A despeito de todo o recheio do filme que é muito, muito interessante, O Hospedeiro (“Gwoemul”, Coréia do Sul, 2006, dir.: Joon-ho Bong) pode ser perfeitamente resumido à cena de abertura e à de encerramento. Estão ali o verdadeiro tema e a mensagem real desta obra surpreendente em muitos, muitos aspectos. Principalmente na cena final, que é deliciosa, a chave de ouro do soneto. Só ficou faltando aquela imagem se metamorfosear numa voz a murmurar desdenhosamente: “Fuck USA!” Sim, eis a verdadeira ameaça. Não que a fera à lá Godzilla que faz os seus tantos estragos no filme seja uma “metáfora” para o monstro da “mão peluda” (no dizer do arlequim atualmente a ocupar o trono da Venezuela). Este filme, graças a Deus, não é tão idiota assim. As relações simbólicas aqui são mais elaboradas (e mais de acordo com a realidade dos fatos) e sutis, e ainda assim a fábula mantém uma clareza e coerência admiráveis.
Como sugestão a um início de interpretação, aí vai: Gwoemul é uma ameaça real, que vale por si mesma – a não ser que lhe atribuamos a velha simbologia do poder da natureza, maculada pelo homem, que se volta contra ele, numa encarnação teriomórfica (com forma animalesca). No entanto, independente de qualquer coisa, o monstro é um mal (repare que eu não estou dizendo que ele seja “o” mal). Existem muitos males neste mundo, que são males de verdade – e fodam-se os intelectualóides pueris ou assanhados que querem relativizar todos os valores o tempo todo. Osama Bin Laden é mau, suas ações são más, não se esqueçam disso, crianças. Mas, apesar de tudo, de onde é que vêm certos males muito maldosos? Eles são conseqüência do quê? Quem é que os cria, querendo ou não? (Na verdade, sem querer querendo). E, principalmente, quem é que só faz cagadas nas tentativas de “consertar” esses males? Alguém aí disse “USA”? Bom menino! (Ou boa menina!)
Gwoemul nasce das mesmas forças desdenhosas que também com muito desdém atropelarão as vítimas mais imediatas deste monstro (fuck Corea!) na tentativa incompetente e desastrada de destruí-lo (e também destruir uma outra ameaça ligada ao monstro, ameaça esta invisível – em mais de um sentido e com mais de uma causa). Nada mais coerente, então, do que o grande “idiota” coreano desdenhar dessas mesmas “forças” (fuck USA!). Quem é que se parece mais com um idiota: o coreano loiro ou o americano estrábico? Este filme é muito, muito escarnecedor. Nem Michael Moore, nem Sacha Baron Cohen (com o seu Borat) conseguiram zuar, aloprar os EUA de uma maneira tão contundente e ao mesmo tempo tão sutil, tão sublime. Esta é a inteligência de O Hospedeiro, uma crítica do cenário geopolítico e da política externa estadudinense pós-11 de Setembro que possui um QI muito, mas muito mais alto do que os manjados críticos de plantão.
E como se não bastasse, é um grande filme de monstro. Com efeitos especiais de ponta (devem ter custado muito caro) que são muito bem aproveitados em cenas filmadas de acordo com o melhor da arte cinematográfica. Só a seqüência do ataque inicial do monstro já vale por muitos e muitos filmes hollywoodianos inteiros do mesmo gênero. O monstro, aliás, é sempre filmado do ponto de vista humano, do ponto de vista das testemunhas e vítimas dos ataques. E filmar uma catástrofe do ponto de vista das pessoas não significa apenas colocar uma câmera trepidante como se estivesse no ombro de alguém que corresse perdido e em pânico no meio da merda toda, juntando os planos-relâmpago captados numa montagem também histérica na qual não se vê ou se distingue coisa alguma (ufa!). É precisamente isto o que muitos diretores de Hollywood não percebem.
Já o nosso grande amigo Joon-ho Bong mostra as coisas com uma clarividência quase zen. Por exemplo, são maravilhosos os planos gerais que captam – do alto – o monstro gigante no meio de um parque, com todas as pessoas correndo pra lá e pra cá em volta. Isto também é filmar do ponto de vista das pessoas, pois tal imagem está identificada ao olhar dos passageiros de um trem de metrô que passa pelo “elevado” em frente ao parque justamente naquele momento. Enfim, misturando humor e drama de um modo que muitos ocidentais não vão compreender (os coreanos podem parecer meio tolos, meio “naïf” – ingênuos, infantis – tanto no rir quanto no chorar), numa história de ficção científica e de terror muito séria, que utiliza os melhores clichês do gênero (a sátira do filme não incide sobre o próprio cinema), e ainda por cima, com uma mensagem política interessante e transmitida de uma maneira também muito interessante (com fina ironia), O Hospedeiro é uma fita única, com um frescor que atualmente só poderia vir do Oriente mesmo.
Como sugestão a um início de interpretação, aí vai: Gwoemul é uma ameaça real, que vale por si mesma – a não ser que lhe atribuamos a velha simbologia do poder da natureza, maculada pelo homem, que se volta contra ele, numa encarnação teriomórfica (com forma animalesca). No entanto, independente de qualquer coisa, o monstro é um mal (repare que eu não estou dizendo que ele seja “o” mal). Existem muitos males neste mundo, que são males de verdade – e fodam-se os intelectualóides pueris ou assanhados que querem relativizar todos os valores o tempo todo. Osama Bin Laden é mau, suas ações são más, não se esqueçam disso, crianças. Mas, apesar de tudo, de onde é que vêm certos males muito maldosos? Eles são conseqüência do quê? Quem é que os cria, querendo ou não? (Na verdade, sem querer querendo). E, principalmente, quem é que só faz cagadas nas tentativas de “consertar” esses males? Alguém aí disse “USA”? Bom menino! (Ou boa menina!)
Gwoemul nasce das mesmas forças desdenhosas que também com muito desdém atropelarão as vítimas mais imediatas deste monstro (fuck Corea!) na tentativa incompetente e desastrada de destruí-lo (e também destruir uma outra ameaça ligada ao monstro, ameaça esta invisível – em mais de um sentido e com mais de uma causa). Nada mais coerente, então, do que o grande “idiota” coreano desdenhar dessas mesmas “forças” (fuck USA!). Quem é que se parece mais com um idiota: o coreano loiro ou o americano estrábico? Este filme é muito, muito escarnecedor. Nem Michael Moore, nem Sacha Baron Cohen (com o seu Borat) conseguiram zuar, aloprar os EUA de uma maneira tão contundente e ao mesmo tempo tão sutil, tão sublime. Esta é a inteligência de O Hospedeiro, uma crítica do cenário geopolítico e da política externa estadudinense pós-11 de Setembro que possui um QI muito, mas muito mais alto do que os manjados críticos de plantão.
E como se não bastasse, é um grande filme de monstro. Com efeitos especiais de ponta (devem ter custado muito caro) que são muito bem aproveitados em cenas filmadas de acordo com o melhor da arte cinematográfica. Só a seqüência do ataque inicial do monstro já vale por muitos e muitos filmes hollywoodianos inteiros do mesmo gênero. O monstro, aliás, é sempre filmado do ponto de vista humano, do ponto de vista das testemunhas e vítimas dos ataques. E filmar uma catástrofe do ponto de vista das pessoas não significa apenas colocar uma câmera trepidante como se estivesse no ombro de alguém que corresse perdido e em pânico no meio da merda toda, juntando os planos-relâmpago captados numa montagem também histérica na qual não se vê ou se distingue coisa alguma (ufa!). É precisamente isto o que muitos diretores de Hollywood não percebem.
Já o nosso grande amigo Joon-ho Bong mostra as coisas com uma clarividência quase zen. Por exemplo, são maravilhosos os planos gerais que captam – do alto – o monstro gigante no meio de um parque, com todas as pessoas correndo pra lá e pra cá em volta. Isto também é filmar do ponto de vista das pessoas, pois tal imagem está identificada ao olhar dos passageiros de um trem de metrô que passa pelo “elevado” em frente ao parque justamente naquele momento. Enfim, misturando humor e drama de um modo que muitos ocidentais não vão compreender (os coreanos podem parecer meio tolos, meio “naïf” – ingênuos, infantis – tanto no rir quanto no chorar), numa história de ficção científica e de terror muito séria, que utiliza os melhores clichês do gênero (a sátira do filme não incide sobre o próprio cinema), e ainda por cima, com uma mensagem política interessante e transmitida de uma maneira também muito interessante (com fina ironia), O Hospedeiro é uma fita única, com um frescor que atualmente só poderia vir do Oriente mesmo.
Além de ser um filme sobre monstro com grandes cenas de ação e com uma adrenalina muito boa, e tb ter vários toques cômicos durante a película, o filme ainda tem um forte teor crítico em seu bojo. Realmente é uma obra que só engrandece o cinema oriental. Abraço!
ResponderExcluirÉ um filme bem versátil, que trabalha em várias frentes e agrada a vários gostos e espectativas diferentes. Engrandece o cinema como um todo. Valeu!
ResponderExcluirPutz mó filmão!
ResponderExcluirTrabalha com um estranho humor e sabe fazer uma alegoria sobre imperialismo sem deixar de ser um terror de primeira!