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terça-feira, maio 13, 2008

Um Sopro de Vida

O Carnaval dos Arlequins, de Joán Miró
Eis uma pérola da arte literária:

“Um dia desses vi sobre a mesa uma talhada de melancia. E, assim sobre a mesa nua, parecia o riso de um louco (não sei explicar melhor). Não fosse a resignação a um mundo que me obriga a ser sensata, como eu gritaria de susto às alegres monstruosidades pré-históricas da terra. Só um infante não se espanta: também ele é uma alegre monstruosidade que se repete desde o começo da história do homem. Só depois é que vêm o medo, o apaziguamento do medo, a negação do medo – a civilização enfim. Enquanto isso, sobre a mesa nua, a talhada gritante de melancia vermelha. Sou grata a meus olhos que ainda se espantem tanto. Ainda verei muitas coisas. Para falar verdade, mesmo sem melancia, uma mesa nua também é algo para se ver.” Clarice Lispector, Um Sopro de Vida

É a experiência sensível em contato direto com o mundo concreto, aquém ou além de qualquer racionalização ou abstração conceitual. É simplesmente a melancia e tudo o que ela desperta de mais profundo em nós, o que também faz parte da melancia. Os efeitos subjetivos que ela exerce em nós são também seus atributos objetivos. É todo o peso do objeto vivido, mergulhados que estamos no útero da realidade. A grande arte não busca comunicar coisa alguma. A grande arte, grande Literatura e grande Cinema, busca apenas expressar... Expressar essas coisas, assim.

2 comentários:

  1. Saudações, André!

    Gostei da surpresa de encontrar uma postagem predominantemente literária no teu blog. Boa referência, irmão...

    Só para confirmar, enviei-te um convite nos judeuserrantes de yahoo e gmail. Se não recebeu por favor me escreva por e-mail.

    Abreijo na texta
    Davis

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  2. Recebi sim, Aleph! Valeu pela preferência! Não tenho escrito ultimamente, assim, não sei se eu teria muito a acrescentar para o projeto... Mas valeu! Abraços!

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