Uma imagem forte num mundo fraco, frágil; uma imagem tépida, esfriando vagarosamente num mundo gelado; uma imagem de pura cor num mundo descolorido, acinzentado; uma imagem do novo num mundo velho e desgastado; uma imagem tão pequena nesta “terra de ferocidades excepcionais” (no dizer do poeta Manuel Bandeira); uma imagem de infância num mundo demais adulto; uma imagem de inocência (a única) num mundo culpado; uma imagem do ingênuo no mundo da malícia; uma imagem de promessa, de esperança, num mundo descrente e desacreditado. A imagem de um feto abortado, no chão de um banheiro de hotel.
Um feto vomitado, defecado, mijado, sangrado; um corpo estranho, uma doença, um fluido corporal, não mais que o sub-produto de uma necessidade fisiológica da mulher. Não, não é nem de longe o bendito fruto do vosso ventre. A imagem do futuro, mas de um futuro do pretérito. Hipotético. Quando muito, condicional. A imagem do imaculado, indescritivelmente violentado. A imagem da vida, mas de uma vida natimorta. Nati-morta... Que palavra forte, não?
A imagem deste feto, demorada como todas as imagens do filme, é a imagem arquetípica do corpo estranho. Tal imagem se destaca tanto do resto das imagens do filme, que é como se fosse expelida – abortada por ele. Tal como o bebê que é despejado do corpo de sua mãe. Uma imagem assim, despejada na tela dessa maneira, é um grito no meio de um filme de resto calado. O grito que aquele projeto inacabado de ser humano jamais dará. Este feto e a sua imagem são o único ponto de “maximalismo” num universo de infinito minimalismo, num filme tão esteticamente minimalista que provoca sono no espectador. Muito sono. Mas ele acorda com a imagem do feto. Quanto a este, não se pode dizer o mesmo.
O filme inteiro é a imagem do cotidiano. Ele começa e termina com o cotidiano, com o banal. Mas este banal foi, é e continuará a ser corroído por um elemento de bizarro (um medo? Uma dúvida? Um erro? Um remorso? – uma gravidez indesejada?), por mais que o cotidiano se esforce em ser e parecer cotidiano. Algo muda. E muda para sempre. De onde vem esta mudança? De um erro. Apenas um único e simples erro. Mas um erro do qual nascerão outros e mais complicados erros – um deles será abortado, numa tentativa precária e desesperada de se corrigir, desfazer e esquecer o erro original. Ah, se isso desse certo...
Um feto vomitado, defecado, mijado, sangrado; um corpo estranho, uma doença, um fluido corporal, não mais que o sub-produto de uma necessidade fisiológica da mulher. Não, não é nem de longe o bendito fruto do vosso ventre. A imagem do futuro, mas de um futuro do pretérito. Hipotético. Quando muito, condicional. A imagem do imaculado, indescritivelmente violentado. A imagem da vida, mas de uma vida natimorta. Nati-morta... Que palavra forte, não?
A imagem deste feto, demorada como todas as imagens do filme, é a imagem arquetípica do corpo estranho. Tal imagem se destaca tanto do resto das imagens do filme, que é como se fosse expelida – abortada por ele. Tal como o bebê que é despejado do corpo de sua mãe. Uma imagem assim, despejada na tela dessa maneira, é um grito no meio de um filme de resto calado. O grito que aquele projeto inacabado de ser humano jamais dará. Este feto e a sua imagem são o único ponto de “maximalismo” num universo de infinito minimalismo, num filme tão esteticamente minimalista que provoca sono no espectador. Muito sono. Mas ele acorda com a imagem do feto. Quanto a este, não se pode dizer o mesmo.
O filme inteiro é a imagem do cotidiano. Ele começa e termina com o cotidiano, com o banal. Mas este banal foi, é e continuará a ser corroído por um elemento de bizarro (um medo? Uma dúvida? Um erro? Um remorso? – uma gravidez indesejada?), por mais que o cotidiano se esforce em ser e parecer cotidiano. Algo muda. E muda para sempre. De onde vem esta mudança? De um erro. Apenas um único e simples erro. Mas um erro do qual nascerão outros e mais complicados erros – um deles será abortado, numa tentativa precária e desesperada de se corrigir, desfazer e esquecer o erro original. Ah, se isso desse certo...