quinta-feira, julho 31, 2008

Be Kind Rewind


Be Kind Rewind (EUA, 2008, dir.: Michel Gondry) aponta carinhosamente para duas direções simultâneas: o passado e o futuro. O filme homenageia, por um lado, os pioneiros do Cinema, que não precisaram de nada mais do que da imaginação criativa para realizarem as primeiras obras de uma nova arte. É um cinema feito na base do improviso, da intuição e da experimentação. Um cinema espontâneo, não à toa com grande apelo popular. Um cinema de painéis pintados à guisa de cenário, na falta de outra tecnologia. Neste aspecto, algumas imagens de Be Kind Rewind emulam as façanhas de G. A. Smith, Ferdinand Zecca e Georges Méliès. Por um outro lado, Michel Gondry homenageia o “novo” cinema da era do Youtube, os “fan films”, recriações, refilmagens e remontagens caseiras de grandes e míticos sucessos da Sétima Arte.

Também este é um cinema de improviso, intuição, experimentação e espontaneidade. Mas engana-se quem pensar que é um cinema feito sem um rigoroso critério, e sobretudo sem paixão. Esses novos pioneiros resgatam a função coletiva dos filmes, realmente popular. Também é um cinema de cenários pintados à mão, mas por falta de capital para comprar outras tecnologias. Promove-se assim o resgate da relação íntima dos indivíduos com os filmes, enfatiza-se o poder do cinema de transformar a vida das pessoas; um poder e uma relação que andavam esgotados, senão completamente erradicados pelo cinema da indústria contemporânea. Não vou fazer sinopse alguma do enredo, o gostoso aqui é ir descobrindo o filme ponto a ponto, conforme se vai assistindo a ele.

Mas algo que se pode citar e que é extremamente interessante é a proposta dos personagens de se reduzirem (e simplificar) todos os gêneros cinematográficos a duas categorias: 1. ação / aventura; 2. comédia. É preciso mais do que isso, quando se pensa na função fenomenológica do cinema? Todo o escopo da experiência humana se alinha necessariamente ao longo de uma escala com duas pontas: a tragédia e a comédia, como os gregos antigos já sabiam. Que experiência com a qual o indivíduo possa realmente se identificar poderá ser fornecida por um “blockbuster” de 200 milhões de dólares? De que maneira as pessoas podem efetivamente participar de uma fita “cult” franco-alemã-iraniana-taiwanesa? Assim, Be Kind Rewind, à sua própria e bastante peculiar maneira, promove a tomada do cinema pelo povo e para o povo.

E o que é melhor: numa chave que não tem nada da ideologia que a sentença anterior pode sugerir. A condescendência e a ingenuidade de Gondry para com as pessoas comuns é singela, bela, quase edificante em sua naturalidade. Longa vida aos filmes toscos! Aos filmes realmente poéticos! Be Kind Rewind é um daqueles filmes que nos despertam e ensinam a fazer cinema. Na tentativa do cinema atual de sobreviver à pirataria, às novas mídias e a outras formas de entretenimento, poderíamos colocar este filme em uma das duas tendências que costumo discutir: que é a do cinema caseiro (mas neste caso, não necessariamente com uma “filmagem inconsciente” – vide a postagem referente a Cloverfield). É o cinema que retorna às pessoas comuns, para fazer com que elas continuem se interessando por cinema.

É claro que esta tendência encontra suas melhores realizações – em todos os sentidos, inclusive no artístico – no cinema efetivamente popular, o cinema de Youtube e similares. E é claro também que haverá o estúpido embate dos donos do “cinemão” contra essas formas de “pirataria”, que estariam “matando” o Cinema... Quanto a mim, não consigo imaginar um melhor (re)nascimento para a Sétima Arte. Tudo isso é mostrado e discutido muito bem em Be Kind Rewind. Ademais, a fita nova de Gondry apresenta uma ótima surpresa: a ótima atuação do rapper e ator Mos Def. Ele é realmente bom. Promissor. Já Jack Black é sempre Jack Black, gostemos dele ou não... Danny Glover, por sua vez, continua mostrando que é um grande artista (merecedor de mais “óscares”), apesar de andar meio esquecido.

O filme anterior de Gondry (The Science Of Sleep, 2006) nunca chegou a estrear no circuito comercial brasileiro. Quanto a este Be Kind Rewind, finalmente saiu (no IMDB) a data de estréia por aqui: 03 de outubro de 2008. Com certeza, verei de novo. Em alguns casos, a tela grande na sala escura é indispensável. É muito interessante o site oficial do filme – o como que Jerry e Mike “sweded” a Internet!... Também estão lá todos os filmes “sweded” (Ghostbusters, Robocop, etc), até o trailer do próprio Be Kind Rewind foi devidamente “sweded”!

http://www.bekindmovie.com/

Não há nada que substitua a imaginação!

4 comentários:

Romulo Perrone disse...

O filme me pareceu ser bom, de acordo com as suas palavras....
tenho q me organizar, quase nao estou tendo tempo de ver novos filmes.

parabens pela critica!

Anônimo disse...

Depois de algumas críticas, fiquei intrigado pelo seu texto, que elogiou bastante.

Eu sou fã de Gondry. Ele fez o que foi para mim o melhor romance de todos os tempos e ainda gostei bastante de The Science of Sleep.

Aguardo este com ansiedade.

Ciao!

André Renato disse...

Não vi ainda outras críticas a respeito de "Be Kind Rewind". Mas o fato é que, em alguns casos, as "críticas" de cinema são terrivelmente maliciosas...

Assista a "Be Kind Rewind" de coração aberto! Ele merece!

Dr Johnny Strangelove disse...

Assim como você, ele é a mais plena e pura declaração ao cinema ... adorei ele e se estrear no cinema irei ver de novo ... e não dá para não se emocionar com aquele final ...

Filme incrivel ...