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segunda-feira, setembro 08, 2008

Ainda Orangotangos


É preciso uma boa justificativa para se rodar um filme inteiro de longa metragem num único plano-seqüência. Aliás, para qualquer escolha estilística é necessária uma boa razão. Ao entrar para assistir a Ainda Orangotangos (Brasil, 2007), estava preparado para enfrentar mais um virtuosismo frívolo de filme “experimental”, se fosse este o caso. Respiremos aliviados: não é. O filme tem propósito, ainda que seu propósito seja a absoluta falta de propósito. Mas é aí que justamente podem começar os problemas. Parafraseando algum poeta modernista – ou algum professor – é preciso mais disciplina para se criarem versos livres do que para se compor sonetos decassílabos sáficos. A questão é: o equilíbrio paradoxal (ótimo conceito) entre o ultra-real e o surreal não ficou muito bem acertado em Ainda Orangotangos.

É claro que estamos falando de algo extremamente raro de se buscar e mais raro ainda de se alcançar; logo, é mais saudável aqui congratularmos a produção pelo que ela conseguiu de fato fazer – ainda mais se pensarmos no estado atual do cinema brasileiro, incluindo “experiências” absolutamente frustradas como Durval Discos (2002). Pelo que ouvi, Olho de Boi (2008) também é carregado daquelas boas intenções – e apenas isso – das quais o inferno já está cheio; enfim, ainda preciso conferir por mim mesmo. Quanto ao filme de estréia de Gustavo Spolidoro, tenhamos mais condescendência. A experiência é bastante válida, ainda mais se considerarmos que se trata de uma produção digital com ares caseiros: não é preciso dispor de milhões para se fazer bom (e grande) cinema, a criatividade ainda é o que mais conta.

Ainda Orangotangos é um daqueles filmes que nos dão vontade de fazer filmes. Este é o melhor elogio que se lhe pode fazer. Mas, como eu estava dizendo, a fita parece querer mostrar o ultra-real tão “ultra” que chega às raias do surreal. Realismo mágico? Não tanto. O surreal está mais aqui para uma atmosfera sutil muito nas entrelinhas. A não ser, é claro, na cena do pesadelo da mulher surda: a passagem da realidade ao sonho, e deste de volta a ela, foi realizada com grande expressividade através do plano-seqüência, causando magnificamente no espectador aquele estranhamento e, em seguida, a angústia e ansiedade de algo que não parece real, mas é; ou algo que é real, mas não parece – eis a dúvida assombrosa que caracteriza os sonhos.

O ultra-realismo de um filme sem foco narrativo pode ser associado à velha nova idéia da fragmentação do sujeito – conseqüentemente da narrativa – no mundo pós-moderno, urbano, pós-industrializado, etc. Sei que essa discussão toda é muito moderna, avançada, coisa e tal, mas tá. E aí? Particularmente, eu preferiria ver uma película que fosse mais do que uma versão “mundo cão” do velho ideal de Cesare Zavattini. Mas estou sendo chato. Obras de vanguarda não precisam ser obras-primas acabadas (entendendo-se vanguarda aqui como os usos do cinema digital). Enquanto pesquisa, ou “brincadeira” vanguardista, está tudo ótimo. Verdadeiramente.

De qualquer maneira, para que o efeito de surreal ficasse mais forte, o filme poderia ter investido um pouco mais no real: ou seja, no aspecto dramático da experiência das personagens. A primeira “cena” (a do japonês) é bastante promissora, no sentido de revelar com humanismo os absurdos banais e sutis arbitrariedades do cotidiano urbano. Mas o resto do filme vai descambando gradativamente para o caricato (praga tragicômica do nosso cinema), até a engraçada, mas sofrivelmente bobinha, última “cena”. O uso do plano-seqüência destaca o aspecto fenomenológico do “vivido”, da “intencionalidade” em uma sociedade completamente reificada, mas tais vividos – se não são tão pueris como nos filmes de Cláudio Assis – também estão aquém de algo profundamente convincente. Mais um filme “chocante”. Próximo.

2 comentários:

  1. Sim, talvez eu (que já assisti o filme) até concorde contigo depois de um parada para avalição e reflexão.
    Mas desde já percebi que tu não soube articular descentemente as tuas idéias no texto.
    Faz rodeios, anteve o que vai falar adiante, entre outros que agora me dá preguiça de citar.
    Fez uma bagunça misturada neste texto, que foi o primeiro e único que li no blog.
    Nada pessoal, só um aviso.
    Até, talvez.

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  2. Ora, moça, não tenha preguiça de citar não, por favor. Quero entender bem a crítica que você faz para, se for pertinente, eu poder corrigir e melhorar meu texto. De qualquer maneira, obrigado por avisar.

    Ah, e aproveito também para fazer um aviso: as ortografias corretas são "decentemente" e "anteviu", sem contar que a forma correta do verbo "ir" na oração que você usou é: "anteviu o que iria falar adiante".

    Mas nada pessoal também. Volte sempre!

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