Muito bem. Vamos direto ao que interessa. Gostar ou não de A Origem (EUA, 2010, Christopher Nolan) dependerá muito do que se espera do filme. Se você entrar na sala de cinema esperando a fantasia vanguardista de um Terry Gilliam ou do velho Jean Cocteau, a decepção será grande. Agora, se o seu coração bate mais depressa com os heist movies – subgênero de fitas que exploram aquela trama bastante intrincada envolvendo um grupo de vigaristas profissionais que tentam cumprir uma “missão” (geralmente um roubo espetacular, cujo exemplo mais óbvio é Onze Homens E Um Segredo – “Ocean’s Eleven”, refilmagem de 2001 por Steven Soderbergh) – ou com ficções científicas do tipo de Matrix (1999, irmãos Wachowski, a qual não deixa de ser também um heist movie), então sinta-se em casa e curta a viagem.
“Inception” é um ótimo thriller, especialidade de Nolan desde Amnésia (“Memento”, 2000), e tão imaginativo quanto cabe ao gênero. Não é um filme sobre “sonhos”, que isso fique bem claro. Toda a mise en scène (incluindo os impressionantes efeitos especiais) pensada para reproduzir o universo onírico estrutura-se em função exclusivamente do direcionamento que se dá à ação, dentro da narrativa do “heist” (roubo, golpe, etc). Quando muito, poderíamos dizer que se trata antes de mais um filme sobre a tão midiática “hiperrrealidade”, do que sobre o velho inconsciente desbravado pelos sisudos psicanalistas. Nolan não se deu mais do que o mínimo do trabalho necessário para taxidermizar os personagens de alguma emoção e alguma motivação com as quais o espectador pudesse se identificar.
Com isso, não se deixe levar muito pela supostamente mitológica “Ariadne” (Ellen Paige) que guia o personagem de Leonardo diCaprio (Cobb) pelos labirintos do “subconsciente” (sic). O filme afunda-se em um mínimo de profundidade na justa tentativa de subir além da divisão na qual se bate um Michael Bay; mas não deixa de ser, à sua própria maneira, um “toy movie”, como os dois Transformers (2007 e 2009) deste. Em entrevista à Film Comment (jul/ago 2010), Christopher Nolan admite que a geografia dos jogos de video-game “online” tem muito a ver com a maneira como pensou no universo onírico para o filme, no que aquela possibilita uma interação humana “genuína” e “compartilhada” dentro de um universo virtual. E admite também o como quis que o roteiro não tivesse apenas “jogabilidade”, procurando aprofundar mais os personagens.
Mas o resultado final pende mais para o lúdico mesmo. Principalmente no que a segunda metade do filme está quase inteiramente estruturada numa magnífica montagem paralela, que intercala, sob doses cavalares de tensão e suspense, 3 ações simultâneas (posteriormente, 4) que se passam e se remetem mutuamente não só em espaços diferentes, mas em planos de “realidade” distintos (a rocambolesca ideia do sonho dentro do sonho); no final, haverá logicamente uma convergência, e o mais impressionante de tudo é que todos os acontecimentos são vividos pelos mesmos personagens. É como se Griffith tivesse um surto esquizofrênico. Junte-se isso à trilha sonora embriagante e ao ritmo alucinante da fita como um todo, e teremos uma sensação da grande brincadeira técnica que é o que dá verdadeiramente graça para este filme.
“Inception” é um ótimo thriller, especialidade de Nolan desde Amnésia (“Memento”, 2000), e tão imaginativo quanto cabe ao gênero. Não é um filme sobre “sonhos”, que isso fique bem claro. Toda a mise en scène (incluindo os impressionantes efeitos especiais) pensada para reproduzir o universo onírico estrutura-se em função exclusivamente do direcionamento que se dá à ação, dentro da narrativa do “heist” (roubo, golpe, etc). Quando muito, poderíamos dizer que se trata antes de mais um filme sobre a tão midiática “hiperrrealidade”, do que sobre o velho inconsciente desbravado pelos sisudos psicanalistas. Nolan não se deu mais do que o mínimo do trabalho necessário para taxidermizar os personagens de alguma emoção e alguma motivação com as quais o espectador pudesse se identificar.
Com isso, não se deixe levar muito pela supostamente mitológica “Ariadne” (Ellen Paige) que guia o personagem de Leonardo diCaprio (Cobb) pelos labirintos do “subconsciente” (sic). O filme afunda-se em um mínimo de profundidade na justa tentativa de subir além da divisão na qual se bate um Michael Bay; mas não deixa de ser, à sua própria maneira, um “toy movie”, como os dois Transformers (2007 e 2009) deste. Em entrevista à Film Comment (jul/ago 2010), Christopher Nolan admite que a geografia dos jogos de video-game “online” tem muito a ver com a maneira como pensou no universo onírico para o filme, no que aquela possibilita uma interação humana “genuína” e “compartilhada” dentro de um universo virtual. E admite também o como quis que o roteiro não tivesse apenas “jogabilidade”, procurando aprofundar mais os personagens.
Mas o resultado final pende mais para o lúdico mesmo. Principalmente no que a segunda metade do filme está quase inteiramente estruturada numa magnífica montagem paralela, que intercala, sob doses cavalares de tensão e suspense, 3 ações simultâneas (posteriormente, 4) que se passam e se remetem mutuamente não só em espaços diferentes, mas em planos de “realidade” distintos (a rocambolesca ideia do sonho dentro do sonho); no final, haverá logicamente uma convergência, e o mais impressionante de tudo é que todos os acontecimentos são vividos pelos mesmos personagens. É como se Griffith tivesse um surto esquizofrênico. Junte-se isso à trilha sonora embriagante e ao ritmo alucinante da fita como um todo, e teremos uma sensação da grande brincadeira técnica que é o que dá verdadeiramente graça para este filme.
Acho que, conforme a metragem vai rolando, este filme vai ficando mais e mais denso. Ao desfecho, já sabia que eu estava apaixonado pelo que tinha acabado de presenciar.
ResponderExcluirPoisé... É um filme de ação, nada mais que isso. Um pouco cansativo, eventualmente, por conta do monte de explicações que os personagens dão no gogó, pra ver se a coisa toda fica mais clara. Esse intrincado do enredo não é complexidade. É um simulacro de complexidade.
ResponderExcluirNão acho nada de errado em se curtir o filme, como espectador comum. O duro é aguentar elogios rasgados da crítica especializada, trabalhando pra inflar expectativas. Daí que me fez esperar algo mais... onírico. Foi por aí, na ligação sonho/poesia/cinema, a crítica que fiz no meu espacinho. ;)
O ritmo do filme é mesmo muito bem trabalhado, dentro do que se propõe, Wally! Parabéns para a montagem!
ResponderExcluirA situação toda é essa mesmo, Malva! Triste...