Be Kind Rewind (EUA, 2008, dir.: Michel Gondry) aponta carinhosamente para duas direções simultâneas: o passado e o futuro. O filme homenageia, por um lado, os pioneiros do Cinema, que não precisaram de nada mais do que da imaginação criativa para realizarem as primeiras obras de uma nova arte. É um cinema feito na base do improviso, da intuição e da experimentação. Um cinema espontâneo, não à toa com grande apelo popular. Um cinema de painéis pintados à guisa de cenário, na falta de outra tecnologia. Neste aspecto, algumas imagens de Be Kind Rewind emulam as façanhas de G. A. Smith, Ferdinand Zecca e Georges Méliès. Por um outro lado, Michel Gondry homenageia o “novo” cinema da era do Youtube, os “fan films”, recriações, refilmagens e remontagens caseiras de grandes e míticos sucessos da Sétima Arte.
Também este é um cinema de improviso, intuição, experimentação e espontaneidade. Mas engana-se quem pensar que é um cinema feito sem um rigoroso critério, e sobretudo sem paixão. Esses novos pioneiros resgatam a função coletiva dos filmes, realmente popular. Também é um cinema de cenários pintados à mão, mas por falta de capital para comprar outras tecnologias. Promove-se assim o resgate da relação íntima dos indivíduos com os filmes, enfatiza-se o poder do cinema de transformar a vida das pessoas; um poder e uma relação que andavam esgotados, senão completamente erradicados pelo cinema da indústria contemporânea. Não vou fazer sinopse alguma do enredo, o gostoso aqui é ir descobrindo o filme ponto a ponto, conforme se vai assistindo a ele.
Mas algo que se pode citar e que é extremamente interessante é a proposta dos personagens de se reduzirem (e simplificar) todos os gêneros cinematográficos a duas categorias: 1. ação / aventura; 2. comédia. É preciso mais do que isso, quando se pensa na função fenomenológica do cinema? Todo o escopo da experiência humana se alinha necessariamente ao longo de uma escala com duas pontas: a tragédia e a comédia, como os gregos antigos já sabiam. Que experiência com a qual o indivíduo possa realmente se identificar poderá ser fornecida por um “blockbuster” de 200 milhões de dólares? De que maneira as pessoas podem efetivamente participar de uma fita “cult” franco-alemã-iraniana-taiwanesa? Assim, Be Kind Rewind, à sua própria e bastante peculiar maneira, promove a tomada do cinema pelo povo e para o povo.
E o que é melhor: numa chave que não tem nada da ideologia que a sentença anterior pode sugerir. A condescendência e a ingenuidade de Gondry para com as pessoas comuns é singela, bela, quase edificante em sua naturalidade. Longa vida aos filmes toscos! Aos filmes realmente poéticos! Be Kind Rewind é um daqueles filmes que nos despertam e ensinam a fazer cinema. Na tentativa do cinema atual de sobreviver à pirataria, às novas mídias e a outras formas de entretenimento, poderíamos colocar este filme em uma das duas tendências que costumo discutir: que é a do cinema caseiro (mas neste caso, não necessariamente com uma “filmagem inconsciente” – vide a postagem referente a Cloverfield). É o cinema que retorna às pessoas comuns, para fazer com que elas continuem se interessando por cinema.
É claro que esta tendência encontra suas melhores realizações – em todos os sentidos, inclusive no artístico – no cinema efetivamente popular, o cinema de Youtube e similares. E é claro também que haverá o estúpido embate dos donos do “cinemão” contra essas formas de “pirataria”, que estariam “matando” o Cinema... Quanto a mim, não consigo imaginar um melhor (re)nascimento para a Sétima Arte. Tudo isso é mostrado e discutido muito bem em Be Kind Rewind. Ademais, a fita nova de Gondry apresenta uma ótima surpresa: a ótima atuação do rapper e ator Mos Def. Ele é realmente bom. Promissor. Já Jack Black é sempre Jack Black, gostemos dele ou não... Danny Glover, por sua vez, continua mostrando que é um grande artista (merecedor de mais “óscares”), apesar de andar meio esquecido.
O filme anterior de Gondry (The Science Of Sleep, 2006) nunca chegou a estrear no circuito comercial brasileiro. Quanto a este Be Kind Rewind, finalmente saiu (no IMDB) a data de estréia por aqui: 03 de outubro de 2008. Com certeza, verei de novo. Em alguns casos, a tela grande na sala escura é indispensável. É muito interessante o site oficial do filme – o como que Jerry e Mike “sweded” a Internet!... Também estão lá todos os filmes “sweded” (Ghostbusters, Robocop, etc), até o trailer do próprio Be Kind Rewind foi devidamente “sweded”!
http://www.bekindmovie.com/
Não há nada que substitua a imaginação!
Também este é um cinema de improviso, intuição, experimentação e espontaneidade. Mas engana-se quem pensar que é um cinema feito sem um rigoroso critério, e sobretudo sem paixão. Esses novos pioneiros resgatam a função coletiva dos filmes, realmente popular. Também é um cinema de cenários pintados à mão, mas por falta de capital para comprar outras tecnologias. Promove-se assim o resgate da relação íntima dos indivíduos com os filmes, enfatiza-se o poder do cinema de transformar a vida das pessoas; um poder e uma relação que andavam esgotados, senão completamente erradicados pelo cinema da indústria contemporânea. Não vou fazer sinopse alguma do enredo, o gostoso aqui é ir descobrindo o filme ponto a ponto, conforme se vai assistindo a ele.
Mas algo que se pode citar e que é extremamente interessante é a proposta dos personagens de se reduzirem (e simplificar) todos os gêneros cinematográficos a duas categorias: 1. ação / aventura; 2. comédia. É preciso mais do que isso, quando se pensa na função fenomenológica do cinema? Todo o escopo da experiência humana se alinha necessariamente ao longo de uma escala com duas pontas: a tragédia e a comédia, como os gregos antigos já sabiam. Que experiência com a qual o indivíduo possa realmente se identificar poderá ser fornecida por um “blockbuster” de 200 milhões de dólares? De que maneira as pessoas podem efetivamente participar de uma fita “cult” franco-alemã-iraniana-taiwanesa? Assim, Be Kind Rewind, à sua própria e bastante peculiar maneira, promove a tomada do cinema pelo povo e para o povo.
E o que é melhor: numa chave que não tem nada da ideologia que a sentença anterior pode sugerir. A condescendência e a ingenuidade de Gondry para com as pessoas comuns é singela, bela, quase edificante em sua naturalidade. Longa vida aos filmes toscos! Aos filmes realmente poéticos! Be Kind Rewind é um daqueles filmes que nos despertam e ensinam a fazer cinema. Na tentativa do cinema atual de sobreviver à pirataria, às novas mídias e a outras formas de entretenimento, poderíamos colocar este filme em uma das duas tendências que costumo discutir: que é a do cinema caseiro (mas neste caso, não necessariamente com uma “filmagem inconsciente” – vide a postagem referente a Cloverfield). É o cinema que retorna às pessoas comuns, para fazer com que elas continuem se interessando por cinema.
É claro que esta tendência encontra suas melhores realizações – em todos os sentidos, inclusive no artístico – no cinema efetivamente popular, o cinema de Youtube e similares. E é claro também que haverá o estúpido embate dos donos do “cinemão” contra essas formas de “pirataria”, que estariam “matando” o Cinema... Quanto a mim, não consigo imaginar um melhor (re)nascimento para a Sétima Arte. Tudo isso é mostrado e discutido muito bem em Be Kind Rewind. Ademais, a fita nova de Gondry apresenta uma ótima surpresa: a ótima atuação do rapper e ator Mos Def. Ele é realmente bom. Promissor. Já Jack Black é sempre Jack Black, gostemos dele ou não... Danny Glover, por sua vez, continua mostrando que é um grande artista (merecedor de mais “óscares”), apesar de andar meio esquecido.
O filme anterior de Gondry (The Science Of Sleep, 2006) nunca chegou a estrear no circuito comercial brasileiro. Quanto a este Be Kind Rewind, finalmente saiu (no IMDB) a data de estréia por aqui: 03 de outubro de 2008. Com certeza, verei de novo. Em alguns casos, a tela grande na sala escura é indispensável. É muito interessante o site oficial do filme – o como que Jerry e Mike “sweded” a Internet!... Também estão lá todos os filmes “sweded” (Ghostbusters, Robocop, etc), até o trailer do próprio Be Kind Rewind foi devidamente “sweded”!
http://www.bekindmovie.com/
Não há nada que substitua a imaginação!