarecidas no ano de 1971. Mas deixou algumas notas, que revelam mais ou menos o que segue:

o filme tratará ainda do resgate da princesa Leia; da morte de Obi Wan nas mãos de Lord Vader; da finalização do treinamento de Luke Skywalker, que será empreendida no pântano de uma ilha isolada no meio do Oceano Pacífico (onde mora outro dos últimos sobreviventes dos cavaleiros Jedi, um homenzinho oriental conhecido como Mestre Yoda, que será o grande guru de Luke);

da traição de Han Solo por um de seus grandes amigos, o ex-apostador e dono de refinaria de petróleo no Oriente Médio, chamado Lando Calrissian; do primeiro confronto entre Luke e Vader, onde se revela que este é pai daquele (a história de Vader poderá ser contada em flashback, mostrando que ele era um grande Jedi que lutara na 1ª Guerra Mundial, mas que acabou mudando para o lado dos Sith – uma antiga dissidência dos Jedi, que trabalha com magia negra – o lado escuro da “força” – e formas radicais de esoterismo bastante apreciadas por Hitler – isto é real!).

Aí está tudo o que se sabe sobre o ambicioso projeto de Ethan McBride. O mais interessante é que essa história é, pelo menos parcialmente, baseada em fatos reais – sim, reais! – vivenciados e testemunhados pelo próprio autor, que à época servia como médico na Aliança Rebelde. As fotos abaixo, por exemplo, são fontes de grande documentação histórica, muito raras e mantidas até agora em segredo...


Protótipo de caça a jato, denominado X-Wing, desenvolvido pela Aliança Rebelde. A foto é de um pouso de emergência realizado no porta-aviões norte-americano USS Long Island, em julho de 1942.
Fotografia tirada por um espião infiltrado nas fileiras da A.E., revelando (ao fundo) uma de suas máquinas mais letais no campo de batalha, conhecida apenas como “Walker”.
Reconstituição artística do que seria a temível armadura de Lord Vader, uma vez que não existem quaisquer registros fotográficos, fílmicos ou pictográficos deste homem tão misterioso.

segunda-feira, junho 29, 2009

O Exterminador do Futuro: A Salvação


E não é que a saga continua muito viva? E olha que pode dar ainda mais frutos. É claro que, sem Arnold Schwarzenegger, algumas coisas precisaram ser reinventadas. Mas estas foram pensadas sabiamente como conseqüências lógicas do desenrolar da fábula. Mesmo a ausência do “governator” foi presentificada no filme de um modo bastante surpreendente, com uma coerência que, talvez como efeito colateral, tenha saído até melhor que a dos filmes anteriores – viva a CGI. Mais do que isso eu não revelo.

O Exterminador do Futuro: A Salvação (EUA, 2009) também surpreende em acabar se saindo melhor do que se poderia esperar vindo de um “cineasta” que atenda pela alcunha de McG e que tenha dirigido As Panteras (2000). Parece uma ficção dos tempos antigos (leia-se: anos 80); ao contrário dos “Transformers” de Michael Bay, este “Exterminador” não tenta exterminar a paciência e a inteligência do espectador – pelo menos, não além da medida do que seria razoável para o gênero.

Este filme parece ter sido feito mesmo para os velhos fãs do “Terminator” e das ficções científicas de outros e mais criativos tempos (de novo a década de 1980, como não podia deixar de ser). A trilha sonora de Danny Elfman (braço direito de Tim Burton) está ótima, como sempre; o elenco também é bem interessante, com destaque para Helena Bonham Carter (a Sra. Tim Burton) e para o velho Michael Ironside – grande figura da Sci-Fi: trabalhou com os mestres Paul Verhoeven (O Vingador do Futuro - 1990 e Tropas Estelares - 1997) e David Cronenberg (Scanners – 1981),

sem contar o eterno Ham Tyler vivido por ele na clássica (e esquecida) minissérie V: A Batalha Final (1984), a qual também tratava de movimentos de resistência. Com isso, vemos o quanto este filme é dotado de referências que podem não se perceber nos trailers ou campanhas de marketing. Os efeitos sonoros das máquinas assassinas neste “Exterminador” assustam tanto – na sala escura, logicamente – quanto não se via desde a Guerra dos Mundos (2005), de Spielberg, o que contribui muito para a atmosfera opressiva de um futuro pós-apocalíptico.

São também apetitosas as múltiplas citações às outras fitas da série “Terminator” (de 1984, 1992 e 2003, respectivamente). Essas jogadas trarão múltiplas alegrias aos fãs mais fiéis, mas aquilo que faz o melhor deste filme eu não revelarei explicitamente. Vou deixar como sugestão para quem quiser ver, dizendo apenas que este Exterminador pode ser definido e resumido numa sentença bem simples. Aí vai: “Terminator meets Robocop and Mad Max”. Viva os anos 80!

quinta-feira, junho 25, 2009

Transformers: A Vingança dos Derrotados


Transformers: A Vingança dos Derrotados (“Transformers: Revenge of The Fallen”, EUA, 2009) é um desenho animado em “live-action”. Um desenho animado de ação / aventura para meninos, diga-se de passagem – e custando 200 milhões de dólares. Se virmos esse filme com os mesmos olhos com que vemos (ou víamos) as animações desse gênero, e pensarmos sobre ele sob a mesma lógica que animava e entusiasmava nossas imaginações há uns 25 anos atrás (já entregando a geração a que pertencemos), com certeza havemos de adorar e de nos divertirmos muito com mais esta pérola de Michael Bay.

É claro que o diretor em questão não tem nem 0,1% da classe dos diretores tradicionais de “toy movies”: Spielberg, Lucas e herdeiros – dentre estes, Peter Jackson e Guillermo Del Toro. A “mise en scène” de Bay é extremamente irritante; mas, talvez sejam meus olhos que já ficaram demais enferrujados – como o velho Jetfire (o avião SR-71 Blackbird do filme). Novamente, dentro daquela lógica que mistura as “soap operas” infanto-juvenis do Disney Channel com as séries animadas do Jetix para garotos, o estilo de Bay pode até encontrar lá alguma explicação à guisa de justificativa.

Mas será que a maneira de se construírem vídeo-clipes de cinco minutos cabe para filmes de duas horas e meia de duração? Não creio. O primeiro terço deste Transformers (que ocupa um tempo já considerável) é bastante difícil de assistir sem se ficar remexendo na cadeira ou olhando para qualquer lugar que não seja a tela (repito, crianças e adolescentes de hoje podem ser de diferente opinião). Isso porque o filme tenta, aqui, elaborar uma “narrativa”, uma historinha que sirva de preparação e base para o filme, depois, finalmente revelar a única razão a que veio.

Mas, sinceramente: com Michael Bay não dá. Graças aos malévolos Decepticons, o filme torna-se bem mais agradável depois de uns 50 minutos de exibição, quando o couro começa a comer de verdade e a narração se reduz ao que somente exige um bom quebra-quebra – quaisquer que sejam os seus motivos. Mesmo assim, a praga Bay não perde a chance de inserir momentos mais “emotivos” à lá Armageddon (1998). Contudo, mais uma vez, levando em conta que este filme é um desenho / brinquedo (que não se leia aqui qualquer desqualificação), desta vez passa.

segunda-feira, junho 01, 2009

Sinédoque Nova York


O filósofo italiano Giambattista Vico, em sua Ciência Nova (1725), assim explica as figuras de linguagem que aprendemos na escola – ou no cursinho – sob os nomes de metonímia e de sinédoque:

“Por força dessa mesma lógica (poética), parto de tal metafísica (poética), tiveram os primeiros poetas que dar nomes às coisas a partir das idéias mais particulares e sensíveis: o que vêm a ser as duas fontes, esta da metonímia, aquela da sinédoque. Assim, a metonímia do autor pela obra nasceu porque os autores eram mais nomeados do que as obras; a dos conteúdos pelas suas formas e adjuntos nasceu porque não sabiam abstrair as formas e as qualidades dos objetos; certamente, a das causas pelos efeitos faz uma só coisa com outras pequenas fábulas com as quais imaginaram as causas vestidas de seus efeitos: feia a Pobreza, ingrata a Velhice, pálida a Morte. (...) A sinédoque passou a translato mais tarde, quando os particulares subiram a universais, ou quando as partes se compuseram com outras partes de modo a perfazer os seus inteiros.” (citado por Alfredo Bosi em O Ser e o Tempo da Poesia)

Os filmes de Charlie Kaufman, sejam este Sinédoque Nova York (2008) – o primeiro que ele dirige –, sejam os outros por cujos roteiros o autor se notabilizou: Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004), Adaptação (2002) e Quero Ser John Malkovitch (1999), só para ficar dentre os mais “experimentais”, estes filmes deixam-se guiar livremente pela tão citada e pouco compreendida “lógica poética”. Assim como David Lynch (basta lembrar o mais recente O Império dos Sonhos – 2007), só para ficar dentre os mais contemporâneos, Kaufman não constrói suas histórias baseado nos velhos princípios aristotélicos de narrativa e dramaturgia. Conseqüentemente, o espectador que tentar ver, e principalmente acompanhar, tais filmes com os olhos da razão há de cair do cavalo.

Não adianta querer entender e explicar tudo o que aparece e acontece na tela. A coisa não funciona por aí. Mas isso não quer dizer que não haja alguma razão naquilo que nos é mostrado. Não deixa de haver a razão poética, uma outra razão, fundamentada no pensamento da analogia (a metáfora) e da contigüidade (a metonímia, estando a sinédoque subordinada a ela); ou seja, a lógica dedutivo-abstracionista passa longe daqui, bem longe. Para o espectador contemporâneo, seja ele “intelectualizado” ou não, será quiçá difícil exercitar-se na lógica poética, uma vez que ela tem sido relegada ao esquecimento pelos últimos 200 anos de tradição Iluminista. Qualquer pessoa, “inteligente” ou não, estudada ou não, quererá com o maior dos afincos decodificar da maneira mais exata um filme como Sinédoque Nova York.

No entanto, quem estará mais próximo de conseguir “processar”, digamos assim, um filme como este será a pessoa que dá a maior abertura, dentro de si, à sensação, à emoção e à intuição – que são as outras três maneiras com que a natureza nos dotou para Conhecer. A lógica poética é a lógica do sonho: nós compreendemos apenas e devidamente a sua dimensão humana (as experiências, sensações e emoções que são aí evocadas), e é tal compreensão a única que realmente importa no caso. Se você quer aproveitar bem a Sinédoque Nova York, deixe-se apenas envolver e levar pelo que a “música” das imagens desperta no mais fundo do seu ser.

O que importa, por exemplo, que Hazel (uma das mulheres na vida do protagonista) viva durante anos numa casa em chamas, como se fosse a coisa mais natural do mundo? É claro que podemos buscar explicações racionais para isto e elas podem ser até bem interessantes; mas estas não determinarão a qualidade da experiência que o filme pode proporcionar ao espectador. Dentro das metáforas do palco como o mundo e da encenação teatral como a vida, encontramos a sinédoque (a parte pelo todo) de uma parte de Nova York reconstruída dentro de um galpão, assim como partes da vida do protagonista Caden Cotard (Philip Seymour Hoffman). A metáfora também está nas pessoas que o representam, e a metonímia nas pessoas ligadas a ele que definem, de uma maneira ou de outra, o seu caráter.

Mas a maior de todas as metonímias parece estar na Morte, presente desde o começo do filme através dos seus sinais: as causas (as marcas físicas da doença que Cotard tanto teme que lhe arranque a vida) e os efeitos (a galeria dos mortos que atravessam toda a história: o pai, a mãe, a filha, a esposa, o ator predileto, culminando na apoteótica última cena). Tudo neste filme tem o seu duplo, tudo se reproduz como que num espelho de proporções menores (ou maiores, subjetivamente). Tais duplicidades não são tanto metafóricas (simbólicas) quanto metonímicas: são fragmentos do ser, da vida e do mundo que mal conseguem se juntar na tentativa de um todo, um todo que se compreenda. Neste ponto, o drama do espectador em relação à tessitura do filme é o drama do protagonista em relação à tessitura da própria vida. São obras abertas.